>Trocas furadas

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Mandar jovens talentos como o Eric Maynor em troca de
nada dá bastante certo, basta perguntar para o Knicks
O Hornets é o pior time do mundo pra fazer trocas. Não é que eles façam trocas idiotas, é que as trocas que eles fazem sequer chegam a se concretizar. Na temporada passada, o time resolveu mandar o Tyson Chandler para o Thunder, mas na hora dos exames médicos o pivô foi diagnosticado com uma lesão grave no pé e não foi liberado para ser trocado. Ou seja, voltou para o Hornets com aquela cara de bunda de quem tomou pé na bunda da namorada mas a namorada voltou porque não arranjou ninguém melhor. Nessa temporada, eles conseguiram mais uma troca que não aconteceu: Devin Brown iria para o Wolves em troca de Jason Hart, o magrelo que quase não entrou em quadra na sua carreira, mas no último segundo, depois da troca já ter sido amplamente anunciada e os jogadores já estarem de malas feitas, o Wolves deu pra trás e preferiu aceitar uma outra troca, dessa vez do Suns.
A troca do Suns mandou Alando Tucker pelo Jason Hart, mas garantiu também que o Suns vai continuar pagando o salário do Tucker nessa temporada. Então, já que o Jason Hart ficou tão concorrido pela primeira vez desde o baile de formatura, lá foi o Devin Brown voltar para o Hornets com cara de bunda, sabendo agora que ele é meio indesejado. O motivo da troca frustrada do Brown é o mesmo que a troca frustrada do Tyson Chandler: economizar umas verdinhas. O Hornets está bastante acima do limite salarial, tendo que pagar multas por isso, e o time fede um bocado. Depois de uma campanha forte nos playoffs e a ideia de que “com apenas mais um grande jogador de banco a gente chega lá”, o Hornets percebeu que era apenas um time mequetrefe que, no momento certo, com o ritmo certo e a mentalidade certa, chegou bem mais longe do que devia. Nem em um bilhão de anos aquele time, com aquelas mesmas peças, conseguiria chegar de novo onde chegou. Bastou o Chris Paul estar sentindo mais o físico para o time despencar e perceber que James Posey, nada além de um bom carregador de piano para vir do banco, não iria fazer milagre. Não tem absolutamente ninguém no elenco capaz de pontuar, já que o Stojakovic é do tempo da tevê Manchete e o David West está longe de ser uma máquina de fazer pontos.
O Devin Brown, por isso, quebra um belo de um galho. Sempre foi subestimado, já chutou traseiros com o Spurs quando foi campeão, já ajudou o Cavs chutando traseiro nos playoffs, e portanto tem mais experiência em pós-temporada do que todo mundo no elenco do Hornets. O rapaz é forte, sabe atacar a cesta, é muito bom nos arremessos de três pontos e aprendeu a ser um bom defensor. Não é muito consistente ofensivamente, mas sempre dá um jeito de contribuir e eu fico aqui pensando o porquê dele ter partidas tão boas e ficar migrando de time para time sem uma casa fixa, parece até o Quentin Richardson. Com média de 10 pontos por jogo já dá pra ser escolhido o macho-alfa do Hornets quando o Chris Paul está de férias, mas com a crise econômica acabou sobrando pra ele.
O ridículo é que o Hornets está nessa situação de não ter pontuadores e estar acima do limite salarial porque o Stojakovic ancião ganha 14 milhões esse ano (e 15 milhões no ano que vem), o lixo do Morris Peterson ganha 6 milhões (ele foi contratado como a grande esperança do time nos arremessos de fora, mesmo que na época qualquer um que assistisse aos seus jogos soubesse que ele era o pior titular da NBA), e o James Posey ganha outros 6 milhões (um tanto salgado para um reserva de luxo). Essa receita todo mundo conhece: umas trocas imbecis e uma caralhada de contratos inflados e você tem um delicioso Knicks para viagem, com refrigerante e batatas médias. Pelo menos como o Chris Paul é um jogador espetacular que faz até os piores companheiros de equipe renderem razoavelmente, o Hornets consegue se safar de ser o Knicks e ao menos luta por uma vaga nos playoffs. Há esperança para esse time voltar a fazer barulho nos playoffs, aliás, mas é só quando esses contratos idiotas terminarem e é necessário assinar com moderação os contratos novos. A equipe está longe de um título, não dá pra ir dando bilhões para jogadores que são tratados como “a peça faltante”. Quando o Magic exagerou no contrato do Rashard Lewis, não dava pra criticar muito porque eles acreditavam que um grande arremessador de três era o que faltava para que o time fosse campeão. E, bem, eles acertaram em cheio e agora não dá pra criticar o contrato inflado. O Hornets não pode pagar Stojakovic, Posey e Peterson como se eles fossem apenas o arremessador que falta para um título, o time está completamente pelado. Chris Paul e David West são a alma da equipe, um par de jogadores inteligentes e que jogam com habilidade e finesse, mas todo o resto dá pra jogar fora e começar de novo. Em plena crise econômica, com os times desesperados quando ultrapassam o limite salarial, é preciso se livrar dos contratos ruins e ter moderação nos novos. Mas se livrar do contrato de 1 milhão do Devin Brown é exagero, o rapaz não merecia essa humilhação enquanto o Stojakovic enche as orelhas com 14 vezes mais grana. Pra provar o ridículo, Devin Brown voltou a jogar pelo Hornets, fingiu que o namoro não tinha terminado e enfiou 30 pontos no Jazz só pra provar que pode. Ou seja, voltou pra casa corno mas deu um trato na patroa.
O Jazz, aliás, também está nessa onda de economizar dinheiro. O armador draftado nessa temporada, Eric Maynor, que se saiu tão absurdamente bem na ausência do Deron Williams, foi trocado para o Thunder. O Jazz recebe um maluco draftado há muito tempo atrás que nunca vai aparecer pra jogar porque está na Europa comendo umas italianas, enquanto o Thunder consegue finalmente um excelente reserva para Russell Westbrook, ampliando ainda mais o núcleo jovem desse time que vai chutar traseiros num futuro bem próximo. Para completar a troca, o toque mágico, o pó de pirlimpimpim: o Jazz manda Matt Harpring para o Thunder. O vovô tem uma infecção no pé, não deve jogar basquete nunca mais (para nosso azar, porque ele é um dos piores comentaristas de basquete do planeta e vai ficar torrando nosso saco), mas seu salário continuava valendo para o Jazz. Agora, o time paga menos taxas por ultrapassar o limite, embora não esteja nem perto de gastar pouco. Tudo porque nessa temporada resolveram ficar com Paul Millsap e Carlos Boozer, sem no entanto procurar ativamente uma troca pelo Boozer quando ele decidiu não ir embora. Com isso, Millsap tem salário de titular mas minutos de reserva, o time tem uma folha salarial de campeão mas campanha digna de Clippers, e a crise econômica acaba obrigando o time a se livrar de bons jogadores a preço de banana. Essa é uma boa maneira de estragar um time bem rápido: se livrar dos jogadores bons e jovens porque você assinou contratos gigantes para uns jogadores velhinhos. O Suns ficou se livrando das escolhas de draft para não gastar o dinheiro que usava nos veteranos e quase acabou se lascando por isso. Acabou dando sorte com carregadores de piano como o Jared Dudley, mas aprenderam a lição e devem começar a colecionar uns novatos antes que esse time morra e eles tenham que reconstruir tudo do zero.
O Eric Maynor foi uma grande sacada do Thunder, que já estava de olho nele desde a época do draft. O time está uma vitória atrás do Jazz, mas tem também um jogo a menos, então vai ser divertido se o Jazz tiver ajudado justamente o time que grudar em sua cola. Os dois brigam pelas vagas finais para os playoffs do Oeste, com a diferença de que o time de Utah é um time com sérios problemas, como o Denis tão bem relatou, enquanto o Thunder é um time jovem, animado, veloz, que está nessa só para adquirir experiência. Por lá não existe pressa, o Kevin Durant já teve anos de carta branca para arremessar como quisesse não importavam quais fossem os resultados, e agora o time testa seu entrosamento sem muitos compromissos com a vitória. O fato de que as vitórias estão vindo é simples fruto do talento e amadurecimento dessa garotada, já que a equipe teve os bagos para se livrar dos jogadores mais velhos e experientes, mesmo que talentosos, para dar minutos integrais e irrestritos para os pirralhos. O amadurecimento veio rápido, mas o que mais intriga com relação à essa equipe é o ânimo dos jogadores. Desde a temporada passada, quando eles estavam flertando também com uma das piores campanhas de todos os tempos, a animação dos jogadores teve uma crescida assustadora e incendiou o time inteiro. O Thunder decidiu trocentas partidas nos segundos finais na temporada passada inteira, aprendeu a ganhar no quarto período com intensidade e vontade, conseguiram começar a segunda metade da temporada ganhando mais do que perdendo e salvaram o recorde patético se tornando um time a ser levado a sério. Não imagino o que tenha acontecido, mas muito provavelmente foi aquela água secreta do Jordan que o Pernalonga dá pro seu time no Space Jam (pra evitar a pior campanha de todos os tempos, o Nets não precisa apenas seguir o exemplo do Thunder, precisa também dessa água do Jordan urgentemente). Desde o começo dessa temporada esse ânimo ainda está lá, e quando jogadores tão talentosos, que evoluem com velocidade de pokémon, querem o seu sangue com tanta intensidade, fica bem claro que eles vão te dar dor de cabeça. E agora com um armador reserva jovem e talentoso, para manter o mote do resto da equipe. Contratos idiotas e má administração dos salários não apenas estraga equipes, mas também favorece muito quem sabe o que está fazendo. O Thunder agradece, e num par de anos vai colher os resultados enquanto Hornets e Jazz vão estar começando do zero. Pra ver se aprendem.

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