Tchau, Paul Westphal

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DeMarcus Cousins esconde com a mão o que acha do seu treinador

“Que ataque?”

Foi assim que DeMarcus Cousins respondeu a uma pergunta sobre as dificuldades do ataque do Kings após uma derrota contra o Knicks no quarto jogo da temporada. Não foi o único. Tyreke Evans também criticou o sistema ofensivo na mesma partida: “Eu tento ficar tão livre quanto posso e criar. Não tem nada organizado pra mim, ninguém realmente no ataque. Nós perdemos, ninguém sabe o que fazer.”

O Kings está mais perdido do que cego em tiroteio faz tempo. O sistema ofensivo não se firmou nas duas temporadas em que o técnico Paul Westphal comandou a equipe, mudando constantemente. Nos últimos tempos, o ataque tenta ter como foco o jogo de garrafão, apostando no talento do jovem DeMarcus Cousins, mas sem deixar de lado o jogo de velocidade que Westphal tentou imprimir e que tanto favorece Tyreke Evans. Não tem funcionado, mas é difícil saber se é inabilidade do Westphal ou se trata-se apenas de um time jovem demais, com dificuldade de implementar o plano tático, cometendo erros constantes e, algo menos lembrado, um time que fede simplesmente por ter jogadores fracos, num nítido trabalho de reconstrução agravado por más decisões dos engravatados e uma novela mexicana constante que é a franquia sair ou não de Sacramento. Ao fim da temporada passada ninguém falava de melhorar o elenco porque o foco estava em levar a equipe para Anaheim, como querem os donos. Mas DeMarcus Cousins soube deixar tudo isso de lado e, com fina ironia, apontar os dedos para onde acredita estar o problema:

“Não sei o que aconteceu. Usamos o ataque que o técnico mandou a gente usar. Apenas fizemos o que o técnico disse. Tem que fazer o que seu técnico diz.”

Foi um dedo molhado na orelha de Paul Westphal, o que é bastante estranho porque Westphal sempre foi conhecido por lidar bem com pirralhos. Sua contratação pelo Kings teve em mente o lento e doloroso trabalho de polir as futuras estrelas da franquia, e ninguém tinha pressa para que a equipe começasse a ganhar jogos de uma hora para a outra. Mas a ofensa de DeMarcus Cousins não foi totalmente gratuita. Na verdade, foi sua resposta aos comentários de Westphal no primeiro jogo de pré-temporada do Kings, quando o técnico chamou o Tyreke Evans de preguiçoso, reclamando que seus jogadores estavam em péssima forma física e não estavam se esforçando. Ao reclamar publicamente de seus jogadores, Westphal recebeu na mesma moeda: seus jogadores, especialmente Cousins e Evans, começaram a reclamar dele publicamente também. Tyreke Evans teve o cuidado de ser mais sutil e genérico em suas reclamações, mas o Cousins não sabe o que é sutileza. Desde seus tempos de colegial ganhou fama por ser esquentado, criar problemas para seus técnicos e não ser dedicado nos treinamentos. Dessa vez, Cousins chegou para a pré-temporada em perfeita forma física, dizem que em melhor condição do que qualquer outro jogador de seu time. Então se sentiu com moral para revidar à altura o ataque de seu técnico.

Paul Westphal não deixou a reclamação de Cousins de graça. Disse que problemas internos das equipes não deveriam vir à tona, mas que quando um jogador fala constantemente – e publicamente – contra a direção que a franquia tenta seguir, isso não pode ser ignorado. Terminou sua declaração dizendo que DeMarcus Cousins havia pedido para ser trocado e que estava dispensado do jogo seguinte do Kings.

Cousins apareceu para o jogo em roupas civis, não entrou em quadra, e poucas horas depois seu empresário já avisava que Cousins não tinha pedido uma troca porcaria nenhuma. O que havia acontecido? O pirralho pode ter pedido uma troca num bate-boca com o técnico, ali de cabeça quente, sem ser sério, ou então Westphal é quem decidiu que ele seria trocado por estar reclamando publicamente do treinador. Não saberemos exatamente o que aconteceu, mas Cousins voltou ao time na partida seguinte. Como comentei no resumo da rodada de ontem, o pirralho simplesmente chutou o traseiro de todo o garrafão do Nuggets, dominou o jogo enquanto esteve em quadra, mas saiu com 6 faltas em pouco mais de 20 minutos de jogo. É o resumo perfeito da carreira do Cousins: não tem cabeça, não tem controle, mas é uma força no garrafão que não pode ser ignorada. A demonstração foi o bastante para que Paul Westphal fosse demitido no dia seguinte.

O técnico não teve nenhum sucesso no comando da equipe, mas não se esperava que ele tivesse. Dele, era esperado apenas que cuidasse dos jovens jogadores, que os tornasse novas estrelas. Assim que reclamou dos seus jogadores publicamente, numa clara estratégica motivacional, os jogadores atiraram o técnico na fogueira sem dó nem piedade. Se os seus dois jogadores principais estão malhando o técnico em todos os jogos, algo precisa acontecer: ou os jogadores são repreendidos ou então o técnico dança. É claro que o técnico dançou.

O Paul Westphal não é uma grande perda, e mesmo se fosse não daria para perceber, porque não tinha material para trabalhar e portanto não faria diferença. O que preocupa, no entanto, é a mensagem que o Kings está passando para DeMarcus Cousins: reclamou, ganhou – como nossos leitores no Twitter afirmaram em massa, é o Neymar de Sacramento. Phil Jackson já cansou de reclamar de seus jogadores em público como “estratégia zen-budista de motivação transcendental” ou alguma coisa pomposa do tipo, e o Lakers nunca sonharia em mandá-lo pastar por isso. Westphal aprendeu com dureza o lugar dos técnicos nessa nova economia, em que as franquias borram as calças de medo de perder suas estrelas para cidades mais abastadas. DeMarcus Cousins não pode ser contrariado senão pode decidir ir para New York, onde o cachorro-quente é mais gostoso. O foco passa a ser esse, ao invés de construir franquias vencedoras.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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