>Tudo por um amigo

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Bromance

Sempre que tem uma troca aqui a gente gosta de meter o bedelho, dar palpite, analisar as causas e possíveis consequências. E não é que com menos de um mês de temporada já temos uma grande que envolve cinco jogadores? O Toronto Raptors mandou David Andersen, Marcus Banks e Jarrett Jack em troca de Peja Stojakovic e Jerryd Bayless do New Orleans Hornets. Um detalhe curioso (que não muda nada) é que Bayless, por ter sido adquirido há pouquíssimo tempo pelo Hornets, não poderia ser envolvido em nenhuma troca que envolvesse mais de 2 jogadores até o dia 23 de dezembro. Então, oficialmente, foram duas trocas: Bayless por Andersen e outra envolvendo os outros três atletas.

Foi uma troca bem secundária, dos cinco jogadores só um era titular nessa temporada, Jarrett Jack, e mesmo assim ele só joga 26 minutos por jogo. A média dos cinco envolvidos na troca é de 15 minutos por partida. A questão é, portanto, pra que se deram ao trabalho de fazer a troca se não tem ninguém importante nela?

O Raptors está pensando no futuro. O time que eles tem hoje não tem talento para ir longe e a solução para melhorar nos próximos anos está em conseguir jovens talentos no Draft (bem encaminhado com a campanha ruim), desenvolver alguns jogadores bons e jovens (Sonny Weems, Andrea Bargnani e DeMar DeRozan) e, é aí que entra a troca, conseguir alguns jogadores via Free Agency ou trocas.

Nessa troca o Raptors se livra dos contratos já expirantes de Andersen e Banks e o contrato do Jarrett Jack, que ainda durava mais dois anos com 5 milhões por ano por mais duas temporadas além dessa. Em troca eles recebem a pechincha do Bayless e os 14 milhões do Stojakovic que acaba ao fim dessa temporada. Além de economizar o dinheiro do Jack, que vai poder ser usado para renovar com o Weems, eles tem duas peças valiosas para troca. O próprio contrato do Stojakovic e a trade exception que eles receberam quando mandaram o Chris Bosh para o Miami Heat. Uma trade exception é mais ou menos um pedaço do seu salary cap que pode ser trocado. Ele é usado muitas vezes para fazer funcionar trocas entre jogadores de salários diferentes, como mandar um jogador que ganha 5 milhões por outro que ganha 12.

Portanto a gente espera que esse movimento do Raptors seja a primeira parte de um plano maior. Não é garantia que dê certo, como vimos o Bobcats não conseguindo trocar o contrato não garantido do Erick Dampier é capaz que o Raptors morra com a exception e o Peja na mão, mas eles vão estar ativos nas discussões de troca visando os times que estão interessados em contratos expirantes ou em se livrar de jogadores caros.

Se a troca pelo sérvio foi unicamente econômica, a do Bayless tem um fundo basquetebolístico. O jogador mostrou algum talento no Blazers (vocês lembram daquele jogo com quase 30 pontos contra o Spurs que a ESPN transmitiu?) e ainda é bem jovem, é um projeto que vale a aposta, até porque é uma aposta barata. Devem colocar ele de reserva do José Calderon, entrando para botar fogo no jogo e ver o que acontece, vai que ele resolve explodir e jogar o que poderia bem agora! O sucesso dessa troca vai ser medido pelo o que eles fazem com o contrato do Peja e como o Bayless joga. Vai ser uma temporada movimentada nos bastidores do Raptors.

O lado do Hornets é bem menos econômico e mais afetivo. O Jarrett Jack, jogador mais importante da troca, é amigo bem próximo do Chris Paul e eles sabem a importância que uma amizade pode ter em quadra. Existe um documentário chamado “The Youngest Guns” que acompanha os primeiros anos de carreira de dois jovens jogadores, Darius Miles e Quentin Richardson, na época jogando juntos no Los Angeles Clippers. É um filme ótimo para ver o lado psicológico do jogo: os dois são amigos bem próximos, fazem tudo juntos, descobrem o mundo da NBA, como é ter dinheiro, e não se desgrudam nunca. Até que Miles é trocado para o Cavs e sua carreira vai para o ralo, ele se sente sozinho em Cleveland, sente saudade do amigo, não tem com quem compartilhar as alegrias e as dificuldades e deixa de jogar o bom basquete que o havia transformado em grande promessa do começo da década.

Outro exemplo famoso é o de Steve Francis e Cuttino Mobley. Quando jogava ao lado de Mobley, seu melhor amigo, ele era o Stevie Franchise, um All-Star que era um dos melhores armadores da NBA. Quando foi trocado para o Orlando Magic ao lado do seu amigo ainda jogava muito bem, mas aí quando foi para o NY Knicks sozinho deixou de jogar basquete. Muitos analistas e até o próprio Francis colocam a falta do parceiro para justificar a queda de qualidade. Francis nunca foi dos jogadores com mais cabeça no lugar dentro do mundo da NBA.

São dois casos extremos, eu sei, mas que mais uma vez mostram que ao montar um time existem muitos outros fatores além de só amontoar talento. Eles viajam juntos, treinam juntos, conversam, quanto mais entrosamento tiverem fora de quadra mais fácil fica para jogar, para se apoiar nas derrotas e coisas assim. Se você não gosta do seu companheiro de time é bem fácil jogar a culpa nele depois de uma sequência de derrotas durante a temporada, por exemplo. Com o Chris Paul enchendo o saco para ser trocado antes da temporada começar, o Hornets tem feito de tudo para manter a sua estrela calma, conseguiram primeiro Trevor Ariza, depois o surpreendente Marco Belinelli e agora um grande amigo de Paul. É tudo para manter ele lá jogando bem e feliz.

O problema da troca está quando pensamos nos resultados práticos em quadra. O Jarrett Jack é um armador que pode jogar também na posição dois. Ou seja, ele só vai entrar em quadra quando o Paul descansar ou quando o técnico Monty Williams achar que ele rende mais do que Willie Green, Marco Belinelli e Marcus Thornton como armador de apoio. Isso vai dar o quê, uns 15 minutos por jogo? 20 no máximo. Valeu abandonar o Jerryd Bayless (que veio em troca de uma escolha de 1º round há poquíssimo tempo), e mais o valioso contrato expirante do Peja, só por um amigo e um armador reserva? E o contrato do Jack é longo, quem quer pagar 5 milhões por ano, durante três anos, para um cara que joga tão pouco? O cara é bom, mas ganha demais para ter um papel tão pequeno. Não foi o negócio dos sonhos.

Os outros dois que vieram no pacote não me incomodam. O Marcus Banks vai ficar batendo palmas no banco até seu contrato acabar no fim da temporada e o David Andersen deve até ser bastante usado. Ele é inteligente dentro da quadra e podemos dizer grosseiramente que ele é uma versão piorada do David West. Não tem a mesma capacidade de criar seu arremesso, mas pode passar o dia brincando de pick-and-pop com o Chris Paul e terá números expressivos quando seu arremesso estiver calibrado. Essa foi uma boa adição para ter mais opções no banco. O Andersen tem um Team Option na próxima temporada, isso quer dizer que o Hornets decide se mantém ele para a temporada que vem ou o libera, esse sim foi um bom negócio.

Mais trocas devem acontecer nessa temporada, menos vezes por amiguinhos e mais pelos contratos expirantes. Dêem uma olhada nos valiosos contratos expirantes dessa temporada e como vários envolvem times que estão atrás de mudanças. Michael Redd, Troy Murphy, Kenyon Martin… até fevereiro muita coisa rola.

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