>Tá ruim mas tá bom

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O técnico Moncho ameaça um golpe de caratê

Nível mequetrefe na Copa América, feriadão, offseason na NBA, gripe suína, sensação de missão cumprida quando a Alinne Moraes deixou mensagem pra gente no Twitter, preguiça e até um troço chamado “vida” acabaram deixando a gente um bocado longe do blog nos últimos tempos. Agora estamos de volta pra valer, com uma série de posts e novidades engatilhadas, tudo saindo do forno. E é com gosto que, ao voltar ao Bola Presa, posso dizer que o Brasil foi campeão da Copa América.

Vamos admitir que a qualidade técnica do torneio não foi lá essas coisas, mas de qualquer modo a importância da vitória para o Brasil era enorme. Para o time desfalcadíssimo e capengando da Argentina, conseguir a vaga para o Mundial do ano que vem já estava de bom tamanho, bastava a sensação de alívio, de não passar vergonha, e de poder concertar o erro mais tarde. Para a seleção brasileira, simplesmente conseguir a vaga não bastaria. Quando as coisas começam a ser colocadas na direção certa, qualquer tipo de resultado negativo pode servir para abortar o processo. Nem sempre resultados ruins são causados por uma preparação ruim, e dessa vez que a preparação foi a contento só podíamos torcer para os resultados também serem, sob o risco de qualquer deslize virar desculpa para jogar fora os pequenos avanços que conseguimos.

A seleção brasileira jogou um basquete mais coletivo, focado na defesa e ao menos tentando – lutando contra velhos vícios como o Bozo luta contra a cocaína – depender menos das bolas de três pontos e jogar mais no garrafão. Meu pânico era justamente perder de Porto Rico na final e começar a ouvir uns birutas dizendo que, se eles ganharam seus jogos apenas chutando bolas de três, nós deveríamos voltar à nossa política de só arremessar de fora também. Pior ainda seria ter que aguentar gente criticando a vinda do técnico estrangeiro, pedindo a volta de gente como o Lula ou o Hélio Rubens, por exemplo.

Além disso, a modalidade precisava do pequeno barulho que surge com a conquista. Com nova admnistração na CBB, um campeonato nacional minimamente organizado (que até chegou ao final, quem diria, e com ginásios lotados!) e exposição na televisão, nosso basquete não poderia se dar ao luxo de perder a Copa América e deixar o público achar que essas alterações não serviram pra nada. É preciso que exista essa sensação de que as coisas estão melhorando para que um mamífero bípede qualquer seja capaz de se interessar pelo esporte. Estamos dando passos pequenos na direção certa, e é muito importante que os resultados tenham vindo porque não acho que, frágil como o basquete anda por essas bandas, seríamos capazes de lidar com mais um fracasso.

Dito isso, devo permitir que aquele técnico de futebol frustrado que mora dentro de cada um dos brasileiros venha à tona agora. O técnico frustrado que vive dentro de mim desde os tempos da Copa de 94 (“Muda, Parreira!”) está louco para sair e criticar um pouco nossa seleção – mesmo que seja de basquete. Ganhamos a Copa América e isso é enorme e essencial para o novo basquete brasileiro, para coroar a mudança de direção na nossa modalidade e garantir que os avanços continuarão sendo feitos ao invés de abandonados porque “não deram certo”. Mas a verdade é que ganhamos a Copa América graças a um bocado de sorte e apesar de uma série de problemas e limitações que ainda afligem nossa seleção.

Acho que o Huertas é subestimado. O rapaz sabe correr, bater para dentro como um maluco e dar arremessos ridículos, mas ficou até com cãimbra na mão de tanto pedir calma para os companheiros. É ele quem controla o ritmo do jogo, quem decide a velocidade do ataque e quem arma todas as jogadas. Com ele em quadra, Leandrinho recebe bolas em velocidade apenas para finalizar em movimento. Quando o Huertas senta, o time desanda mais do que o nariz do Michael Jackson, não dá nem coragem de olhar. A bola fica parada nas mãos do Leandrinho, que perde seu poder ofensivo e tem dificuldades terríveis de infiltrar, ou então vai parar nas mãos do Marcelinho Machado, que seria um excelente jogador se tivesse qualquer traço de cérebro na caixa craniana. Do mesmo modo, quando o Varejão vai para o banco de reservas, o Brasil não tem um defensor no garrafão e passa a ser comido vivo, cedendo lances livres e infiltrações fáceis. Quando o Tiago Splitter senta, o Brasil não consegue colocar a bola perto da cesta e acaba dando arremessos forçados e voltando aos tempos dos arremessos de três. Isso porque o reserva tanto do Varejão quanto do Splitter costuma ser o Guilherme, que não defende nem ponto de vista e só deixa de feder um pouco quando joga atrás da linha dos três pontos, esvaziando o garrafão tipo o Rashard Lewis (mas sem um Dwight Howard lá no meio).

Ou seja, a seleção finalmente joga como um conjunto, mas não tem elenco. São sete jogadores e dois deles fedem, fica difícil competir assim em alto nível principalmente numa competição com jogos em dias seguidos, que exige tanto do físico de todos os jogadores. O técnico Moncho até levou outros jogadores, dos quais uns torcedores gostam mais e outros gostam menos, mas a verdade é que todos nós sabemos que eles não têm nível pra participar da brincadeira. Talvez com o tempo, se abraçarem perfeitamente bem a mentalidade coletiva instaurada na equipe, possam entrar sem comprometer muito.

Mas é preciso aproveitar para reclamar também de um velho problema da seleção que permanece intocado (e nem é os lances livres, em que a gente fede e nem tenho mais esperanças de melhora): são os momentos decisivos dos jogos. Há muito tempo não temos uma estrela capaz de colocar o time nas costas e o jogo no bolso, simplesmente porque o Leandrinho não é assim. Contra uma defesa montada, as infiltrações do Barbosa são muito ineficientes, motivo pelo qual ele sempre rendeu melhor quando joga um basquete de contra-ataque e velocidade. O resultado é que, na hora de acalmar o jogo e colocar a bola nas mãos de quem resolve a parada, não existe ninguém capaz de cumprir a função. Na final contra Porto Rico, dominamos o jogo. Mas aí o Huertas foi sentar e a diferença de pontos começou a diminuir. Nos dois minutos finais, quando Porto Rico apertava e a seleção só precisava deixar o cronômetro rodar e deixar a bola com quem entende, o escolhido foi o Leandrinho. Arremessos forçados, desperdícios de bola e passes para o lado: com isso, Porto Rico ficou a um ponto de nós e só perdeu porque o Arroyo errou a bola decisiva (destaque para a excelente marcação do Alex nesse arremesso final).

Eu ficava torcendo para a bola ficar nas mãos do Huertas, mas não, sempre deixam o Leandrinho decidir o que fazer no final do jogo. Pra mim o negócio é simples: ou o Leandrinho decide mesmo o jogo e passa a incorporar isso em seu estilo, ou escolhemos outra estrela para finalizar jogadas (Splitter, Huertas, minha mãe), ou então deixamos essa besteira de jogador para decidir de lado e mantemos o basquete coletivo. Sei que o psicológico atrapalha no final, mas se a seleção brasileira tivesse tentado manter o mesmo padrão de jogo, ainda que fazendo xixi nas calças, o resultado teria sido melhor.

Cabe ao Moncho resolver o que o Brasil fará na hora da pressão, em especial porque os adversários no Mundial vão ser infinitamente superiores e a gente não estará com 30 pontos de vantagem no último período. Cabe a ele ampliar a rotação de jogadores na equipe e garantir que o nível não caia tanto com as substituições. E, o mais importante, cabe aos responsáveis na CBB manter o Moncho na seleção. As desculpas que poderiam ser dadas foram pro lixo, porque o Brasil venceu, mostrou outra postura, outro estilo de jogo, jogou um basquete moderno e deixou os jogadores importantes (Leandrinho, Varejão, Splitter) felizes da vida, satisfeitos, confiantes. O Nenê vai ouvir isso, vai saber que agora há um trabalho sério, com resultado e visibilidade. Assim, fica difícil não aparecer para jogar. Quando o trabalho é uma merda e ninguém fica nem sabendo, pra quê o jogador vai se dar ao trabalho de jogar de graça e arriscar seu ganha-pão na NBA? Não rola. Mas com o trabalho desempenhado agora, o Nenê deve aparecer, todos os outros jogadores devem voltar, e portanto não negociar o retorno do Moncho seria uma vergonha. Agora, queridos engravatados-que-assinam-cheques, a torcida brasileira está assistindo. Não tão de perto quanto seria o ideal, mas perto o suficiente para fazer barulho e reclamar de qualquer tropeço, o que é um baita avanço se comparado com o basquete invisível de um par de anos atrás.

Ganhamos no sufoco, na sorte, graças a um erro no último arremesso de Porto Rico. Mas os acertos na seleção são evidentes e levantam um basquete que precisava agora justamente desse apoio, desse carinho. Para o Mundial, no entanto, tudo muda de figura: precisamos nos preocupar em não passar vergonha. Seria lucro simplesmente manter o belo trabalho, a evolução gradual. Ficamos como sempre aguardando, torcendo pela permanência do Moncho, e molhando nossas calças de preocupação: por favor, por favor não estrague tudo de novo, senhora CBB – e senhor Carlos Nunes, claro, que já avisou que, se o Moncho não continuar, vai dar as rédeas para um treinador brasileiro. Legal, nem estamos tecnicamente defasados mesmo, não é?

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