[Resumo da Rodada] Raptors vence a maldição; Warriors e Heat passeiam

Jogo 7 em Toronto era dia de tensão para qualquer um que tivesse apreço pelo Raptors – ou por uma boa história. Nunca tendo vencido uma série de Playoffs em 7 jogos antes, vindo de duas eliminações traumáticas e tendo perdido seu primeiro jogo da série em casa, o Raptors TINHA QUE VENCER para não afundar numa maldição de chorar na calçada, mas para isso teria que vencer seu psicológico abalado, o medo de perder maior do que a vontade de ganhar, e a vontade do Pacers de estragar a festinha dos favoritos.

Fiquei nervoso com o Rockets nesses Playoffs? Claro. Mas não chegou NEM PERTO do meu grau de pânico, envolvimento e desespero com o Raptors nesse Jogo 7. Eles são um time bom, com um recorde incrível nessa temporada, uma cidade que os ama de paixão, uma história legal de terem entrado na elite da Liga depois de perder seu jogador mais importante, e por conta de tudo isso mereciam não só a vitória, mas também o direito de não serem HUMILHADOS perdendo para um sétimo colocado no Leste dentro de casa na frente de sua torcida horrorizada.

Por isso, cada posse de bola foi um pesadelo. Em parte porque a possibilidade de derrota nunca desapareceu por completo, mesmo quando o Raptors chegou a estar 16 pontos na frente no terceiro período, mas em parte também porque foi uma posse de bola MEDONHA atrás da outra. Tentando compensar o desastre tático que foi essa série e o nervosismo de decidir em casa usando muita agressividade e defesa forte, o Raptors rendeu uma partida estabanada, cheia de erros, de cabeçadas e de posses de bola INFINITAS, que duravam longos minutos porque o cronômetro era retomado a cada falta e a cada rebote ofensivo. Especialmente no final do jogo, algumas posses de bola duraram quase dois minutos e NADA acontecia durante elas. Nossos olhos sangraram, mas a tensão da partida os lavaram com lágrimas. Mesmo jogando terrivelmente mal, o Raptors não podia perder.

O primeiro tempo foi bastante disputado, com ambos os times executando um pouco melhor e ficando bem próximos no placar. DeMare DeRozan continuou tentando tomar decisões antes da defesa chegar, e continuou encontrando espaços eventuais e cometendo muitos erros no processo. Paul George continuou sofrendo – especialmente de cansaço – com a marcação rigorosa individual. E Valanciunas, ao menos para mim, continuou a ser o elemento mais frágil em quadra: quando ele está jogando, é anulado no ataque pela força física dos adversários e na defesa é bloqueado por qualquer corta-luz, o que abre corredores em direção à cesta. Mas quando ele não está jogando, o Raptors perde em rebotes de ataque e Myles Turner e Ian Mahinmi tem espaço demais no garrafão ofensivo.

Depois de ceder dois corredores seguidos para infiltrações de Paul George – que em geral pode escolher entre infiltrar ou passar no meio do caminho para Mahinmi quando o pivô do Raptors está em quadra – Valanciunas ainda teve momentos no ataque em que não acertava um mísero tapinha e nem conseguia segurar a bola com as mãos quando recebia um passe. Um desastre completo e eventualmente o técnico Dwane Casey abriu mão dele e apostou num Raptors mais baixo. Não foi solução pra muita coisa, mas deu mais espaço para Patrick Patterson (que converteu 3 bolas de três pontos) e o novato Norman Powell, que fez um trabalho sensacional marcando Paul George e ainda meteu seus arremessos, acertando 5 das suas 6 tentativas, incluindo 3 das 4 bolas de três pontos que tentou. Às vezes acontece isso: o time está todo desesperado porque tem noção do seu histórico, dos fracassos anteriores, da Maldição, do peso da derrota, da cobrança futura, e aí aparece um novato qualquer que NÃO FAZ IDEIA do que está acontecendo e justamente por estar mergulhado em sua ignorância acaba arremessando como se fosse um dia da semana qualquer. Cory Joseph, com a frieza de quem já passou algum tempo ao redor de Tim Duncan, também ajudou a colocar ordem na casa e tornar o Raptors minimamente mais eficiente, o que levou a uma vantagem de 10 pontos no meio do quarto período.

O problema é que o Pacers realmente encaixou a defesa – com os pivôs cobrindo qualquer corta-luz, e garantindo que nunca há espaço em direção à cesta – e DeRozan insistia em se jogar em cima dos adversários, tendo que forçar arremessos de média distância que não entram nunca. O Raptors até tem jogadas interessantes, mas quando as jogadas quebram – por conta da defesa ousada do Pacers – o time não tem A MENOR NOÇÃO do que fazer, é um desastre. Qualquer corta-luz dá errado e pronto, o Raptors já recomeça a jogada e espera o cronômetro estar quase estourando para uma bola forçada aleatória. Enquanto isso, o Pacers sofreu com a defesa individual, mas é que o Raptors confia tanto no mano-a-mano defensivo que não tem muita cobertura quando Mahinmi cria espaços para os outros jogarem. A diferença no placar foi diminuindo com o Raptors segurando a bola e torcendo pro cronômetro acabar e o Pacers cavando espaços na defesa adversária. Se fosse Libertadores, o Raptors tinha chutado a bola pra arquibancada e rezado pra torcida não devolver nunca mais.

Esse clima de “só quero que acabe” levou o Raptors a cometer erros absurdos, incluindo perder a posse em vezes consecutivas enquanto o armador estava só carregando a bola para o ataque, fruto da defesa pressionada do Pacers. Com o Raptors querendo enrolar e o Pacers querendo correr, ficou bem claro quem era a equipe mais forte e veloz em quadra, como deixou bem claro Solomon Hill:

Mas a equipe de Indiana, temos que confessar, parecia não querer ganhar também: Paul George roubou a bola e fez falta de ataque numa jogada simples de defesa um-contra-um; bateu a bola na própria perna rumo à linha de fundo num contra-ataque; e na jogada decisiva para encostar no placar no minuto final enviou uma ponte-aérea para Mahinmi quando o pivô não tinha estabelecido posição no garrafão ainda. Tá bom que Mahinmi sofreu uma falta não marcada, sendo empurrado pelo DeRozan no garrafão para que ele não alcançasse a bola, mas Paul George lançou o passe como se ele fosse óbvio num momento tenso, decisivo e que precisava de uma bola de segurança. Foi uma sequência de erros do Pacers quase equiparável à sequência de erros do Raptors.

Por fim o cronômetro zerou, o jogo acabou, e o Raptors conseguiu uma vantagem mirrada no placar. Foi horrível, sofrido e lembrou apenas vagamente basquete, mas foi suficiente para que o Raptors não sofresse o peso de mais uma HUMILHAÇÃO sem precedentes. Ganhou? Ganhou. Mas fez a menor quantidade de pontos num quarto período de Jogo 7 na HISTÓRIA da NBA:

Há muita coisa que precisa ser vista para a próxima rodada: a equipe de Toronto não tem cabeça nos momentos cruciais, não tem criatividade de improvisar quando as jogadas quebram, Valanciunas é o elo mais fraco, e são a equipe que menos passa a bola em toda a NBA, sofrendo com ritmo de jogo lento e infiltrações manjadas. Com 30 pontos em 32 arremessos, DeRozan por muitas vezes atrapalhou mais do que ajudou, e foi o novato Norman Powell que esticou a quadra com suas bolas certeiras de fora. Ao fim do jogo, Paul George super FOFO foi o primeiro a admitir isso, parabenizando o novato e lembrando de quando esteve na mesma posição, sendo um calouro que tinha que marcar Derrick Rose:

CJ Miles não teve o mesmo ânimo de Paul George ao fim do jogo – não conseguiu sequer TIRAR O UNIFORME. Quando questionado, respondeu que “não tinha pra onde ir mesmo”. Pra gente lembrar que Toronto esquivou da tristeza, mas ela pegou INTEIRA no CJ Miles. A derrota pra eles foi doída porque sabiam – como todo mundo sabia – que eles poderiam ter vencido esse jogo.


O Raptors vai pegar de novo com mandro de quadra o Heat, que venceu seu Jogo 7 contra o Hornets. Ao contrário da partida em Toronto, a vitória do Heat foi melhor jogada e nada tensa – além de não rolar pressões externas, maldições e humilhações eminentes, até porque o Heat estar nessa posição já é meio que um milagre, o jogo foi tão fácil para o Heat que não deu nem pra esquentar a cabeça.

Basicamente o Hornets mudou a série quando conseguiu forçar um jogo de garrafão, mantendo sempre dois pivôs em quadra ao mesmo tempo. O que o Heat fez no Jogo 7 para incomodar essa estratégia foi aumentar a velocidade do jogo, colocar Goran Dragic pra correr e infiltrar com os pivôs adversários fora de posição, e defender com força total no garrafão para forçar o Hornets a mudar o quinteto titular ou arremessar com seus pivôs ou Marvin Williams, gelado como o Canadá. A pressão defensiva no garrafão e o jogo físico de Whiteside, Deng e Dwyane Wade forçaram Frank Kaminsky a usar o espaço no perímetro para arremessar. Um par de bolas de três pontos convertidas depois, ficou bem claro que ele estar fora do garrafão era melhor para o Heat. Sua tentativa de se aproximar da cesta para lutar por rebotes ofensivos foi um desastre, levou a arremessos forçados de meia distância e colocou o Heat em situação para dominar os rebotes defensivos e forçar contra-ataques. Kaminsky acabou o jogo com 3 arremessos convertidos em 15 tentados, e Al Jefferson só conseguiu 4 pontos sofrendo marcação dupla constante. Perdendo a disputa no garrafão, o Hornets teve que no segundo quarto abrir mão dessa estratégia e voltar ao jogo mais baixo de perímetro – aquele jogo que o Heat já havia DESTRUÍDO nas duas primeiras partidas. Foi simples assim: o Hornets desistiu do garrafão, o jogo terminou. Hassan Whiteside passou a dominar embaixo do aro e o pick-and-roll dele com Dragic voltou a funcionar. No terceiro quarto, Al Jefferson passou a tentar arremessos de média distância para evitar marcação dupla e errou tudo; seu pick-and-roll com Kemba Walker ocorria sempre muito próximo ao garrafão para tentar colocá-lo numa situação melhor do que esses arremessos de média distância e o resultado é que Walker saía do corta-luz muito próximo à cesta, com Whiteside só precisando esticar o braço para dar um toco certeiro. Foram 4 tocos do Whiteside só nesse período, que deu toco em tudo quanto é tipo de bola – segundo ele próprio, só não bloqueou a coletiva de imprensa porque gosta dos jornalistas. Quando sua defesa dá certo ele transforma jogos, é verdade, mas não tem como transformar o fato de que ele se acha a última bolacha do pacote.

Com ajuda do Whiteside a diferença de placar esticou demais, Dragic começou a fazer pick-and-rolls até com Joe Johnson e aí Dwyane Wade conseguiu ficar só olhando. A diferença no placar já era de 30 pontos ao fim do terceiro período. Só um Kemba Walker inspirado poderia ter evitado o vexame, mas os arremessos não caíram e Whiteside dominou o aro impedindo infiltrações. Com 3 arremessos certos em 16 tentados, não tinha jeito. O Heat passeou e agora vai testar o psicológico do Raptors lá em Toronto. Se roubar algum jogo lá, podemos esperar o Raptors tremendo, claro.


Na partida que inaugurou as semi-finais, o Warriors pegou o Blazers sem Stephen Curry, ainda fora pela lesão no joelho. Ainda assim, o placar razoavelmente próximo engana: o jogo foi bem mais fácil para o Warriors do que parece. Klay Thompson assumiu o lugar de Curry na movimentação ofensiva e Shaun Livingston garantiu a rotação da bola e os corta-luzes constantes para Klay arremessar – corta-luz que Curry também faz com maestria, mas que Livingston faz ainda melhor por conta do seu tamanho elevado. Foram 37 pontos para Klay, 7 bolas de três pontos convertidas em 14 tentadas, incluindo uma bem pra trás da linha de três que deixaria Curry orgulhoso. Quando ele arremessa assim, é o melhor arremessador do planeta, de modo que Curry faz pouquíssima falta. Aliando esse poder ofensivo com a já tradicional defesa do Warriors, que parece dar espaço para os adversários e aí bloqueia de repente as linhas de passe, o Warriors abriu 20 pontos de vantagem já no fim do primeiro quarto.

O Blazers começou a questionar até os passes mais simples e óbvios porque o Warriors bloqueava a rota da bola e criava contra-ataques fulminantes. Isso entra na cabeça de qualquer equipe e leva a arremessos forçados, com menos passes, que Draymond Green fez questão de transformar em rebotes defensivos, correria para o outro lado da quadra e bolas fáceis antes da defesa do Blazers chegar. Mason Plumlee, parte fundamental das vitórias em cima do Clippers, não conseguiu acompanhar a correria, sofreu com Draymond Green, e o técnico Steve Kerr optou por utilizar Anderson Varejão ao invés de Marreese Speights para povoar o garrafão e não perder a disputa de rebotes. O plano deu muito certo, Varejão jogou bem demais, tirou o garrafão do Blazers do jogo, e eventualmente tirou ELE PRÓPRIO do jogo sendo expulso por essa treta-capoeira com o Gerald Henderson, que foi expulso também:

O garrafão do Blazers implodiu na defesa também, com Klay Thompson fazendo corta-luz para Bogut receber um par de bolas muito fáceis embaixo da cesta. TirandoDamian Lillard que acertou 8 de 26 arremessos e CJ McCollum que acertou 5 de 17, ambos tendo que forçar jogadas individuais, o único que conseguiu participar ativamente do ataque foi Al-Farouq Aminu, que deveria estar em quadra para defender mas foi quem sobrou para arremessar do perímetro constantemente. Suas 3 bolinhas de três ajudaram o Blazers a não deixar o placar esticar demais.

O único motivo para esse jogo não ter sido um passeio COMPLETO foi que o banco do Warriors sofreu DEMAIS quando entrou para jogar junto. Em geral, quem assume o segundo escalão é Shaun Livingston, que está no time titular. Draymond Green, que também arma o jogo mesmo sendo pivô, não joga com o segundo escalão nessa rotação. Então sobrou para Leandrinho e Ian Clark, o que não funcionou. Especialmente porque Ed Davis e Allen Crabble são uma potência vindos do banco pelo Blazers, foram cruciais contra o Clippers e diminuíram a vantagem do Warriors ontem. Mas não foram suficientes quando os titulares do Warriors voltavam para a quadra, claro. Draymond Green conseguiu um triple-double (23 pontos, 13 rebotes e 11 assistências, além de 1 roubo e 3 tocos) e organizou o ataque e a defesa de maneira impecável. Até agora, o Warriors fez 80 pontos A MAIS do que tomou nos 84 minutos que jogou desde que Curry saiu machucado.

Por enquanto, Curry não faz falta nenhuma, a não ser pela atrapalhada que acaba dando indiretamente na rotação do banco de reservas. Se Klay Thompson continuar arremessando até a mãe, o Blazers não tem muita chance. Em Portland o time arremessa bem melhor e talvez consiga alguma surpresa, mas vai ter que lidar com os arremessos do adversário, o que é tarefa bem mais difícil.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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