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Quando Ron Artest e Tracy McGrady entraram em quadra juntos contra o Pistons, levando meu Houston à vitória, já imaginei que alguém iria se machucar feio. Trata-se do princípio de equilíbrio que demonstrei recentemente, depois da volta do armador Monta Ellis às quadras. Pois bem, dito e feito: alguém em algum lugar teria que se contundir e, para meu alívio, não foi Yao Ming, que deve voltar a jogar já na próxima partida. O azarado foi Michael Redd, a estrela do Bucks, que está fora da temporada com uma lesão grave no joelho justamente quando estava esquentando. Em janeiro, ou seja, nas últimas 14 partidas, as médias eram de 24 pontos e mais da metade dos arremessos convertidos. Para um arremessador, os números eram incríveis, mas também não fazia muita diferença porque, oras, o Bucks fede. Com o Andrew Bogut sofrendo a temporada inteira com dores nas costas e praticamente não jogando, e o Richard Jefferson mostrando que é mais uma viúva do Kidd (ou seja, um daqueles jogadores que ganham contratos bilionários porque parecem bons pra burro apenas por jogar com o Kidd – Mikki Moore, estou olhando pra você!), não havia nada que o Redd pudesse fazer sozinho. Verdade seja dita, com Bogut saudável, Jefferson bem e o Redd acertando qualquer coisa que tacasse pra cima, também não daria pra concretizar muita coisa, o time fede em essência – é tipo a Roberta Close, pode parecer linda, mas você sabe que tem alguma coisa muito, muito errada.
Ainda assim, a contusão é uma pena. Não apenas pela fase do Redd, que estava chutando traseiros como na sua passagem pela seleção americana e era a única diversão nos jogos do Bucks que eu acabava assistindo (porque os jogos do Leste começam antes e eu assisto a qualquer coisa pra não morrer de tédio), mas também porque, de um modo ou de outro, os veados roxos estavam indo para os playoffs. Agora que três dos quatro melhores times da NBA estão no Leste, muita gente deixa escapulir que é a Conferência mais forte, mas isso só vale para quem não tem paciência de olhar a tabela de classificação até o final. O Heat mequetrefe bem posicionado? Bucks arrumando uma oitava vaga? Pois é, tão forte quanto novela da Bandeirantes, não é porque tem a delícia da Juliana Silveira que dá pra levar a sério.
Enquanto no Oeste algum time considerável deve ficar de fora (Suns, alguém?), no Leste alguma equipe mequetrefe vai ter a honra de ser o capacho em que LeBron James vai limpar os pés na primeira rodada dos playoffs. O Bucks ia capengando mas ia, só que sem o Redd podemos descartar a possibilidade. Ontem, contra o Wolves, a estrela foi Richard Jefferson e seus 3 arremessos certos em 15 tentados. Ele já pode dar as mãos para o Kenyon Martin e pular num abismo, gritando o nome do Kidd, e dar adeus às chances de voltar aos playoffs tão cedo. O engraçado é que, se o Bucks despencar, uma série enorme de times horríveis podem conseguir agarrar essa oitava vaga. Ou seja, no fundo a briga no Leste vai ser muito boa, embora de qualidade questionável. Tipo uma maravilhosa luta no gel entre várias mulheres, mas todas pertencentes à banda Fat Family.
Na prática, todas as equipes (tirando o Wizards, que já desistiu da brincadeira faz tempo e já está muito interessado – talvez até demais – na primeira escolha do próximo draft) têm chances concretas de chegar à pós-temporada. Mas algumas são claras favoritas: o Nets, embora um leitor nosso ache fogo de palha; o Knicks, que ontem venceu o Houston, com o banco marcando mais de 50 pontos pela terceira vez consecutiva; e o Bobcats, que é o favorito do Denis pra conseguir a vaga. Vai ter gente dizendo que o Bulls e o Pacers têm chances reais, e até é verdade, mas fica difícil ver os dois times aguentarem o ritmo dos outros três acima. É uma corrida de cegos ajeijados, mas alguns pelo menos sabem pra que lado estão correndo.
No nosso preview de temporada da Divisão Central, rolou chororô porque colocamos o Bucks na frente do Pacers, lembram? No fundo acertamos em termos, o Bucks tinha mais time até o Redd virar farofa, mas agora é o momento do Pacers escalar a tabela e deixar os viadinhos roxos para trás. O Troy Murphy teve uma conversinha com os Monstars, do Space Jam, e pelo jeito conseguiu recuperar seu talento de jogar basquete, o TJ Ford está saudável de novo e o Mike Dunleavy finalmente retornou ao elenco depois de passar quase toda a primeira metade da temporada de fora. Ou seja, as peças estão aí para uma arrancada rumo aos playoffs, graças principalmente ao nível em que Danny Granger está jogando. Tenho algumas ressalvas aos seus números, porque ele sofre da “Síndrome de Kevin Durant novato”, que é poder atacar quando e como quiser porque todo mundo vai passar a mão na cabeça e agradecer. “Senhor Granger, você arremessou do meio da quadra? Muito bem, senhor, faça de novo! Você assaltou três bancos, matou duas mulheres, vestiu sua cueca na cabeça e enfiou moedas nas orelhas? Muito bem, senhor, continue o bom trabalho!” Ainda assim, não dá pra negar que o Granger é agressivo, atlético, inteligente e tem uma mira privilegiada da linha de três pontos. Havia uma dúvida muito grande sobre se Granger seria uma estrela capaz de ter um time construído à sua volta, mas agora creio que nenhum fã razoável se pergunte isso de noite, antes de dormir. O Granger não é mais a estrela do futuro, ele é real e vai carregar esse time porcaria por muitos, muitos anos. Se isso é bom ou ruim, deixo para os torcedores do Pacers decidirem.
Mas como o Sindicato dos Blogueiros de Basquete que Não Ganham um Centavo exige que façamos palpites (e sequer nos dão um plano dentário ou cesta básica!), eu fico com o Knicks e, apoiando a aposta do Denis, tenho uma fé no Bobcats. Simplesmente porque são os dois times com mais identidade, mais conscientes do que estão fazendo, mesmo quando as coisas não dão nem um pouco certo. O Knicks tem a cara do D’Antoni, ataca sempre do mesmo jeito e no mesmo ritmo e, como o antigo Suns, vence os times medianos mesmo que não tenha muita chance contra os times de verdade. O Bobcats tem a cara do Larry Brown, defende cada vez melhor, e embora não tenha o talento ofensivo para derrotar os grandes times, consegue anular alguns ataques e sair vitorioso. Com Nets e Pacers tão inconstantes (eles não tem cara de nada, é tipo a Sandy!), com o Bulls jamais escapando da mesma deficiência (pare uma pessoa alatória na rua, pergunte a ela qual é o problema do Bulls, e se ela não perguntar se o Jordan ainda está jogando, a resposta será “pontos no garrafão”) e com o Raptors sequer estando nessa conversa (o que diabos aconteceu com eles?), acho que a luta pela oitava vaga estará nas mãos dos elencos mequetrefes com técnicos experientes.
Os veados roxos estão com uma mira nas costas, e é temporada de caça a esses animais bizarros. Quem passar o Bucks primeiro estará com um pé nos playoffs, e a disputa será muito aberta. O Leste finalmente merece respeito: as equipes boas são boas de verdade, e as equipes ruins vão todas caçar a oitava vaga. No mínimo será divertido – menos pro Michael Redd, claro.