É claro que a série mais feia e arrastada desta segunda rodada, aquela entre Miami Heat e Toronto Raptors, é a única que vai nos presentear com um Jogo 7. Mas, quer saber? Se o jogo for parecido com este Jogo 6 vencido pelo Heat, por mim tudo bem! Depois de 5 partidas disputadas e arrastadas, justo essa, a com placar mais elástico, foi, DE LONGE, a mais bem jogada de todas. Será que agora embalam?
Não apostaria nisso, otimismo não é por aqui, mas foi legal ver os times mostrando mais do seus lados bons nesse jogo. Durante a partida pensei em alguns motivos para a evolução do confronto e cheguei a três: (1) talento, afinal os caras são bons e uma hora tinham que jogar bola; (2) urgência, a água já passou da bunda e está no pescoço, quem não joga bem não vê mais a quadra, como Luís Scola e (3) consciência, acho que agora os dois times já passaram a parte dos ajustes táticos, já superaram as lesões de Jonas Valanciunas e Hassan Whiteside e entraram em quadra sabendo o que fazer.
Este terceiro item é o mais importante e é a principal razão da vitória do Heat. Eles entraram com o ala Justise Winslow como pivô e não abriram mão do small ball ao longo de todo o jogo. O mais próximo de um pivô real em quadra aconteceu quando Josh McRoberts ficou em quadra por 18 minutos. E McRoberts, como bem sabemos, é um ala da posição 4, que gosta de operar fora do garrafão e até chuta de longe eventualmente. É surreal pensar que esse time que começou a temporada apostando no gigante Whiteside e na versatilidade de Chris Bosh no garrafão entra no seu jogo mais importante do ano com um NOVATO de só 2 metros de altura para tomar conta da área pintada. Só em um time que mistura falta de opção e nenhum medo do técnico em perder seu emprego para isso acontecer.
Os riscos de se jogar sem ninguém como pivô são conhecidos por todos mas, como nos ensinou o Golden State Warriors, contornáveis se você tiver o elenco certo para isso. O risco mais óbvio é o de não ter uma força intimidadora dentro do garrafão, alguém que faça o adversário pensar duas vezes antes de bater para dentro. Vimos isso logo na primeira cesta do Raptors no jogo, quando Kyle Lowry passa por Joe Johnson e Winslow, preocupado em impedir Bismack Biyombo de atacar o rebote, não faz nada.
O Raptors teve essa mentalidade o jogo inteiro e por isso que 51 dos 84 arremessos que tentaram ao longo da partida foram logo em volta do aro (bandejas, enterradas e afins) ou logo em torno dele.
O aproveitamento do Raptors, como mostra o simpático e ~user friendly~ sistema de cores da NBA.com, ficou dentro da média da NBA para os arremessos em volta do aro. O ideal seria deixar no vermelho, mas dá pra criticar um time sem qualquer especialista em proteger o aro por segurar o adversário em sua média? O Heat conseguiu segurar o Raptors com muita vontade e talento individual bruto. Sabendo que não tinha nenhum irmão mais velho para proteger lá atrás, todos os armadores e alas do Heat fizeram questão de voltar para contestar cada bandeja do Raptors. Às vezes era o próprio cara batido no drible que se recuperava, às vezes era o responsável por outro jogador que ia lá atrapalhar.
A jogada abaixo mostra como Josh Richardson, um dos melhores do Heat no jogo, sem a ajuda de ninguém, se recupera de uma finta de Lowry para dar um dos tocos mais bonitos da noite. Um dos SEIS tocos que o time deu na partida, uma a mais que o Raptors, que passou o jogo inteiro com um pivô em quadra, seja Bismack Biyombo, Jason Thompson ou Lucas Bebê
Outro lance mostra como Joe Johnson, com excelente defesa de perímetro e uma ajuda na dobra de marcação de Luol Deng, força DeMar DeRozan a abortar uma infiltração e acabar andando com a bola:
Com o aro protegido de infiltrações com tocos e com defesa forte de perímetro, um segundo risco de jogar baixo é apanhar nos rebotes. Seja não conseguindo rebotes de ataque, seja cedendo segundas oportunidades de pontuar ao adversário. Não vimos nada disso com o Heat, porém. Eles pegaram 7 rebotes de ataque contra 8 do Raptors, pegaram 34 de defesa contra 35 do time canadense.
O lance abaixo mostra como o rebote também pode, e deve, ser um trabalho coletivo, especialmente em situações assim. Justise Winslow está inteiramente focado em não deixar Bismack Biyombo ter espaço para pular e pegar o rebote, e usa todas as suas forças para apenas tirar a bola do alcance do pivô do Raptors. É preciso mais gente, nesse caso foi Wade, para finalizar o rebote.
Com a defesa funcionando a todo vapor com o time baixo, é hora de tirar proveito dele no ataque, algo que o Heat definitivamente não conseguiu ao longo dessa série. Jogar baixo é sinônimos de ter jogadores mais rápidos para puxar contra-ataques e, ao menos na teoria, mais gente qualificada para as bolas de 3 pontos. O Heat não brilhou tanto nos contra-ataques, não acertou taaantas bolas de longe assim (7 em 20 tentativas) e certamente continua sem passar tanto a bola como o técnico Erik Spoelstra gostaria. Maaas, apesar disso tudo, viram o Goran Dragic mais focado, agressivo, sem noção e agressivo desses Playoffs? Disse agressivo duas vezes? Foi de propósito.
O armador esloveno não sossegou durante toda a partida. Foi infiltração atrás de infiltração, arremesso na cara da defesa, sem hesitar. Lembrou a versão “Dragon Dragic” que o consagrou no Phoenix Suns há três temporadas. Ele marcou 30 pontos e até recebeu elogios de Wade após o jogo. A estrela do time, aliás, fez bem em ler que seu companheiro estava em modo imparável e deu a bola pra ele mais vezes que o normal, aceitando que nem sempre ele precisa estar no comando de tudo.
Esses melhores momentos reúnem uma série de arremessos sobre, sob ou ao redor de Biyombo. O plano era manter o pivô lá para segurar essas infiltrações e forçar o Heat a arremessar mais de longe, mas às vezes é o talento bruto que passa por cima da estratégia. Se o baixinho consegue pontuar sobre o cara gigante, o que fazer?
Durante o jogo fiquei confiante pelo Raptors. Mesmo perdendo, estavam conscientes do que faziam em quadra, o jogo estava pau a pau e eles estavam vendo, pela primeira vez em anos (ou algumas semanas? Playoff mexe com a gente) Lowry e DeRozan jogando bem no mesmo jogo! Os dois estavam agressivos e pontuando, como nos bons tempo de temporada regular. Faltava Valanciunas para complementar, assim como umas bolinhas de longe de DeMarre Carroll e Terrence Ross, mas estavam vivos.
Essa minha confiança, porém, virou farofa no último quarto. O time acertou apenas DOIS ARREMESSOS nos últimos NOVE MINUTOS de jogo. Eles pontuaram mais vezes porque Lowry cavou faltas e fez lances-livres, mas arremesso mesmo, apenas dois. Não importa se isso acontece nos primeiros ou últimos nove minutos de um jogo, como um time sobrevive numa série disputada dessa com esse desempenho medonho? O jogo foi bom, os dois times foram bem, mas essa DESPENCADA do Raptors nos últimos minutos nos lembram: ambos os times são capazes de tudo, do melhor ao PÉSSIMO. Domingo veremos QUALQUER COISA em quadra.
RODADA DO DIA
Sábado sem NBA!!!!!! =(
Mas domingo tem Miami Heat @ Toronto Raptors (16h30, SporTV)
RASHEED WALLACE DO DIA
Nós usamos um dos Princípios de Wallace como título da nossa seção de perguntas e respostas, é o Both Teams Played Hard. Mas talvez outra frase do folclórico Rasheed Wallace seja ainda mais famosa: Ball Don’t Lie, a bola não mente.
Ela era gritada para que todos ouvissem sempre que um jogador errava um lance-livre após uma jogada em que o Rasheed não acreditava ter existido uma infração. Era o karma basquetebolístico em sua essência:
Mas essa PRAGA dos números foi atrás de arruinar essa FILOSOFIA DE VIDA. O Wall Street Journal usou o relatório feito pela arbitragem da NBA sobre erros dos juízes nos últimos minutos de jogos disputados, divulgados sempre após essas partidas com a liga admitindo erros ou confirmando acertos, para medir o sucesso dos lances-livres cobrados após faltas comprovadamente mal marcadas.
O resultado é broxante: os jogadores que cobraram esses lances-livres somavam uma expectativa de 79,1% de acerto, na prática acertaram 78% dos arremessos. Ou seja, DÁ NA MESMA.
E você, acredita no DIVINO ou nos números?
SUOR NOS OLHOS DO DIA
O espetacular, lendário e histórico Jerry Sloan, ex-jogador do Chicago Bulls e ex-técnico do Utah Jazz deu sua primeira entrevista após ser diagnosticado com Doença de Parkinson e Lewy Body Dementia, uma doença associada ao Parkinson e que causa perda gradual de memória.
Nunca foi e nunca será fácil ver o envelhecimento daqueles que idolatramos um dia, seja membro da família, ídolo do esporte ou da música. Mas encaramos e seguimos jogando, vendo e escrevendo sobre tudo isso. É o que resta.