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E acabou para o Boston Celtics também. Em uma série em que eles nunca pareceram ter muita chance, tomaram de 4 a 1 do Miami Heat. Antes do campeonato começar esse confronto era aguardado ansiosamente, durante a temporada regular o Boston venceu os três primeiros confrontos categoricamente, mas na famosa hora de “separar os homens dos meninos” os meninos venceram com o pé nas costas. E as coisas ficam mais simbólicas do que isso: Com a eliminação de Shaquille O’Neal, que mal jogou nessa série por causa das suas contusões, é oficialmente o fim de uma era na NBA. Desde 1995 não víamos uma final da NBA sem Phil Jackson, Gregg Popovich ou Pat Riley treinando um dos finalistas. Jackson e Riley já se aposentaram e Popovich diz que pendura a prancheta quando Tim Duncan encerrar a carreira, ou seja, falta pouco. Entre os jogadores essa será a primeira final desde a aposentadoria de Michael Jordan em 1998 que não terá Kobe Bryant, Tim Duncan ou Shaq em uma das equipes.
Até o ano passado a gente dizia que a pivetada, com Kevin Durant, Chris Paul, Dwight Howard e mais um monte de gente estava aos poucos tomando conta da NBA, mas enquanto os títulos ficavam nas mãos de Paul Pierce e Kobe Bryant era difícil aceitar que a mudança tinha chegado. Mas nesse ano só o Dallas Mavericks com Dirk Nowitzki e Jason Kidd ainda pode honrar a velha guarda. Essa mudança de cenário, se concretizada, terá como símbolo maior essa vitória esmagadora do Heat sobre o Celtics.
A estratégia do Celtics para vencer o Heat foi a mesma que usaram na temporada regular, tentando impedir as infiltrações de Dwyane Wade e LeBron James e forçando eles e o resto do elenco a arremessos de longa distância, Chris Bosh seria bem marcado por Kevin Garnett dentro do garrafão e tudo estaria certo. Acontece que eles sabiam o que fazer, só não conseguiam. Por melhor que Delonte West tenha sido incomodando Wade, não conseguiu deixá-lo longe da cesta, mesma coisa vale para Pierce marcando LeBron e, *gasp*, Garnett com Bosh. O Chris Bosh não foi magnífico ou fora de série, mas fez alguns bons jogos e foi mais regular que seu adversário de posição. Aliás, o que se passa com os alas de força da NBA nessa rodada? Bosh foi bom, mas longe de ser um All-Star. Boozer e Josh Smith tiveram cada um deles um jogo bom em toda uma série de 6 partidas, Pau Gasol foi um desastre e Serge Ibaka nem sombra do cara que arrasou com o Nuggets. Todo o talento deles foi transformado em bratwurst e engolido pelos dois que sobraram, Zach Randolph e Dirk Nowitzki estão destruindo com tudo e todos.
Voltando ao Heat e Celtics, em alguns jogos, no primeiro por exemplo, os verdes ainda tiveram o azar dos coadjuvantes do Heat estarem acertando as bolas de três, o que deixou tudo mais difícil. Mas nos últimos jogos nem isso, o Big 3 (que tá mais para Big 2 e mais um bom jogador chamado Chris Bosh depois das críticas) arremessava 90% das bolas da equipe e ignorava o resto e mesmo assim não foram parados.
No último jogo da série o placar estava parelho até o finalzinho quando o Heat disparou, nesses minutos finais o Heat tentou 8 arremessos: 4 foram bandejas (3 entraram), 3 foram bolas de três quase sem marcação (todas caíram) e só uma foi a bola que o Celtics queria ver, um longo arremesso de 2 forçado. Esse não virou cesta. O Heat também garantiu a vitória na defesa, sua pressão e dobras na marcação já eram efetivas e melhoraram ainda mais quando o Rajon Rondo se machucou e eles perceberam que poderiam deixar ele de lado, cheio de espaço. A boa defesa garantiu o placar apertado até nos momentos em que o Miami Heat lembrava um pouco mais aquele time não tão brilhante da temporada regular.
Mas essa superação individual dos jogadores do Miami sobre os do Boston não quer dizer que eles não joguem como um time. Esse tipo de acusação fazia mais sentido no começo da temporada, mas agora é birra de quem (com vários motivos, é verdade) quer odiar o Heat. Eles apelam para a individualidade muitas vezes, fato, mas pelo menos dividem entre dois ou três jogadores, o idolatrado Bulls que todo mundo aprendeu a amar só tem o Derrick Rose. E, não custa lembrar, o Celtics campeão de 2008 era o menos coletivo de toda essa era do Big 3. Naquele ano Rajon Rondo era bem menos importante e eles foram campeões basicamente sendo uma das melhores defesas da história e mantendo as coisas simples no ataque. Era isolação do Paul Pierce, alguns corta-luzes para o Ray Allen e pick-and-pop com o KG. Muito diferente das mesmas jogadas repetitivas (e agora eficientes) do Miami? Eu acho que não.
Existe muito a se criticar sobre o Miami Heat no último ano, desde o comportamento esnobe até o estilo de jogo feio e que muita gente considera “peladeiro”. Mas nos playoffs está tudo diferente, o time está jogando consistentemente e até os jogadores estão controlando mais a boca. Quer dizer, mais ou menos, quando o Wade deu um waza-ari no Rondo e o armador do Celtics machucou o cotovelo uma repórter perguntou na entrevista coletiva se o Wade considerava que tinha feito uma jogada suja. Enquanto o D-Wade foi politicamente correto, o LeBron só disse de canto de boca: “retardada“. A polêmica foi grande, mas ele não só pediu desculpas depois como até pediu desculpas sobre a maneira com que deixou o Cavs na última offseason! Sério, ele realmente disse que queria que as coisas tivessem sido levadas de um jeito diferente. É a redenção do King James? Ainda não, mas foi um bom começo, nada como vencer para acalmar os ânimos.
Mas e o Celtics? Quem culpar? O que aconteceu? Para onde apontar o dedo? É a parte mais divertida, afinal! Bom, não tem como não pensar “E se eles não tivessem trocado o Kendrick Perkins?”. Eu não sei se seria o bastante para eles vencerem a série, mas as coisas teriam sido diferentes. Não que o Perkins seja deus na terra, valorizaram ele mais do que deveriam esse ano, mas o Celtics funcionava melhor com um pivô forte lá no meio e sentiram falta disso na hora de parar as infiltrações de Wade e LeBron. No começo da temporada o Celtics até venceu o Heat sem Perk, mas tinha Shaq jogando minutos consideráveis e Jermaine O’Neal um pouco mais saudável (para o nível Jermaine, claro). E se vocês lembrarem até o novato Semih Erden estava mandando bem no garrafão por alguns minutos no começo da temporada. O Celtics sentiu falta não só do Perkins, mas de qualquer pivô que pudesse dar uma defesa forte para eles, então não é para culparmos o General Manager Danny Ainge só por trocar o Perkins, mas por também mandar Erden para o Cavs e confiar que os dois O’Neals estariam saudáveis para segurar o tranco. E não dá pra culpar os pivôs, eles não escolheram se machucar, o Danny Ainge deixou a chave do carro com a criança de 2 anos e não pode culpar ela por ter tacado no bueiro.
A troca do Erden faz parte da destruição do banco de reservas do Celtics que aconteceu na data-limite das trocas em fevereiro. Além do pivô turco e de Perkins, saíram Nate Robinson, Marquis Daniels (que estava machucado) e Luke Harangody. Com todas essas mudanças em poucas semanas o eficiente banco verde tinha virado um apanhado de jogadores que nunca tinham treinado juntos como Carlos Arroyo, Jeff Green, Troy Murphy e Nenad Krstic. Nenhum deles é ruim, mas nenhum também conseguiu se adaptar ao esquema tático verde e pouco contribuíram até o fim da temporada. Nessa série contra o Heat só o Delonte West foi relevante vindo do banco e em algumas vezes, como na prorrogação do jogo 4, chamou a atenção mais pelos defeitos do que pelas qualidades. Se o Celtics tivesse um bom grupo de reservas para abusar do fraco banco do Heat talvez as coisas tivessem sido um pouco diferentes. Com os titulares jogando tempo demais deu até tempo para eles se desentenderem: o que diabos o Rajon Rondo queria entregando a bola para o Paul Pierce? Você é o armador, toma essa porra de bola de volta!
É muito fácil só culpar a idade dos jogadores e a ausência do Perkins, mas eram duas coisas que já estavam lá quando eles foram o melhor time da NBA nos dois primeiros meses da temporada, o que faltou foi manter o banco de reservas que deixava os vovôs respirarem, o garrafão forte e um pouco de saúde; as contusões de Shaq, Jermaine e também de Rondo, que sofreu com dores nas costas e outros incômodos mesmo antes de machucar o cotovelo, deixaram o Celtics vulnerável. E calma lá, não quero dizer que eles venceriam o Miami Heat se tivessem mantido o elenco e estivessem saudáveis! Esses “e se” são tão interessantes quanto tomar coca-cola sem gás e sem gelo no meio de uma aula de trigonometria. Mas foram coisas que fizeram falta e que deixariam a série mais parelha, sem dúvida.
Para o futuro não tem nem o que pensar. É difícil demais na NBA conseguir uma base de elenco tão boa como essa do Celtics, por isso eu sou quase sempre contra desmontar times inteiros depois de alguma decepção. A era pode ser outra, mas não consigo imaginar alternativas melhores do que manter o trio de veteranos, Jeff Green, Rajon Rondo e sair por aí atrás de bons reservas para fechar o elenco. Doc Rivers já confirmou que fica no Celtics e assinou uma extensão de contrato de cinco anos, é continuar insistindo até que todo o trio seja tão velho que não possa mais participar dessa triste brincadeira: