>Saída pela direita

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Devin Harris apela para o “ora que melhora”

O Nets nem é tão ruim assim. No ano passado dissemos como o time era promissor, e quando eles apertaram o botão do apocalipse e trocaram Vince Carter para o Magic, apoiamos a decisão e cheguei a afirmar que a equipe não passaria muito tempo fora dos playoffs. No entanto, eles estão prestes a fazer história: perdendo para o Mavs na quarta-feira, o Nets terá o pior início de temporada de todos os tempos, tendo perdido suas 18 primeiras partidas.

Devin Harris, estrela do time, lesionou feio a virilha e só jogou 7 partidas na temporada. Yi Jianlian, que impressionou a imprensa com seus treinos públicos em New York durante suas férias, ferrou o joelho e está fora por tempo indeterminado. Jarvis Hayes jogou muito bem na pré-temporada mas lesionou o punho nos primeiros dois minutos da estreia do Nets na temporada (isso é que eu chamo de ejaculação precoce) e não jogou desde então. Keyon Dooling e Tony Battie, que vieram na troca do Carter, se machucaram na pré-temporada e ainda não jogaram oficialmente pelo Nets. Chris Douglas-Roberts, que finalmente estava se tornando a arma ofensiva que se esperava dele na noite do draft, pegou gripe suína. O Courtney Lee, que ficou tão puto de ser trocado pelo Magic que jurou vingança contra toda a humanidade, também se machucou e passou uns jogos fora. O Bobby “só jogo em ano de contrato” Simmons ficou gripado e não jogou, mas pelo menos era uma gripe comum. Até o Eduardo Najera, que é tão secundário que nem as lesões lembram dele, acabou contundindo as costas. O Trenton Hassel teve problemas pessoais e passou um tempo afastado. Ou seja, o Nets está mais amaldiçoado do que o set do “Poltergeist”.

O time chegou ao cúmulo de jogar apenas com o Brook Lopez da lista de titulares, e apenas dois jogadores no banco de reservas. Todo o resto do elenco estava de terno, fazendo o Nets parecer mais uma reunião de executivos ou vendedores de seguro do que um time de basquete. Tendo isso em vista, não é surpresa que tenham perdido tanto. Já vi time pior jogando e ganhando uma vez ou outra, esse Nets só tem um azar descomunal que lembra bastante o Clippers e sua lendária maldição. Mas é claro que o técnico, o Lawrence Frank, não ajuda. A gente sempre bateu na tecla de que ele era um dos piores técnicos da NBA (o que imediatamente coloca ele na lista de prováveis ganhadores do prêmio de Melhor Técnico do Ano, vai entender!), jovem demais, nerd demais e incapaz de lidar com a equipe. Estava na hora de mandar o sujeito empilhar coquinho na descida, mas ao menos tiveram a decência de se livrar dele antes que seu nome ficasse para sempre como o dono do recorde de pior começo de temporada.

Os atuais recordistas são o Clippers de 1999 e o Heat de 1988, com 17 derrotas para começar a temporada com o pé esquerdo. Quando o Nets perdeu sua décima sexta partida, o Lawrence Frank ganhou o respiro de que precisava: foi demitido, escapou do recorde negativo, fugiu pela famosa saída pela direita. Quem assumiu o Nets contra o Lakers fora de casa, na certeza óbvia de que iria igualar o recorde, foi um técnico interino de que nunca lembraremos o nome, tipo os oitocentos novos presidentes de Honduras. Ou seja, o fardo da vergonha ficou meio diluído e ninguém vai ter sua foto na Wikipedia do lado do verbete “fracasso”.

Mas agora o negócio começa a ficar sério: se perder a próxima partida, dessa vez contra o Mavs, o pobre-coitado do Nets vai ter o pior começo de temporada já visto pelo homem. Essa sim é uma vergonha que faria até o Clippers corar constrangido, e é preciso ao menos uma tentativa de evitar o vexame. Para isso, assume o Nets o Kiki Vandeweghe. Além do nome filho-da-mãe que exige uma consulta no Google toda vez que se quer escrever, um fato curioso sobre o Kiki é que ele é justamente o responsável pelo pior time que eu já vi jogar.

Infelizmente não tenho muitas memórias basquetebolísticas em 1988, mas eu acompanhava NBA a fundo em 1999 quando o Clippers igualou o recorde de 17 derrotas para começar a temporada. O problema é que naquela época não era tão fácil acompanhar partidas pela internet, ainda havia até aquela coisa bizarra conhecida como “net discada”, o modem fazia barulho ao se conectar, quase como se fosse uma robô prenha dando a luz, e a gente ficava nas mãos basicamente das transmissões para a tevê brasileira. Isso significava, na época, que a gente só via jogos da chatisse do Spurs, ninguém em sã consciência iria transmitir para o Brasil uma partida do Clippers. Isso quer dizer que aquele Clippers pode ter sido um dos piores times de todos os tempos e eu infelizmente não pude ver o elenco jogar. Por isso, o pior time que já presenciei foi o Nuggets de 2002: o Nenê tinha acabado de ser draftado e a televisão brasileira adorava a ideia de mostrar o novato tupiniquim. O resultado foi uma tortura em massa que deve ter afastado milhares de brasileiros do basquete e causado uma série de suicídios coletivos, porque aquele Nuggets fedia demais! A estrela do time era Juwan Howard, que seria terceira opção ofensiva em qualquer timezinho razoável, e todos os outros jogadores desapareceram em pouquíssimo tempo, incluindo um dos maiores desastres da história do draft da NBA, o lendário Nikoloz Tskitishvili, o “Skita“. Draftado antes do Nenê, o pivô da Geórgia faz o Kwame Brown parecer um gênio do basquete e da física quântica.

O Kiki Vandeweghe montou aquele Nuggets terrível, mas também draftou Carmelo Anthony e levou o time para os playoffs. Mas como o elenco nunca melhorava e a torcida queria sua cabeça, acabou indo pra rua, para enfim ser acolhido pelo Nets para dar palpite na reconstrução do time. Por mais polêmico que o cara seja, por mais que ele feda, conseguiu pegar o pior time que eu já vi jogar e levar para os playoffs alguns anos depois. Era exatamente do que o Nets precisava. Mas agora, no desespero, ele assumirá o cargo de técnico do Nets – um nome ao menos conhecido o bastante para receber o peso de perder para o Mavs, e que talvez tenha um nome a zelar o suficiente para tentar impedir o desastre. Ele não tem experiência como técnico, embora tenha sido assistente no Dallas por uns tempos, mas o negócio dele é reconstruir, cuidar da meninada e lidar com jovens talentos. Foi ele quem lidou pessoalmente com o Nowitzki no começo de carreira, e o Nets precisa mesmo se focar mais na parte administrativa, indo com calma com os jovens talentos, do que se preocupando com um baita técnico de ponta para ganhar partidas agora. Olha, já foram 17 partidas pelo ralo em sequência, a temporada já foi pras cucuias, não resta nada para o time além de sentar na guia, chorar as pitangas, tomar uma pinga e esperar pela próxima escolha de draft. Então, que se lasquem as próximas partidas, o negócio é cuidar do núcleo jovem e tentar não queimar ninguém nem permitir que a depressão se instaure no ambiente fracassado do time. Convencer todo mundo de que as derrotas são normais, de que em dois anos eles vão estar nos playoffs, que as lesões foram apenas azar. E impedir, a todo custo, que a décima oitava vitória seguida venha. Esses garotos não merecem seus nomes injustamente na história da NBA, eles não fedem o bastante e isso pode complicar suas pretensões futuras.

É por isso que não importa quantos jogos bons estejam passando na quarta-feira, quantas estrelas estejam em quadra, o jogo a se assistir é o Nets e Mavs. Se o Kiki conseguir uma vitória, será um feito histórico de um time que não merecia se lascar tanto e que em um par de anos estará maduro e brigando com os grandes. E se o Nets perder, será uma chance de ver história sendo feita, algo que maculará para sempre o ânimo dessa equipe. Não perca história sendo feita, você não quer ficar como eu, lamentando não ter assistido o Clippers de 1999, não é mesmo?

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