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Everaldo Marques: Biiiiiingo

Hoje de madrugada e na manhã dessa terça-feira acaba o basquete na Paraolimpíada de Pequim. Para o Brasil resta uma partida, a disputa do 9° lugar contra a África do Sul, 0h15, horário de Brasília. Se vencer os africanos, o Brasil repete a posição do Mundial de 2006. Enquanto isso, Canadá e Austrália se pegam na final e a Grã-Bretanha pega o EUA na disputa do bronze.
Embora eu tenha me acostumado já com o mundo do basquete sobre rodas, ainda é bem esquisito falar de Austrália, Canadá e Grã-Bretanha em disputa de medalhas no basquete masculino, nem com o Nash o Canadá teria chance de ir tão longe no basquete tradicional e a Grã-Bretanha está apelando para o Luol Deng para conseguir ter alguma dignidade no basquete. Mas é só colocar uma roda embaixo do corpo que eles começam a ter talento, não é à toa que é o país com mais vitórias na Fórmula 1.
Já a Austrália eu achei que não ia a lugar nenhum sem a Lauren Jackson no elenco, sempre achei que a dupla de garrafão ideal para o time masculino era a Lauren Jackson e o Bogut, mas pelo jeito eles funcionam sem nenhum dos dois desde que tenham rodas. E é o que você está pensando mesmo, a Austrália venceu o Brasil no último segundo e agora está na final, enquanto o Brasil ficou na disputa do 9° lugar.
O que nos traz à discussão de se é o Brasil que está num nível alto e não conseguiu repetir os resultados ou se era a Austrália que estava em um dia ruim. Embora não seja nenhum especialista na área por não ter visto a maioria dos jogos como eu queria, achei que o Brasil está em um nível melhor do que essa 9° colocação (ou 10°) indica, o time sabe o que faz em quadra e tem jogadores bem talentosos, é um time que num dia inspirado pode vencer quase qualquer um, mas é um time irregular o bastante (até dentro do mesmo jogo) para ser capaz de perder pra muito time mediano também.
O Brasil é o que o Golden State Warriors foi na NBA no ano passado. Não pela correria, pela falta de tática e por ter um jogador com uma arma de fogo tatuada na barriga, mas por ser um time muito bom e que volta e meia vence os melhores. No ano passado o Warriors venceu o Lakers, Spurs, Rockets, Suns, Hornets, mas no fim das contas nem para os playoffs foi. O Brasil paraolímpico já tinha vencido Israel duas vezes, bateu (bem batido) a Alemanha antes do início do torneio e fez jogo duro com a Austrália, mas na hora do resultado, não veio nada além da disputa do 9° lugar, posição do Warriors no Oeste, aliás.
A classificação para a disputa do 9° lugar veio depois de uma tranquilia vitória sobre a Suécia, atual campeão européia, que não deve ter usado sua tática de colocar loiras absurdamente lindas para distrair os adversários. O placar foi 75 a 56 e o grande destaque brasileiro foi o Leandro Mirando, que foi bom de mira (lembra dos bons tempos em que o Bola Presa não tinha trocadilho?) e fez 14 pontos com 17 rebotes, sendo 8 deles ofensivos, no maior estilo Tyson Chandler.
Dos times finalistas, o meu time favorito é o Canadá. Não era antes da semi-final, eu não tinha um time favorito além do Brasil, mas a semi-final contra os americanos foi um jogo espetacular, o segundo melhor jogo que aquele ginásio já recebeu, perdendo apenas para a final olímpica entre Espanha e EUA. Ah, e desde já agradeço a SporTV, que não passou tantos jogos legais mas que passou justamente esse, o melhor. Agradeço também ao motel onde eu estava por ter a SporTV além dos tradicionais canais pornô.
O jogo começou com os Estados Unidos tomando conta. Venceram o primeiro período por 25 a 15, um placar expressivo se você levar em consideração que tem muito time por aí que demora dois períodos pra chegar nos 25 pontos. O Canadá não conseguia se achar no ataque e até o ala Patrick Anderson, o cara mais fodidão do basquete sobre rodas no mundo, resolveu dar uma de armador para ver se o time ia pra frente.

“Eles estavam em cima de mim, então abandonei meu papel de colocar a bola em jogo e fui eu mesmo com a bola para o ataque para aliviar a pressão. Erro enorme.”
Palavras do próprio Patrick Anderson em seu blog. Ele fez o que todo time não deve fazer, mudar totalmente as suas características devido a uma marcação pressionada, é justamente o que o outro time quer. Era preciso uma outra atitude.

“Mas assim que fizemos os ajustes corretos e mais alguns outros, paramos de sangrar e impedimos o jogo de sair de nossas mãos. Ainda estávamos 10 pontos atrás, mas no meio do segundo período eu já tinha percebido que o pior havia passado e que era hora da recuperação.”
O primeiro tempo acabou com uma difícil diferença de 12 pontos para os americanos e bem aos poucos o Canadá conseguiu baixar a diferença, no meio do quarto período ainda estava em 6 mas nos segundos finais o empate chegou em uma bola de 3 de Patrick Anderson. Ele estava bem marcado mas com uma habilidade incrível e sangue frio digno de Reggie Miller, levou o jogo para a prorrogação.
No tempo extra o jogo ficou pau a pau. Os EUA saiam na frente mas sempre Pat Anderson e o espetacular Joey Johnson, um primo branco de 15° grau do Joe Johnson do Hawks, sempre tinham uma resposta. Johnson em especial passou a prorrogação toda na linha de lance livre, cobrou 14 no jogo inteiro, a maioria na parte final do jogo.
Assim como no final do tempo normal, os americanos tiveram a chance de vencer o jogo com a última bola, mas falharam, o jogo foi para uma espetacular segunda prorrogação. Com jogadores sendo eliminados com faltas, como o ótimo Joe Chambers, os americanos sentiram a pressão, perderam a batalha dos rebotes e erraram cestas fáceis, bandejas e lances livres cruciais, dando a vitória ao Canadá.
A história era mais ou menos repetida, como conta Patrick Anderson:

“Nós sobrevivemos por pouco, mas agora podemos rir disso. Se tivessemos perdido eu não acharia tão engraçado. Como escrevi um tempo atrás, vencer cura qualquer coisa. Assim como o tempo. Eu sei disso porque aconteceu a mesma coisa em 2002, no Mundial. As semelhanças são claras: Canadá-EUA, semi-final de um torneio importante, grande liderança no intervalo, segundo-tempo com uma reação terminada em uma cesta nos últimos segundos, duas prorrogações e, no final, um time eufórico e o outro arrasado. Com a diferença de que naquela vez nós eramos os que estávamos nos perguntando o que tinha dado errado.”
Foi uma revanche perfeita, o sonho de qualquer time. Se perguntarem pro pessoal do vôlei feminino do Brasil, elas vão dizer que a medalha de ouro em Pequim só teria sido melhor se a semi-final fosse contra a Rússia e com as russas desperdiçando 6 match points.
O Pat Anderson acabou o jogo com inacreditáveis 33 pontos, 21 rebotes e 6 assistências, sem contar a bola de 3 decisiva no fim do tempo normal. O cara é simplesmente fora de série. No blog ele comenta que cometeu uns erros infantis como não passar a bola para um cara livre e ao invés disso tentar uma cesta de costas, mas acho que estou tão acostumado a ver o Kobe jogar que nem percebi isso na hora do jogo. Se bem que o Kobe nunca ia admitir que fez erros infantis no final de um jogo, claro, nerds não assumem que erram contas simples de matemática.
Como o YouTube é uma bosta olimpicamente falando, não tem vídeos do jogo por lá, mas dá pra ver pelo Terra. O problema é que quem fez a seleção dos melhores momentos acha muito divertido assistir a pessoas cobrando lances livres, mas pelo menos dá pra ver o arremesso de empate do Canadá nos segundos finais.
Amanhã voltamos com o resultado final do Brasil e as medalhas paraolímpicas, fechando nossa cobertura do evento. Aí é se preparar para um mês em que não acontece NADA na NBA. Uhu! Mas a gente acha do que falar, pode deixar.

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