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enterrada na cara > mão na cara
O leitor Jarson nos mandou um e-mail outro dia reclamando que ainda não tínhamos falado do Miami Heat, que vive ótimo momento e é um dos destaques do começo de temporada. Respondi que não dá pra falar do começo de todo mundo. Começo de temporada tem muito assunto e não dá tempo de falar de tudo, precisamos escolher uma coisa e, logo, excluir outra. Mas não dá pra culpar o cara, o Heat deve ser até agora, talvez junto com o Mavs, o time que mais superou expectativas nas primeiras semanas de temporada.
Esperei então o jogo de ontem entre Heat e Cavs. O duelo de LeBron e Wade seria um baita desafio para o time do Miami poder provar se está mesmo evoluindo para a elite do Leste ou se o bom começo era apenas uma fase.
O melhor do jogo foi o primeiro quarto. Os dois times estavam jogando como se fosse playoff, com os titulares em quadra até o final do período, vibração, discussão, pressão da torcida e jogadores agressivos. Essa última característica, aliás, foi a que mais me impressionou. Todo mundo que pegava a bola, Wade e LeBron em especial, ia pra cima com uma sede de jogo de 7 de final. E as defesas não aliviaram, indo para os tocos como se a teoria do
Jeff Van Gundy estivesse valendo. Pra quem não viu no nosso
Twitter, o ex-técnico e atual comentarista/comediante disse na última quarta-feira que achava que não deveria ter limites de faltas individuais na NBA.
“As pessoas pagaram para ver o Dwight Howard jogar, não para vê-lo no banco”. Um argumento americano demais para o meu gosto, mas divertido.
Ainda no primeiro quarto, o Dwyane Wade destruiu a moral e honra do
Anderson Varejão. Depois de um toco do
Jermaine O’Neal no LeBron, o Wade puxou o contra-ataque e simplesmente ignorou a presença do brazuca por lá. Não temos nem um mês de temporada e essa enterrada, junto com a do
Andre Iguodala e com a do
Travis Outlaw já formam três fortes candidatas a enterradas do ano.
O primeiro quarto então acabou com uma infiltração do LeBron, uma bola de 3 do Wade e uma bola no estouro do cronômetro do LeBron. Um espetáculo, os melhores 18 segundos da temporada, provavelmente. Tá bom que nenhum time se dispôs a dobrar a marcação nas duas estrelas em momento algum, mas tá beleza, perdoamos em prol do show.
A partir do segundo quarto o jogo foi esfriando aos poucos com o Cavs no comando. É muito difícil ganhar do Cavs quando, além do LeBron, o Mo Williams está inspirado. Se ele continuar acertando bolas de longa distância como acertou nos últimos dois jogos já podem dar o troféu pra eles. Nunca vi o cabeça de azeitona jogando tanto como nos últimos dois jogos.
E foi por causa da qualidade do Cavs que o Heat não venceu. Apesar da derrota o Heat não jogou mal. No
nosso preview da temporada dissemos que o Heat só tinha chances de melhorar em relação ao ano passado se seus jovens jogadores se superassem, já que não há nenhum nome novo no elenco. Pois o
Michael Beasley, depois de uma
offseason pra lá de tumultuada, digna de
Delonte West e
Golden State Warriors, está jogando muita bola. Parece que já está sabendo melhor como jogar sem ter tanto a bola na sua mão como tinha na faculdade.
Além dele o Mario Chalmers é um armador mais seguro do que no ano passado, embora muitas vezes ele seja discreto demais para poder dar espaço (e a bola) para o Dwyane Wade brilhar. Às vezes acho que o Heat poderia usar mais o Arroyo ao lado do Wade, para ser uma ajuda e deixar o Super Mario junto dos reservas, para comandar o show. Ele tem boa visão de jogo, sabe infiltrar, tem bom passe, é um desperdício deixar ele sem a bola.
Além dos dois, os veteranos estão mostrando um jogo melhor em relação ao da temporada passada. Não apostaria um centavo nisso há algumas semanas, mas Jermaine O’Neal, Udonis Haslem e Quentin Richardson estão mil vezes melhores do que no ano passado. O Haslem já fez 4 doubles-doubles em 8 jogos nessa temporada. Seus números são melhores nessa temporada, em que sempre atuou como reserva, que os da temporada passada, em que sempre foi titular e jogava até mais minutos.
O Jermaine O’Neal está corrigindo o grande problema do Heat na temporada passada, a defesa de garrafão. Ano passado ele tentou isso e acabou sendo
o jogador que mais tomou enterradas na cabeça em toda a temporada, nesse ano está com mais sucesso e parece bem fisicamente, pelo menos até sua próxima contusão.
Por último o Quentin Richardson é candidato forte, ao lado do Erick Dampier, ao troféu Bobby Simmons de jogador que só joga em ano de contrato. Depois de ter passado por mais mãos que minha amiga Amanda do colégio, o Quentin finalmente ficou no Heat e agora parece que quer provar que tem algum valor na liga além de ser um salário expirante. Embora tenha ido bem mal no jogo de ontem (ir mano a mano com o LeBron não é matchup ideal para o rapaz), ele tem jogado bem.
O saldo final é que o Heat está vivendo a sua
temporada pornô se formos seguir nosso método de preview da temporada. Mas como já dissemos lá, mesmo esse melhor caso só significa, no fim das contas, uma vaga na segunda rodada dos playoffs. O time é bom, joga bem, o Wade foi feito à imagem e semelhança do todo-poderoso (tem jogada mais mortal do que quando ele recebe a bola na linha de 3 e um nanossegundo depois está na cesta?), mas nem isso basta para o Heat brigar por coisa muito grande.
Nota: Coisa parecida com tudo isso que falamos do Heat pode ser dita sobre o Phoenix Suns. Eles estão bem, melhoraram mais que o esperado, mas ainda não estão a ponto de ameaçar nenhum dos grandes de cada conferência. O Suns não tem chance contra ninguém que tenha um pivô bom e que não caia na armadilha da correria. Ontem contra o Lakers foi um massacre com direito a show do Andrew Bynum.