>Trocando figurinhas

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Darren Collison joga como o Chris Paul, se move como o Chris Paul, 
se veste como o Chris Paul, mas tem a cara do Rajon Rondo
Tudo começou com o Hornets tendo duas figurinhas repetidas. A gente bate nessa tecla faz um tempo por aqui, de que adianta ter seus dois melhores jogadores jogando na mesma posição sendo que eles não podem estar em quadra ao mesmo tempo? Isso é legal se o resto do time chuta traseiros, mas não, o Hornets tem um elenco muitíssimo limitado e não pode se dar ao luxo de ter um jogador tão bom no banco. Um dos dois precisava dar o fora, ser trocado por outros jogadores para serem titulares, e na minha cabeça sempre foi o Chris Paul por ser mais cobiçado e muito, muito mais caro. Quando ele começou a chorar as pitangas querendo ir para o Knicks, achei que era a hora finalmente do Hornets fazer a troca e comecei a pensar na terrível maldição que às vezes parece assolar as camisetas de NBA no Brasil, sempre que lançam uma camiseta aqui o cara é trocado (não faz muito tempo que fiquei babando numa camiseta do Chris Paul numa loja por aí). Mas parece que convenceram o Chris Paul a ficar, então o escolhido foi seu coleguinha pirralho de posição: Darren Collison.
Do Hornets a gente fala melhor amanhã, em outro post. O que importa é que o Collison vai para o Pacers, que fez até sacrifícios de carneiros para conseguir um armador qualquer. Quando escrevemos sobre cada um dos times que não foram para os playoffs, ainda na temporada passada, afirmei que o Pacers com um armador de verdade provavelmente estaria na elite do Leste. A equipe de Indiana é uma daquelas que caiu no famoso “conto do TJ Ford“: você olha pra ele e vê um armador veloz, explosivo, com pulmão pra ir ali na Lua e voltar, mas quando coloca ele em quadra descobre que ele não passa a bola, enlouquece o resto da equipe, não toma uma única decisão correta e não tem qualquer coisa que lembre vagamente um arremesso. Muitos times se apaixonaram pelo TJ até descobrirem que ele te ganha um jogo e depois te perde dez, e nem adianta melhorar o elenco ao redor dele porque ninguém vai ver a cor da bola. Fora que ele se contunde o tempo inteiro porque não tem noção do que está fazendo, invade o garrafão como estiver, e o corpo dele não aguenta tanta porrada depois das lesões na coluna vertical que ele sofreu em quadra. A situação do TJ em Indiana ficou tão complicada que resolveram guardar ele no armário e não tirar mais. Não chegou ao absurdo que foi o Jamaal Tinsley, que um dia chegou pra trabalhar no Pacers e não tinha mais o nome dele em nenhum armário do vestiário, mas sempre deixaram claro que o TJ Ford não jogaria mais pela equipe. Acabaram voltando atrás, no desespero ele até entrou em quadra, mas o armador está oficialmente sendo oferecido em trocas desde que o homem inventou a roda. 
Se o TJ Ford fosse um pivô grandão, alguém teria aceitado a troca porque o talento dele é uma tentação mesmo, mas a fama de destruir equipes não pega nada bem justo numa geração que repentinamente ficou com fobia de sujeitos como Marbury e Allen Iverson. Uma década atrás o TJ Ford venderia milhões de camisetas e teria espaço em qualquer equipe da NBA, mas hoje em dia a mentalidade é outra e esses tipos são considerados cânceres a serem exterminados. Então, na falta de uma troca possível e depois de uma proposta pro Bobcats pelo DJ Augustin ter miado, o Pacers foi com tudo atrás do Darren Collison. Só tiveram que envolver outros dois times na parada e aí conseguiram, foi facinho.
O que o Pacers mandou foi o Troy Murphy, ala fodão que não muito tempo atrás teve seu talento roubado pelos Monstars, do “Space Jam”. Ele tem um jogo muito refinado, arremessa de qualquer lugar da quadra – inclusive da linha de três pontos – com naturalidade, e é uma máquina de pegar rebotes. Tem dificuldades defensivas e não joga bem de costas para a cesta, mas seria útil em qualquer time. Quando chegou no Pacers, simplesmente desaprendeu a jogar basquete e sumiu da mídia, mas voltou aos poucos e ainda quebra um belo de um galho. O jogador de garrafão será mandado para o Nets, que precisava muito de um jogador da posição. No elenco atual do Nets, o novato Derrick Favors seria titular imediato ao lado de Brook Lopez. Por um lado é bem legal colocar um calouro direto no fogo e mandar um “se vira”, dar moral, crédito, e deixar o cara feder bastante até pegar o jeito, como foi o que aconteceu com o Kevin Durant. Mas é que tem gente, como o Kwame Brown, que simplesmente desapareceria da NBA se fizessem algo desse tipo (tá explicado, o Kwame desapareceu mesmo). Não é todo mundo que tem cabeça pra aguentar a pressão de ser titular num time que só perde, como deve ser o Nets na temporada que vem, e ninguém quer queimar o jogador. O Troy Murphy garante que o Favors possa vir do banco ou então ser titular e jogar menos minutos, quando a coisa estiver mais pesada. Ao fim da temporada que vem o contrato do Troy Murphy vira farofa, o Favors já pode ser titular absoluto com uns pelinhos pubianos a mais no corpo, e o Nets ainda fica com espaço salarial para tentar – de novo – uma grande estrela para talvez salvar a franquia. Foi um plano seguro, de quem não tem pressa para ganhar mas que sabe exatamente o que está fazendo (ao contrário do Wolves, mas isso é outra história).
Já o Nets, pra participar dessa suruba, mandou o Courtney Lee para o Houston Rockets, que por sua vez mandou o Trevor Ariza para o Hornets. Como torcedor do Houston que assistiu a praticamente todas as partidas da equipe na temporada passada (e que bizarramente assistiu a uma caralhada de partidas do Nets pra entender o porquê deles federem tanto), posso dizer que estou muito feliz com a troca. Por mais fã que eu seja do Ariza, seu estilo de jogo era completamente descartável no Houston. Ele é um baita defensor, mas para estar em quadra exigia que o Shane Battier (um dos melhores, se não for o melhor, defensor da NBA) estivesse no banco. No setor ofensivo, lhe faltava domínio de bola para criar o próprio arremesso, coisa que o Kevin Martin passou a fazer, e seus arremessos de três são inconsistentes, ao contrário do novato Chase Budinger, que é um monstro no perímetro. As bolas de três são essenciais para o esquema tático do Houston e o Ariza sempre ficou desconfortável em quadra. Brilhava mesmo nos contra-ataques, e nisso deixará saudades, mas não muitas. O Courtney Lee também é espetacular nos contra-ataques, é um excelente defensor, e desde novato já se sentia mais à vontade para criar o próprio arremesso. Nos playoffs com o Magic, era normal ele ser o único jogador da equipe a ter coragem de arremessar nos primeiros minutos, e acabou recebendo o fardo de decidir um punhado de partidas (lembro dele errando um arremesso decisivo no final de uma partida das Finais contra o Lakers). É notório o quanto ele ficou puto de ser trocado para o Nets porque queria vencer, decidir jogos, estar nos playoffs, nunca aceitou estar na equipe de New Jersey e foi um dos que mais criticou o começo historicamente ruim de temporada do time, exigindo explicações do elenco e da comissão técnica. Ou seja, o Nets claramente se livrou dele porque ele é chato demais para ficar numa equipe que ainda pretende feder por mais uns anos. No Houston, vai criar o próprio arremesso, arremessar de três, jogar no contra-ataque e defender – e o melhor, nada disso é na mesma posição que o Shane Battier! Vai ser reserva do Kevin Martin e talvez até do Battier, em escalações mais baixas, e ainda terá minutos e oportunidade de ir para os playoffs. A troca é melhor do que parece para o Houston primeiro porque o Courtney Lee é melhor do que se imagina, é excelente ladrão de bolas e arremessador de três pontos, e segundo porque ele é mais barato do que o Ariza e o Houston já está acima do teto salarial. O Ariza não saiu caro, mas reassinar Luis Scola e Kyle Lowry era mais essencial e saiu uma pequena fortuna, foi preciso dar um jeito nas finanças.
O Ariza deve se sentir muito mais à vontade no Hornets com os contra-ataques puxados pelo Chris Paul e sendo o principal defensor da equipe. Não é nenhuma estrela para que o Chris Paul queira jogar em New Orleans até o fim da vida, mas é melhor do que o resto do elenco e o Hornets ainda conseguiu mandar para o Pacers, além do Darren Collison, o James Posey. O Posey fez fama no Celtics campeão uns anos atrás, porque ele é realmente um jogador sólido pra burro que ajuda qualquer equipe que queira ganhar um título – coisa que o Hornets não é nem nunca foi. Seu salário é grande demais para um simples carregador-de-pianos, mas será útil no Pacers se eles conseguirem ir para os playoffs. A equipe de Indiana sempre jogou numa correria excessiva (talvez fosse o simples fato de estar dentro do raio de 2 quilômetros da presença do TJ Ford) e não conseguia acionar as armas ofensivas que tem, nem o espetacular jogo de costas para cesta do Roy Hibbert. Eu sou todo apaixonadinho por essa nova safra de pivôs da NBA, porque além dos jogadores que estão mais na midia, como Dwight, Kaman, Bogut e Brook Lopez, ainda tem sujeitos como o Marc Gasol e o Roy Hibbert que podem ser os melhores da NBA na posição e a gente nem percebe direito. São todos muito técnicos, com pés rápidos e muita habilidade perto da cesta, e o Roy Hibbert (que já teve umas atuações monstruosas na temporada passada, tipo quando ele humilhou o Dwight Howard) é um dos melhores dessa safra. Com um armador de verdade, deve mostrar mais serviço e o Pacers passa a ser um time a ser levado a sério.
Meu único medo, no entanto, é com a qualidade do Darren Collison. Quando ele virou modinha na temporada passada todo mundo cravou ele como um dos melhores armadores dessa geração, e ele realmente chuta uns traseiros, mas grande parte da responsabilidade por isso era o esquema tático do Hornets. Analisei um pouco isso ainda na temporada passada, quando o garoto começou a explodir. Não é que o esquema do Hornets tenha feito o Collison bom, mas é que o Collison é bom para o esquema do Hornets. Por ser excelente ladrão de bolas, ter muita calma na hora de armar, cuidar bem da bola, ser um dos armadores mais rápidos da NBA e arremessar todo torto, se encaixava bem no papel do Chris Paul, em que ele passava o tempo inteiro com a bola nas mãos e só puxava contra-ataques depois dos roubos de bola. Se no Pacers a bola passar tempo demais nas mãos de Danny Granger e o time só jogar no contra-ataque, veremos algumas fraquezas do Collison expostas (como seu arremesso simplesmente quebrado), e algumas de suas melhores qualidades (como acalmar o jogo e tomar as decisões mais simples na hora de passar a bola) serão ignoradas. Se o Pacers não mudar o modo de jogar e simplesmente colocar o Darren Collison no meio daquela bagunça, ele será apenas um jogador normal. O truque é lhe dar a bola e não exigir que ele seja acionado para arremessar, mas será que o Granny Danger topa a brincadeira?

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