>Summer Leagues – O resto

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Chegou a hora de conhecer Jeremy Lin

Chegou a última parte da análise das Summer Leagues. Na primeira contamos um pouco do propósito desses campeonatos onde ninguém olha o placar final do jogo e falamos um pouco do desempenho dos recém-draftados. Na segunda parte falamos de quem se destacou entre os que já jogam na NBA e hoje, finalmente, falaremos do resto. Aqueles que já foram da NBA mas estão sumidos, os caras que jogavam na Europa e vieram tentar a sorte na liga americana e os caras que saíram da universidade mas passaram pelo draft sem terem sido escolhidos por ninguém.
Não quero enrolar mais do que já enrolo, mas queria dizer o motivo para não estarmos falando nada do Chris Paul, que parece ter pedido para sair do Hornets: até agora o único fato consumado é que ele está insatisfeito com o elenco do time e quer conversar disso com o novo General Manager. Eles ainda vão ter uma reunião na segunda-feira e só a partir daí pode acontecer alguma coisa de concreto. Desde o começo da offseason a gente se focou em comentar contratações e trocas, nunca boatos. E ficar dizendo o que a saída do Chris Paul significaria para o Hornets sem isso ter acontecido parece uma perda de tempo gigantesca sendo que aconteceram tantas outras mudanças reais que ainda não ganharam seus textos.
Isso dito, vamos voltar aos campeonatinhos de verão:
Os Outros
Gary Neal (SG – San Antonio Spurs) – Depois de uma boa temporada no basquete italiano, o Gary Neal foi tentar a sorte nos Estados Unidos. Fez cinco jogos pelo Spurs e convenceu a equipe do Greg Popovich. E convenceu por um único motivo, algo que faltou ao Spurs na temporada passada, as bolas de longa distância. Neal acertou bolas de três em todos os jogos e mesmo chutando bastante e com arremessos difíceis, acabou a Summer League de Las Vegas com 50% de aproveitamento. Na última partida, contra o Grizzlies, tentou 10 bolas e acertou 6, fechando o jogo com 25 pontos.
Com as infiltrações sempre perigosas do Tony Parker e Manu Ginobili e a marcação dupla que o Tim Duncan costuma exigir, o Spurs foi sempre um time que conseguiu produzir muitas situações para bolas de longa distância, mas no ano passado não estava conseguindo transformar essas boas jogadas em pontos. Se meter algumas bolinhas dessas por jogo, o Neal já terá sido uma contratação que valeu a pena.
Morris Almond (SG – Chicago Bulls) – Lembram no post passado quando eu contei que o Joe Alexander era um dos poucos jogadores na história da NBA a terem sido dispensados após apenas dois anos de seus contratos de novato? E lembram que naquela lista tinha um mané chamado Morris Almond? Pois é, ele estava jogando em Las Vegas.
O Almond foi dispensado após duas temporadas improdutivas no Jazz. Depois disso continuou nos EUA e jogou muito na D-League, onde simplesmente arrebentou com tudo, incluindo jogos com mais de 50 pontos. Ele é um excelente arremessador, às vezes fominha, é verdade, mas que faz pontos com facilidade. O problema é que na NBA parece ser abatido por um nervosismo que faz com que suas bolas não caiam. E arremessadores que não acertam arremessos são tão úteis quanto um açogueiro com nojo de carne.
Na Summer League ele fez um bom trabalho, acabou com 13 pontos de média mas no seu dia mais inspirado chegou a fazer 22 pontos. Ele não faz nada além disso, claro, mas pode ser uma boa para o Chicago Bulls que está em busca de arremessadores. Eles conseguiram o Korver mas não o Redick, então talvez sobre um espaço para ele. Tudo deve depender da contratação do Tracy McGrady, que já treinou com o Bulls e espera uma resposta do time.
Sofoklis Schortsanitis (PF/C – Los Angeles Clippers) – Tá, não vou mentir, dei um Ctrl+C – Ctrl+V para escrever o nome dele aqui, mas alguém aqui faria diferente? Todo mundo conhece o pivô grego apenas como “Baby Shaq“, e seus 142kg bastam como justificativa para o apelido.
Ele ganhou alguma fama nos EUA quando foi escolhido pelo Clippers na segunda rodada do agora longínquo Draft de 2003, impressionou pelo corpo gigantesco mas foi deixado na Europa. Três anos depois, no Mundial de 2006 no Japão, ele foi peça importante do time vice-campeão da Grécia e foi um dos melhores jogadores da seleção grega durante a semi-final contra os Estados Unidos. Ele e o Vassilis Spanoulis, que teve uma boa, mas discreta, passagem pelo Rockets, aniquilaram a defesa americana com seus pick-and-rolls. Aliás, vale a pena ver os melhores momentos daquele jogo histórico:
Depois dessa partida parecia claro que o Baby Shaq teria uma chance na NBA, mas acabou recebendo ofertas mais lucrativas na própria Grécia e ficou por lá. Quatro anos depois, às vésperas de outro mundial, ele finalmente tenta ir para a NBA. Hoje o grego tem 25 anos, poderia ter sido uma boa idéia esperar, como foi com Tiago Splitter, mas a carreira do “Sofo” teve um caminho diferente. Depois de brilhar 4 anos atrás na Grécia e no Olimpyacos, seus minutos por quadra e produtividade foram caindo aos poucos. Hoje não é tão badalado dentro do seu time como já foi quando mais novo.
Talvez até por isso tenha ido tentar a sorte nos EUA, mas não foi bem na Summer League de Las Vegas. Jogou apenas 13 minutos por jogo, pouco mais de um período (nesse torneio cada quarto tem 10 minutos, como na FIBA) e teve médias ridículas de 2.5 pontos e 3.8 rebotes por partida. Os rebotes até que foram bons para o tempo jogado, é verdade, mas ele não conseguiu render bem no ataque como esperado e participou pouco dos jogos. O Clippers acabou de manter o Craig Smith no time e ainda tem Blake Griffin, Chris Kaman e DeAndre Jordan no garrafão, não sei se existe um interesse real em levar o Baby Shaq para a NBA. Aposto mais que ele volte para a Summer League do ano que vem para tentar de novo.
Jaycee Carroll (SG – Boston Celtics/New York Knicks) – Esse deve ter sido o jogador que mais atuou nas ligas de verão. Jogou tanto a de Orlando, pelo Celtics, quanto a de Las Vegas, essa pelo Knicks. E jogou bem pelos dois times.
O Carroll fez uma boa carreira universitária pela Utah State University, mas não chegou a ser draftado. Atuou nas Summer Leagues de 2008, 2009, e jogou a última temporada pelo Gran Canaria da Espanha. Antes disso atuou no Teramo Basket da Itália, onde virou lenda ao marcar duas bolas de 3 nos últimos 7 segundos de um jogo decisivo.
Com o sonho de atuar na NBA, veio de novo jogar as ligas de verão e finalmente teve sucesso. Ele teve média de 15 pontos por jogo na Summer League de Orlando, onde foi eleito para a segunda seleção do torneio. Pelo Knicks em Las Vegas não jogou tanto, mas 8 pontos de média em 14 minutos por partida não é nada mal! Com as más atuações de Andy Rautins pelo Knicks, é possível que eles estejam atrás de contratos pequenos com jovem jogadores da posição. Alguém para ser testado, para contribuir vindo do banco e não comprometer as finanças do time. Jaycee Carroll não é tão inexperiente como Rautins e serve a todos esses objetivos, pode ser uma opção.
Curioso ver como a história de Carroll é uma boa prova do quanto é difícil entrar na NBA. Carreira universitária boa, boas temporadas na Europa, destaque nas ligas de verão e mesmo assim ele tem uma chance remotíssima de conseguir ser apenas o último cara do banco de um time da NBA. Tem que ser espetacular, não basta ser bom.
Pooh Jeter (PG – Cleveland Cavaliers) – Eugene Jeter III é uma força nominal absurda, mas ele prefere usar o apelido de ursinho dele, vai entender! O armador batalha por um lugar na NBA há muito tempo. Ele jogou na D-League em 2006-07, depois jogou na Ucrânia, Espanha e Israel. Na liga de desenvolvimento ele era um dos líderes em assistência com mais de 7 por jogo, mas não chegou a ter grandes chances na NBA. Já havia voltado para disputar Summer Leagues, mas só agora pelo Cavs é que ele se destacou. Foi o quarto líder em assistências do torneio e ainda meteu 14 pontos por jogo.
Não foi páreo para caras como Jrue Holiday e John Wall, mas entre os que não tinham contrato garantido foi disparado o melhor armador. Apesar de apenas 1,80m de altura, sabe das suas limitações e se destaca por comandar o jogo, por tomar boas decisões em quadra, talento que, dizem (não vejo o campeonato ucraniano), cresceu com a sua passagem pela Europa. Finalmente pronto para a NBA acaba de assinar um contrato com o Sacramento Kings, onde provavelmente será reserva imediato de Beno Udrih.
Jeremy Lin (PG – Dallas Mavericks) – Finalmente a estrela da liga! Ele não foi o melhor jogador, mas teve a atuação mais impressionante e a história que mais chamou a atenção. Tudo em Jeremy Lin é diferente do padrão da NBA, absolutamente tudo.
Lin é americano, nascido em Palo Alto na California, descendente direto de família Taiwanesa, sem qualquer sangue americano na família. É o primeiro jogador americano de origem asiática a chegar na liga desde Wataru Misaka, um americano de origem japonesa que foi o primeiro jogador não-branco a atuar na NBA há 63 anos. Na NCAA, apenas 0,5% dos jogadores tem origem asiática.
O armador também é diferente pelo desenho da sua carreira. Começou a jogar basquete quando criança em uma YMCA (é uma rede de clubes que deu origem à música que todo mundo conhece) de Palo Alto por incentivo de seu pai, que mesmo quando ainda morava em Taiwan caçava algumas jogadas da NBA na TV para saciar sua vontade de basquete. Nas suas palavras, “Não sei porque gosto de basquete, apenas gosto”. Na terra do basquete não teve dúvidas e levou os filhos para jogar, mas Jeremy apenas ficava no meio da quadra chupando o dedo como uma criança desinteressada. Depois de alguns jogos sua mãe deixou de ir assistir, Jeremy viu aí um incentivo e pediu para ela voltar no próximo jogo, para ele resolver parar de chupar o dedo e ir brincar com as outras crianças. Por “brincar” entenda “fazer todos os pontos do jogo”.
No colegial ele liderou a Palo Alto High School, uma escola sem tradição no basquete, ao título da Divisão II estadual, sendo considerado o melhor jogador do torneio por diversas publicações locais, mas mesmo assim não recebeu nenhuma bolsa de estudos dos times da primeira divisão da NCAA. Foi recusado pela UCLA e em entrevista à CAL U até o chamaram pelo nome errado. Foi então para o outro lado do país para uma universidade muito conhecida, embora nunca pelo seu basquete: Harvard. Membro da Ivy League, que concentra 8 das melhores unversidades americanas, entre elas Yale, Columbia e Princeton, Harvard não pode oferecer bolsas de estudo para atletas. Jeremy Lin, porém, nunca escolheu entre estudar ou jogar, fez os dois.
Uma pessoa de origem asiática em uma das mais renomadas instituições de ensino é até um clichê, existiam 23 alunos com o sobrenome Lin em Harvard quando ele entrou, mas Jeremy foi além, foi um esportista, e no seu último ano (ele jogou os 4 e se formou em Economia), levou a universidade para a sua melhor campanha na história. Com atuações impressionantes, como a do vídeo abaixo contra a tradicional UConn, fora de casa, começou a ficar conhecido e até foi finalista para o Bob Cousy Award, prêmio dado ao melhor armador universitário do ano.
Não bastava ser um jogador de destaque em escolas que nunca tinham ouvido falar de basquete, ele queria quebrar mais alguns dos estereótipos do jogador de basquete. Não foi o basqueteiro que ignorava o estudo para jogar, nem o que só queria saber de festas, nem o que se envolveu com drogas e nem aquele que só queria saber de usar a fama do basquete universitário para pegar mulher. Também não tinha uma família desequilibrada para responsabilizar por se envolver com o crime e nem faltava dinheiro para ele se envolver no mundo das drogas. Dedicava todo o seu tempo livre do basquete para o estudo e principalmente para a Bíblia.
Lin criou um grupo de leitura da Bíblia e chegou a levar alguns de seus companheiros de time para lá, se organizando semanalmente para rezar e discutir o livro. Como acontece com quase todo atleta que se envolve demais com religião, começou a misturar as coisas: ele diz que lidera o time de uma maneira cristã, que joga para a glória de Deus e por Deus, e que não se foca tanto em ganhar ou perder, mas sim em ter fé no plano perfeito de Deus.
Eu sou ateu e confesso que pessoas que falam de Deus o tempo todo me irritam profundamente, mas elas existem e eventualmente algumas gostam de jogar basquete, outras, como Lin, não só gostam como são boas nisso. O esporte parece não combinar com religião, mas ele é feito de pessoas e elas tem suas características, sejam elas agradáveis para os outros ou não. Lembro de quando o Dwight Howard chegou na NBA e perguntou para o David Stern se poderia colocar uma cruz no seu uniforme, o que foi proibido. Stern estava certo nisso, o esporte é um lugar onde se juntam pessoas de qualquer tipo que tem em comum a atividade esportiva que praticam, mas ficar divulgando e colocando para fora parece mais propaganda do que fé. Jeremy Lin ser um cristão tão devoto é curioso e deixa a NBA com mais um personagem diferente, mas em algumas entrevistas ele pareceu tão bitolado que eu fico com a sensação de que em breve poderemos ter na NBA alguns dos exageros religiosos que vemos tantas vezes no futebol. Agora ele é um personagem diferente, exótico, interessante, mas isso pode mudar.
Na Summer League o Jeremy Lin jogou 4 partidas pelo Mavs. Fez 12 pontos em 18 minutos na primeira, somou 12 nas duas partidas seguintes e apenas no seu último jogo brilhou de verdade. Enfrentou mano a mano a estrela John Wall e marcou 13 pontos em 17 minutos. No vídeo abaixo dá pra ver o que fez a torcida ir ao delírio com o jovem: velocidade, dribles, bons roubos e uma capacidade impressionante de infiltrar na defesa adversária.

Apesar de estar jogando pelo Mavs, Lin não tinha vínculo nenhum com o time, e ganhou o interesse também do Lakers e do Warriors. Em entrevista ainda na faculdade já havia dito que o seu sonho era de jogar pelo time do coração, o Golden State, e acaba de finalizar um contrato de dois anos com eles. Com contrato assinado, Lin passa a ser o primeiro jogador a sair da Ivy League em 8 anos e segundo jogador da história da NBA a ter saído de Harvard, o último foi Ed Smith em 1953.

Difícil saber o quanto ele irá render na NBA, mas sua contribuição já começou com essa história pouco comum. Ele disse ter superado anos e anos de piadas racistas em quadras de basquete e na NCAA até chegar na NBA, o que é, Bíblia a parte, uma história fantástica. Eu imagino que no sistema veloz do Golden State Warriors ele tenha boas chances de se destacar. Provavelmente nunca vai ser titular, mas dá pra enxergar ele fazendo muitos pontos em alguns jogos isolados durante a temporada. A torcida do Warriors, tradicionalmente uma das mais fiéis (ao time, não necessariamente ao deus do Jeremy Lin) e apaixonadas da NBA, certamente irá ao delírio com o garoto da casa.

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