O Thunder entrou em quadra com uma sensação de urgência: se perdesse o Jogo 4 em casa, poderia ser a última vez que veria Durant jogando na cidade de Oklahoma, já que o Spurs poderia fechar a série em San Antonio e Durant pode procurar outros ares ao fim da temporada. Por outro lado, vencer o jogo empataria a série e deixaria o duelo entre as equipes oficialmente TERRA DE NINGUÉM. Mas como bem sabe o Toronto Raptors, senso de urgência nem sempre se transforma em qualidade dentro da quadra: o time entrou nervoso, Russell Wrestbrook continuou sendo agressivo e errou 4 dos 5 arremessos que tentou no primeiro quarto, o Spurs forçou vários turnovers e dominou o garrafão.
Foi só no segundo quarto, já 10 pontos atrás no placar, que o Thunder acordou. Em parte porque Westbrook percebeu que infiltrar não seria a coisa mais fácil do mundo e resolveu que iria colocar a bola nas mãos dos outros, principalmente Durant e – pasmem! – a dupla de garrafão Steven Adams e Enes Kanter. Adams se tornou subitamente uma força a ser temida no garrafão, atacando os rebotes ofensivos, vencendo os adversários na corrida e finalizando com autoridade os passes que recebe por cima da marcação. Tentando se livrar do Steven Adams na busca pelo rebote ofensivo, essencial para o Thunder porque ele é o TIME DA TIJOLADA, o Spurs chegou ao absurdo de colocar QUATRO jogadores no box out do Adams, que é o ato de “trancar” o pivô para fora do garrafão para que ele não alcance os rebotes. No ataque, o corta-luz de Adams com Westbrook machucou a forte defesa do Spurs simplesmente porque, mesmo que não pareça, Westbrook é inteligente demais para ler o jogo: ele sabe usar os espaços do corta-luz mas também acionar Adams logo após o corta, antes que a defesa do Spurs possa rotacionar, e também foi esperto de passar para o Adams ANTES do corta-luz, num pick-and-roll falso que rendeu enterradas fáceis para o pivô. Além disso, sabendo que Westbrook vai SEMPRE atacar a cesta, a defesa do Spurs está sempre preparada para contestá-lo, e aí o armador passou a acionar Adams com passes picados no meio das infiltrações. Ainda que Westbrook precise atacar a cesta às vezes mais rápido do que é saudável para quem quer acertar a cesta só para manter a defesa com medo dele, o armador do Thunder poucas vezes esteve tão focado em usar esse respeito da defesa para colocar a bola nas mãos do resto da equipe. Kevin Durant também teve a mesma estratégia em seus ataques eventuais à cesta. Basta ver como Durant tem, na jogada abaixo, três marcadores em cima dele e mais o Parker na cobertura, o que gera um passe simples para Adams enterrar.
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Steven Adams acabou entrando um pouco na cabeça do Spurs nesse processo. David West ficou cansado de lutar com ele por rebotes e uma hora lhe deu um empurrão aleatório sem a bola; Duncan chegou atrasado algumas vezes e acabou cometendo sua quarta falta ainda no começo do segundo quarto, nem voltando mais para o jogo depois disso. Além disso, a defesa do Adams atrapalhou muito o LaMarcus Aldridge, que foi forçado a receber bolas mais longe do garrafão e teve mais dificuldade em receber passes. Adams chegou ao nível de CHUTAR passes para Aldridge, nível goleiro de futsal, só pro adversário não participar da jogada.
A atenção que o Spurs teve que dar para o Steven Adams e a vontade de Westbrook e Durant de escapar da defesa do Spurs – e do fato de que ela nunca comete faltas nas infiltrações – passando para os companheiros permitiu que o Thunder tivesse mais contribuição do resto da equipe. Dion Waiters acertou um par de bolas de três pontos e teve mais espaço para atacar a cesta, Enes Kanter teve espaço para pegar rebotes ofensivos e transformar lixo em cestas, e até Randy Foye – que foi ressuscitado porque finalmente perceberam que Cameron Payne é CRU DEMAIS para estar jogando nos Playoffs – acertou alguns arremessos cruciais nos poucos minutos em que esteve em quadra. Poucas vezes o Thunder pareceu tanto um time de basquete, o que é, ao menos pra quem gosta de basquete, um ótimo sinal.
No segundo quarto, com mais Adams, um Thunder mais coletivo e uma defesa individual inspirada – não apenas Waiters teve outra partida espetacular na defesa, mas também vimos um Durant inteiramente comprometido a marcar os adversários – o jogo se transformou. O Spurs cometeu 6 turnovers contra apenas 1 do Thunder, e o ritmo correria do Spurs para tentar pegar a defesa adversária desprevenida levou a equipe a errar arremessos livres, incluindo todas as bolas de três pontos tentadas no primeiro tempo. Mas o Spurs ainda é o Spurs, então quando tudo se encaixa, não há resposta possível: no primeiro quarto, fizeram uma sequência de 15 pontos a 6 nos últimos dois minutos, com bons arremessos e defesa impecável; no segundo quarto, foram 9 pontos a zero nos dois minutos finais, depois de ter perdido a vantagem no placar, para acabar o primeiro tempo vencendo por oito pontos.
O segundo tempo viu um Spurs mais dedicado na defesa, com Popovich gritando “apenas não faça faltas” em alto e bom som várias vezes, e Kawhi Leonard interceptando um passe impossível num contra-ataque e depois conseguindo o roubo mais bizarro da partida com A GARRA, aquela coisa gigante que ainda insistem erroneamente em chamar de mão:
No ataque, que teve dificuldade de colocar LaMarcus Aldridge num ritmo decente graças à forte marcação, as coisas melhoraram muito quando Tony Parker assumiu a responsabilidade de pontuar. O armador francês já comentou que toca bem menos na bola hoje em dia e que com isso sente muita dificuldade de encontrar uma consistência nos arremessos, mas na noite de ontem ele deixou isso pra lá e resolveu simplesmente arremessar. Não é de agora que o Thunder, focado na proteção do garrafão e na defesa individual pontual no perímetro, deixa um espaço bizarro na cabeça do garrafão que chamo de “bolsão” e que Parker sabe muito bem usar para ter espaço para arremessos, às vezes até mesmo ignorando o corta-luz para poder usá-lo. Parker destruiu dali, e quando começaram a contestá-lo, ele passou a infiltrar e usar o espaço gerado por essa defesa de cobertura que teve que deixar sua posição original. Parker foi o cestinha da equipe com 22 pontos, desencanou da linha de três e criou um inferno com esses arremessos de média distância que permitiram que ele pudesse infiltrar. Esse “bolsão” foi criando espaço para outros jogadores atacarem a cesta, culminando no Kawhi Leonard se vingando do Steven Adams com essa enterrada na fuça, digo, no bigode:
O que o Tony Parker fez na cabeça do garrafão, Boris Diaw tentou fazer embaixo do aro. Perdendo o duelo para Steven Adams e Enes Kanter, o Spurs apostou na “malemolência” de Diaw para pontuar em cima dos dois. Com seus movimentos de malandro esperto e calejado, Diaw conseguiu criar brechas na defesa do Thunder e fez pontos cruciais para que o Spurs criasse um ritmo ofensivo.
O problema é que mesmo arremessando mal em alguns momentos, o ataque do Thunder foi mais eficiente. Westbrook ABANDONOU seu ataque no final do jogo, quando já tinha errado de tudo, para colocar a bola nas mãos do Durant em posições para que ele pontuasse por cima da marcação. Durant chegou ao ponto de ser marcado em várias posses de bola pelo David West, pra ver se atrapalhava um pouco. Chegou a ser engraçado ver o Westbrook parado no meio da quadra só esperando o Durant ficar numa posição para receber a bola, e o Spurs INTEIRO tentando contestar o passe mais telegrafado da história. O Thunder melhorou um pouco nos minutos finais quando colocou a “armação” na mão de Foye ou Waiters, fazendo a defesa do Spurs ter que se preocupar em marcar os espaços do Westbrook e facilitando a vida do Durant em receber a bola. Basicamente era o Thunder TODO olhando para o Durant e o Spurs TODO olhando para o Durant, que acabou o jogo com 41 pontos. Westbrook arremessou muito mal a partida inteira, mas soube olhar pro companheiro quando precisou e sua agressividade constante fizeram a defesa respeitá-lo o suficiente para Durant poder decidir o jogo.
Quando a defesa do Spurs dobrou no Durant outra vez, como já tinha acontecido no jogo anterior, Durant passou a arremessar NO SEGUNDO em que tocava a bola, gerando, ao invés de passes, rebotes de ataque para Kanter. Deu tão certo que o Thunder chegou a abrir 10 pontos de vantagem. Com o jogo acabando, o Spurs aumentou a velocidade e tentou jogar mais rápido, acabou cometendo erros e até o Enes Kanter se beneficiou disso fazendo pontos de CONTRA-ATAQUE. Tony Parker, que tentou colocar o jogo no bolso, conseguiu uma cesta-e-falta numa infiltração quando o Thunder tentou marcar o “bolsão”, mas depois disso cometeu dois turnovers custosos, incluindo um roubo fantástico do Durant com seus braços gigantes que virou contra-ataque fácil. Ao todo, foram 17 pontos do Kevin Durant só no quarto período – soube quando arremessar, quando atacar a cesta, leu bem a marcação dupla e soube usar o espaço criado por Westbrook, Steven Adams e Dion Waiters. O Spurs não soube como pará-lo, mas poderia ter chegado no minuto final mais próximo no placar se não tivesse errado tantos arremessos fáceis e tivesse cometido menos faltas, resultado do foco desmedido em defender os rebotes ofensivos. A série está toda embolada, e agora já não dá pra saber o que esperar. Certamente o Spurs terá uma nova abordagem no próximo jogo, em casa, para parar Durant. Veremos se será suficiente!
No outro jogo da rodada, o Cavs VARREU o Hawks em Atlanta. Foram 4 vitórias em cima de um dos melhores times do Leste e, embora dessa vez tenha tido um pouco mais de emoção, as palavras VARRIDA e EMOÇÃO não combinam em nada. A coisa mais emocionante do jogo foi a equipe do Cavs conseguindo se animar no vestiário com a passagem para a Final do Leste.
Quando o jogo começou, até parecia que o Hawks ainda estava VIVO POR DENTRO, querendo uma vitória para fazer dessa série uma SÉRIE DIGNA. Paul Millsap acertou 5 de 6 arremessos só no primeiro quarto, com 15 pontos no período. O Hawks chegou a ficar 12 pontos na frente do placar e o péssimo aproveitamento nas infiltrações e nas bolas de 2 pontos do Cavs fez parecer que a equipe de Atlanta tinha uma chance. O Cavs acertou no primeiro tempo 10 das 26 bolas de dois pontos que tentou. A única pegadinha está no fato de que eles também acertaram 10 das 16 bolas de três pontos no primeiro tempo, indo pra segunda metade apenas 2 pontos atrás no placar.
As bolas de três continuaram após o intervalo: foram 16 no total, METADE delas vinda das mãos de Kevin Love. A única bola de dois pontos que Love acertou no jogo foi uma pisada involuntária na linha de três pontos. Acertar seus arremessos e VENCER MUITOS JOGOS tem transformado a relação de Love com a equipe: agora ele é FESTEJADO quando converte as bolas ao invés de recebido com indiferença; LeBron olha pra ele com confiança, ao invés de com aquela cara de nojinho; a equipe inteira “tromba” com ele naquelas peitadas de comemoração quando antes parecia que ele vivia numa bolha de vidro. Isso mudou muito a postura de Love em quadra; ele ainda parece um pouco desconfortável em situações sociais, mas quando está jogando parece inserido, recebe mais a bola, faz parte de uma equipe.
Por diversas vezes, LeBron sobrou com espaço para um arremesso ou uma infiltração, coisas que ele SEMPRE faz, e a defesa do Hawks estava muito centrada em pará-lo. E aí LeBron simplesmente acionava com um passe o Kevin Love paradão lá na zona morta, passando por trás de toda a defesa, para acertar suas bolinhas. Foi uma atrás da outra, com o Hawks sempre esquecendo do Love porque LeBron é um perigo muito maior. Ninguém se tocou ainda que o Cavs agora tem oficialmente TRÊS perigos, e isso só ocorre porque finalmente Kevin Love faz parte da “família”, não está de castigo.
O Cavs não jogou de maneira impecável e o Hawks teve a melhor partida da série, apostando num Dennis Schroeder agressivo que encontrou brechas no meio da forte defesa de garrafão adversária, mas com LeBron acionando Love e Irving e a dupla acertando seus arremessos, é preciso um ataque potente DEMAIS para não deixar a diferença no placar disparar. O Hawks fez movimentações de bola perfeitas e foi mais agressivo do que o costume, dado o senso de urgência da dignidade, e por isso chegou no minuto final com o jogo praticamente empatado. Nesse momento, adeus Kevin Love, e bizarramente adeus Jeff Teague – que foi parar no banco em definitivo em nome de um Schroeder inspirado. O que tivemos foi um duelo individual entre LeBron e Schroeder, com os dois trocando cestas até que LeBron tomou um toco de Millsap que foi considerado ilegal – também achei, embora o lance tenha gerado certa polêmica – e Schroeder acertou uma bandeja para cortar a diferença para apenas um ponto. Aí chegaram as duas últimas posses de bola do jogo, uma para cada time: LeBron errou uma bola de três (e ele NEM OLHOU para o Love nessa hora) e Schroeder então bateu mais uma vez para a cesta com chance de virar o jogo. Resultado? LeBron enfiou a mão e rendeu uma BOLA PRESA (marca registrada) que definiu o jogo.
A alegria do LeBron erguendo os dois polegares que indicam a BOLA PRESA (marca registrada) mostram o orgulho de decidir o jogo na defesa depois de um erro no ataque. O Cavs mostrou que consegue vencer das duas maneiras e o JOGO DA BOLA PRESA (marca registrada) rendeu a ida pras Finais de Conferência. Lá, dificilmente conseguirão uma varrida tão fácil.
PIRIPAQUE DO CHAVES DA RODADA
Que tal Kyrie Irving simplesmente BUGANDO e continuando seus movimentos de ataque mesmo sem ninguém por perto e o jogo interrompido? Só jogando água na cara para voltar ao normal…