>Sem time para se preocupar

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Enquanto eu escrevia esse artigo, tomei uma falta técnica

Torcedores do Lakers dão em árvore e milhares de torcedores do Celtics foram encontrados congelados num iceberg e trazidos de volta à vida esse ano, no maior estilo Capitão América. Mesmo assim, a maioria dos que acompanham a NBA não torcem para nenhuma das duas equipes e estão assistindo às Finais sem nenhuma relação pessoal e afetiva com as duas equipes.

Quer dizer, tem aqueles que estão torcendo contra, que odeiam o Kobe Bryant mais do que odeiam o João Kléber, que tem birra com o Lakers ou com o Celtics ou com os dois. Eu entendo perfeitamente porque sempre me envolvi emocionalmente nas partidas do Spurs nos playoffs simplesmente porque estava torcendo contra. Enquanto muitos torcedores estavam bocejando, eu gritava como um maluco e saí pulando pela casa quando o Amaré Stoudemire acertou aquela cesta de 3 pontos contra o Spurs para empatar o jogo e depois o Marbury acertou outra de 3 no estouro do cronômetro para a vitória uns anos atrás. Marbury no Suns decidindo jogos, minha nossa, alguém ainda se lembra? Estou me sentindo cada vez mais velho.

Por isso mesmo é que para mim é tão estranho assistir Lakers e Celtics numa final. Pela primeira vez em muito tempo, não tenho nenhuma relação emocional com a série. Não torço contra, não torço a favor. Mas não é questão de indiferença, pelo contrário, gosto de Kobe, Odom, Gasol e do basquete (às vezes) coletivo do Lakers, assim como gosto de Pierce, Rondo e – nem preciso falar para os que acompanham o Bola Presa há mais tempo – sou apaixonado pelo Kevin Garnett. No fundo, fico torcendo para história ser feita. Quero que o Kobe faça 80 pontos e seja campeão sem Shaq, que o Lakers vire um jogo no qual perdia por 22 pontos, que o Garnett consiga seu primeiro anel e que Pierce volte contundido e meta bolas de 3 decisivas. Quero espetáculo.

Mas esse universo no qual eu só quero absorver, aproveitar e não estou tendo gastrite, metendo a cabeça na parede e xingando a nona geração da família de alguém é muito estranho. Eu posso pegar no pé do Doc Rivers sem ter nada pessoal contra ele e depois admitir sem nenhum constrangimento que o sujeito acertou a mão, por exemplo. Sou sempre o primeiro a reclamar das cagadas que o técnico do Celtics faz em quadra, principalmente com a rotação do time. Não consigo entender de jeito nenhum porque Leon Powe e Sam Cassel entram e saem da rotação o tempo inteiro e sempre torrei o saco dizendo que o Celtics precisa dos dois para vencer. Um fez sua parte no Jogo 1, o outro no Jogo 2, e aqui estamos nós, olhando para duas vitórias do elenco verde em cima do Lakers. Se mantiver a consistência e continuar colocando os dois em quadra, o Doc Rivers não vai me dar razão para puxar sua orelha de abano. Mas nem mesmo isso consegue arrancar de mim aquela sensação de que ele não faz idéia do que está fazendo e que sua única função é bater palmas no banco de reservas. O Denis estava comentando comigo que toda vez que o Doc Rivers aparece na tela, está batendo palmas e gritando coisas muito profundas como “é isso aí”, “continuem assim!” e “vamos, vamos, vamos”, o tipo de política motivacional que se aprende lendo uma porta de banheiro público. Se ele é um gênio tático incompreendido, como dizem alguns, é tímido demais para mostrar seu talento e prefere parecer um completo imbecil. Se tivesse que chutar, arriscaria que o time é auto-gerido, que o Garnett decide o que vão fazer em quadra e o Rivers só aplaude, no maior estilo risada pronta do Chaves.

E o legal é que isso não me incomoda! Não falo isso com o nojo ou o desdém ao qual me referiria ao Poppovich e nem com a mágoa dolorida que surge quando reclamo do técnico do meu Houston, o Rick Adelman. Eu acho bizarro, esquisito, até meio patético, isso sim, mas nem consigo me importar. A mesma coisa acontece com a arbitragem. Passei a última década reclamando da arbitragem em jogos do meu Houston e em jogos do Spurs. Sou um dos que abraçam a teoria da conspiração de que os árbitros da NBA são apaixonados pelo time de San Antonio e são todos nascidos no Texas. Somando todos os palavrões que já gritei para juízes fazendo palhaçada a favor do Spurs, daria para encher um novo dicionário. Mas com os juízes errando sem parar nessa final, quase sempre a favor do Celtics, eu dou uma risadinha e às vezes acho engraçado, às vezes acho deprimente. Como dizem, pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Então vale comentar, num post que eu espero que ninguém esteja lendo, que os árbitros não erram apenas a favor do Spurs, ao contrário do que venho dizendo no último século. Os juízes são patéticos, míopes, débeis mentais e parecem errar simplesmente para o time da casa, para o time com mais estrelas, se cagando de medo de interferir no resultado de uma série em que o time da casa tem Garnett, Allen e Pierce. Com isso, fica difícil manter a consistência, começam a tentar compensar aqui e ali, e o jogo fica completamente interferido a um ponto tal que nem é mais basquete, é apenas um esporte parecido, em que não vale dar toco, espirrar é falta de defesa e é permitido dar tantos passos com a bola quanto no handebol.

Será que esse novo esporte vai ter seguidores e vai se tornar esporte olímpico, aliás? Para quem torce para o Celtics ou para o Lakers, cada erro da arbitragem é um roubo, um assalto, uma afronta, um tapa na cara e um chute nos bagos. Para nós, simples seres humanos torcedores dos times ruins, os erros simplesmente fazem parte do jogo. Não é a primeira vez que alguém dá 12 passos indo para uma enterrada e nem que o time da casa recebe tratamento de princesa , o famoso “relou em mim, quebrou minha unha, é falta”. É normal, é natural e faz parte desse troço pelo qual tanto nos dedicamos e que no fundo é apenas um bando de gente suada tentando acertar uma esfera dentro de um círculo enquanto sujeitos velhinhos assopram apitos quando eles acham que não tá legal.

Ah, às vezes é tão bom não torcer para um dos times das Finais e poder encarar os erros e acertos dos técnicos e da arbitragem aqui do lado de fora. Mas mesmo assim, estamos assistindo em busca de espetáculo e correndo o risco de que a própria diversão seja comprometida pela arbitragem. Se uma vitória do Celtics sair hoje, deixando o Boston abrir 3 a 0 na série graças a erros dos juízes, toda a Final vai por água abaixo por causa de uns idosos ceguetas. Negócio é o seguinte: assistimos basquete pela fruição, mesmo quando nossos times não estão envolvidos. Então é hora do David Stern começar a se preocupar com isso ao invés de queimar os neurônios com as roupas que os atletas podem ou não podem usar. Comissão de arbitragem, juízes suspensos por erros sucessivos, ranking de juízes qualificando os melhores para as finais, cursos de arbitragem e reciclagem (não de lixo, quem se importa com o fim do mundo, afinal de contas?) e principalmente o estabelecimento de um MALDITO CRITÉRIO. Como o David Stern diz que vai punir as “encenações” e cavadas de falta na temporada que vem se não há sequer um consenso, entre os árbitros, do que é uma porcaria de uma falta de ataque?

Sorte a minha que não preciso esquentar minha cabeça com meu time sofrendo com o poder dos apitos. Mas é bom que alguém esquente, alguém reclame, alguém faça alguma coisa. Meu tesão pelo basquete, que é maior do que o meu Houston Rockets apenas, pode ficar seriamente comprometido se o negócio continuar assim.

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