[Resumo da Rodada] Um pesadelo para LeBron James

O Jogo 1 dessas Finais da NBA foi uma surra, mas poderia não ter sido. O Cavs chegou a liderar o jogo no terceiro período e mostramos em nosso post exclusivo para assinantes como as escolhas defensivas para parar Stephen Curry foram acertadas, mas os erros em sua execução custaram muito caro quando o resto do elenco do Warriors aproveitou as oportunidades. Em nenhum momento realmente parecia que o Cavs poderia vencer o jogo, mas a sensação é de que se pequenos ajustes fossem feitos, teríamos um excepcional Jogo 2.

Pois bem: após a noite de ontem, é seguro dizer que ajustes foram feitos. Só que pelo Warriors, claro. Enquanto o Cavs cometeu os mesmos equívocos do primeiro jogo e sofreu com as mesmas questões que já haviam tornado aquela partida um passeio para o adversário, o Warriors fez uma série de ajustes inteligentes para se aproveitar ainda melhor dos erros defensivos inevitáveis do rival, para usar Draymond Green e, por fim, para atrapalhar LeBron James.

Ao final do primeiro periodo, os ajustes do Warriors já davam resultado: Draymond Green era o cestinha do jogo, Kevin Love já tinha levado dois tocos e LeBron James, tendo grande partida, estava ZERADO no placar apesar de suas 5 assistências, 3 rebotes e 3 roubos de bola. A ideia era simples: fechar o espaço de infiltração de LeBron e o jogo de costas para a cesta de Kevin Love e desafiar o Cavs a arremessar na transição. Com Bogut na cobertura de Love e LeBron logo de cara, o pivô já tinha 4 tocos na conta quando foi sentar no banco de reservas a 3 minutos do final do primeiro quarto. Vamos dar uma olhada em cada um desses tocos para ver as escolhas defensivas do Warriors:

 

Pouco antes dessa jogada, Love já havia feito seus dois primeiros pontos no jogo em cima de Draymond Green, forçando caminho de costas para a cesta para fazer uma bandeja. O plano do Cavs é usar Love cedo, de preferência embaixo da cesta, para ditar o tom. Mas assim que Love passa por Green, Bogut abandona Tristan Thompson e está lá para o toco. Thompson até consegue um rebote ofensivo na sorte e pontua, mas isso é desimportante frente à escolha de punir Love embaixo do aro.

Na jogada seguinte, novamente temos Bogut abandonando Tristan Thompson mas dessa vez para cobrir a defesa de LeBron James:

 

Klay Thompson não consegue impedir o ataque à cesta de LeBron mas Bogut dá o toco certeiro vindo por trás. Reparem que Draymond Green está lá para atrapalhar Thompson caso ele receba um passe, mas por trás, para poder também perseguir Love na zona morta caso necessário.

Na jogada abaixo, o ataque do Cavs começa com um roubo de bola de Kyrie Irving, que tem sobrado direto na marcação de Draymond Green graças às trocas defensivas de LeBron para parar Curry. Irving faz um bom trabalho na jogada, puxa o contra-ataque mas Bogut está lá para cobrir Curry e dar um toco em JR Smith:

 

Por fim, no vídeo abaixo vemos o Cavs mais uma vez colocando Kevin Love de costas para a cesta contra Draymond Green. Resultado? Bogut cobre mais um arremesso, dá seu quarto toco no período e Kevin Love não mais pisará no garrafão pelo resto do jogo.

 

Ao final do primeiro quarto, o Cavs liderava o placar por 2 pontos. Isso se deu pelos 5 desperdícios de bola do Warriors, displicente com a bola e sofrendo com a defesa agressiva do Cavs que lembrou a defesa deles contra o Raptors, em que o lema era cortar as linhas de passe e pagar o preço caso o roubo não acontecesse. Do outro lado, o Cavs tomou uma série de tocos, mas não cometeu desperdício algum. Contra o Warriors, ter um ataque estagnado é muito ruim, mas cometer turnovers e deixar o Warriors puxar contra-ataques é MUITO PIOR. Por isso, cuidar bem da bola, mesmo que isso signifique forçar infiltrações individuais e colocar jogadores para jogar de costas para a cesta no garrafão parece uma escolha mais segura, uma proteção psicológica contra os pontos de transição que o Warriors usa para acabar com a moral do adversário. Com Bogut anulando Kevin Love, vimos até mesmo Channing Frye – a metralhadora de três pontos humana – com jogadas de costas para a cesta (dica: foi um desastre) e JR Smith nunca atacou tanto a cesta quanto na noite de ontem. O medo de gerar rebotes longos e perder a bola girando no perímetro tirou o Cavs inteiro de sua zona de conforto.

Quando o Warriors começou a perder menos a bola e o Cavs não encontrava espaços para infiltrar, o jogo começou a desgringolar. Quando Draymond Green começou a acertar bolas de três pontos, então, aí o jogo virou um enorme garbage time – momento em que só jogam os reservas. Uma das escolhas defensivas do Cavs no Jogo 1 foi deixar Draymond Green livre na linha de três pontos. Isso porque Tristan Thompson é um alvo fácil no perímetro e a decisão foi deixá-lo no garrafão, por vezes sem marcar ninguém, para lutar pelos rebotes. Green errou algumas bolas na primeira partida e insistiu em acionar Curry e Klay Thompson, caçados em quadra e pouco eficientes. No Jogo 2, a ordem do Warriors foi para Draymond Green ARREMESSAR POR SUA VIDA, e eventualmente cortar para dentro do garrafão quando Curry ou Thompson saíam para o arremesso para se aproveitar dos erros de troca defensiva do Cavs para que Green pontuasse embaixo da cesta. Com 5 bolas de três pontos e 11 arremessos certos ao todo, Green foi o cestinha disparado com 28 pontos. O Cavs não podia errar NENHUMA rotação e precisava contar com Draymond Green errando arremessos. O que vimos ontem foi o Cavs continuar sua série de erros de rotação e Green acabar com a partida.

Pra piorar, a vontade do Warriors de MATAR O JOGO no segundo quarto quase se realizou na morte de Kevin Love. Harrison Barnes acertou um cotovelo na parte de trás da cabeça do Love, que caiu na hora enquanto Draymond Green se aproveitou disso para fazer uma cesta e sofrer uma falta (o fair play mandou um abraço).

Love até voltou para o jogo, mas se sentiu tonto no intervalo e teve que ficar de fora por questões de segurança. Aliás, o jogo teve outros lances físicos questionáveis: os bagos do Andre Iguodala são UM ÍMÃ DE PORRADAS e ele tomou um cotovelo do LeBron após ter sido atingido por Dollavedova no Jogo 1; e LeBron foi duramente estapeado em uma série de infiltrações ao longo do jogo, várias inclusive que passaram batidas pela arbitragem e contribuíram para o desastre do jogador em atacar a cesta. No terceiro período o Cavs já parecia baqueado pelo jogo físico, errando ainda mais rotações defensivas, sem arremessadores no perímetro e lutando por espaço para infiltrar, onde a defesa do Warriors inteira estava concentrada para arrancar a bola das mãos de LeBron James. Cada erro ofensivo do Cavs virava um contra-ataque fulminante, raras ocasiões em que Curry e Klay Thompson puderam arremessar – e converter – em paz. Cada erro defensivo virava uma bandeja de Draymond Green ou um arremesso de três pontos dele ou de um companheiro livre. E ainda temos o problema do banco de reservas: mesmo quando não errava nada, o Cavs ainda Shaun Livingston e até Leandrinho, que enfrentam o ralo banco de reservas do Cavs – que dessa vez foi comandando quase em tempo integral por LeBron, pra conter o estrago.

O segundo tempo inteiro foi um espetáculo difícil de assistir. Depois de fazer uma sequência de 20 pontos a 2, o Warriors estava quente e confiante, enquanto o Cavs estava vencido e assustado, colocando todas as fichas nas mãos de um LeBron James solitário que não parava de cometer turnovers e que eventualmente aceitou sua DERROTA MORAL e passou a chutar bolas aleatórias de três pontos, o que é o equivalente dele JOGAR A TOALHA. Foi um PESADELO para LeBron, de volta aquela situação em que está sozinho em quadra e absolutamente nada dá certo para ele, gerando turnover atrás de turnover.

Com 17 pontos para Curry e 18 pontos para Klay Thompson, ainda que eles tenham conseguido alguns arremessos livres durante o DESMORONAMENTO PSICOLÓGICO do Cavs no segundo tempo, considero a missão da equipe de Cleveland de parar as duas estrelas um sucesso fabuloso até aqui. Nem a defesa exemplar do Thunder conseguiu resultados similares. Mas tudo aquilo que a defesa precisa fazer para que esse sucesso não seja também o sucesso do RESTO DO ELENCO DO WARRIORS não aconteceu. Pelo contrário, ao invés de fazer ajustes do Jogo 1 para o Jogo 2, o Cavs piorou, encontrou menos espaço no ataque e isso refletiu na defesa, forçando a equipe a defender sob pressão e em várias situações de contra-ataque, o que é muito mais difícil. Enquanto isso, o Warriors melhora jogo após jogo, sempre com respostas táticas interessantes para os desafios encontrados nos jogos anteriores – mesmo que esses desafios não tenham sido tão desafiadores assim, já que o Jogo 1 foi vencido por uma larga vantagem.

Voltando para Cleveland, a situação para o Cavs e para os fãs que torcem por uma série longa é pouco animadora: além de ajustar a rotação defensiva, o Cavs precisa agora de soluções para O ATAQUE, já que os arremessos do perímetro secaram por completo. Enquanto o Warriors acumula soluções, o Cavs parece acumular mais problemas e dificuldades. Ainda assim, encontrar saídas em Cleveland deverá ser mais fácil, e talvez aponte para uma série mais interessante para todos nós.


RODADA DO DIA

O próximo jogo das Finais da NBA é quarta-feira, às 22h, na ESPN.


É BRASIL NA LIBERTADORES DO DIA

Neymar esteve na arena do Warriors para tietar a galera: rolou foto com Leandrinho, Anderson Varejão, Klay Thompson e Stephen Curry:

Olha a alegria (e o gesto de respeito e admiração) do Neymar ao encontrar o Stephen Curry. E depois dá uma olhada em como o Neymar é baixinho perto do Stephen Curry, que já é baixinho perto de qualquer um da NBA. Tudo é relativo, já diria aquele carinha lá:

 

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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