>Um mês depois

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JR Smith não entende esse troço de “coletividade” que comentam agora no vestiário

Muita atenção está sendo dada para o fato do Denver Nuggets estar com uma campanha muito melhor do que a do New York Knicks depois da troca do Carmelo Anthony. Mas eu só não sei se as pessoas estão dizendo isso para zoar com o Knicks, já que todo mundo ultimamente parece ter criado um gostinho especial em odiar equipes que fazem tudo por superestrelas, ou se é porque realmente achavam que o Knicks seria melhor que o Nuggets. Eles não eram antes, não são agora e não dá pra saber se serão no futuro.

O Knicks deixou bem claro nessa troca que o que eles queriam era juntar Carmelo Anthony com Amar’e Stoudemire, o resto do time eles dariam um jeito de conseguir depois. O único jogador além de Amar’e que eles não estavam dispostos a mandar era o Landry Fields, de resto topariam mandar tudo e foi o que fizeram. Danilo Gallinari, Wilson Chandler, Raymond Felton e Timofey Mozgov todos foram titulares no time durante toda ou algum período da temporada em Nova York, não dá pra perder todo um time assim de uma vez no meio do campeonato e esperar que tudo vai ficar bem. O plano deles era para o futuro e só no futuro vamos poder julgar com mais convicção se a decisão foi boa ou ruim, tudo vai depender de novas contratações no próximo ano e de treino, muito treino.

Um dos problemas do Knicks nos últimos jogos tem sido o desempenho no quarto período, e não é por acaso e nem porque seus jogadores são amarelões, muito pelo contrário; Chauncey Billups, Carmelo e Amar’e tem milhares de cestas importantes e decisivas nas suas carreiras para provar que sabem resolver no final. O que acontece é que com poucos treinos nesse primeiro mês de parceria eles só tem as jogadas individuais para apelar e assim fica mais fácil do adversário defender. Temos que lembrar que é no último período em que as defesas costumam ser mais fortes e é quando os times usam as suas jogadas de segurança. Que jogada de segurança tem um time que pouco treinou? Sem contar que existe o problema bem comum de equipes que tem muitos jogadores bons, todos acham que podem resolver no 1-contra-1 e se restringem a isso. Jogadores mais ou menos podem não ter treinado junto com ninguém, mas não acham que vão vencer jogos sozinhos como pensam Billups, Carmelo e Amar’e no Knicks ou LeBron e Wade no Heat, por exemplo.

Por outro lado, o Nuggets tinha tudo para melhorar. Perdeu dois jogadores bons mas ganhou outros quatro bons para as mesmas posições, sem contar que deu mais espaço para outros que já estavam lá só esperando atenção. O Ty Lawson agora pode brilhar com mais minutos e as loucuras individualistas do JR Smith parecem machucar menos o time quando ele é o único maluco individualista no elenco. Na parte tática o técnico George Karl disse que a adaptação dos novos jogadores foi fácil porque eles já conheciam muitas das jogadas e porque ele manda todo mundo sempre correr muito e jogar fácil no contra-ataque, ou seja, sem bíblias de jogadas complexas para eles aprenderem, a transição de equipe é mais tranquila. Alguém poderia argumentar que o Nuggets também deveria ter problema nos finais de partida por ter treinado pouco, mas duas coisas explicam porque isso acontece com o Knicks e não com eles:

1- O Nuggets está vencendo fácil, com diferenças gigantescas de pontos. Alguns quartos períodos eles só tiveram que administrar uma boa vantagem. Poucas vezes tiveram que lidar com jogos duros de meia quadra com adversários fortes.

2- Quando tiveram, como ontem contra o Spurs, realmente tiveram dificuldade no ataque e acabaram chutando bolas forçadas de longe. Mas compensaram defendendo muito bem! Nesse último mês o Nuggets tem números defensivos, como o de pontos sofridos a cada 100 posses de bola, muito parecidos com o Chicago Bulls, que é o Once Caldas da NBA. O Knicks, em compensação, tem uma defesa pior desde que Melo e Billups chegaram.

Números e tática à parte (só por um parágrafo), o fator psicológico tem sido importante nessa embalada que o time de Denver deu. Enquanto muita gente esperava um desmanche, ocorreu o oposto. Nenê afirmou que quer fazer carreira em Denver e negocia uma extensão de contrato, eles não trocaram imediatamente Gallinari e Chandler como especulado na época e disseram aos dois que fazem parte do futuro da equipe, mesma coisa que aconteceu com JR Smith. A saída do Carmelo criou uma sensação de alívio e união. A perda de uma estrela por várias vezes já uniu equipes, isso acontece o tempo todo. Aconteceu ano passado com a contusão do Andrew Bogut no Bucks, acontece agora com o Grizzlies sem Rudy Gay até o fim da temporada, aconteceu quase 10 anos atrás quando Antonio Davis liderou uma sequência impressionante de vitórias que levou o Raptors sem Vince Carter aos playoffs. E, por que não, foi esse sentimento que fez o Cavs sem LeBron James começar a temporada jogando tão bem. Se o elenco não fosse tão ruim e minado por contusões e se aquele jogo contra o Heat tivesse tido um resultado diferente, certamente não seriam a piada que são hoje. Em esportes competitivos e com tantos times com jogadores bons, coisas como motivação podem fazer toda a diferença.

O Dean Oliver, autor do livro Basketball on Paper, importantíssimo para o mundo das estatísticas de basquete, trabalhava com o Denver Nuggets no começo da temporada até sair do emprego semanas antes da troca do Melo para trabalhar na ESPN. Ele lembra em um artigo para o TrueHoop de uma declaração do dono do Nets, Mikhail Prokhorov, dizendo que só tentar trocar pelo Melo já havia custado muitas derrotas a seu time. A insegurança causada por ver tantos nomes diferentes envolvidos em trocas fazia o time não se concentrar e não render. Assim o Nets venceu apenas 10 jogos nas primeiras 12 semanas de temporada, então o russo disse que iria desistir de Carmelo e o time respondeu vencendo 7 das próximas 13 partidas, isso antes de conseguir o Deron Williams.

Já o Nuggets, na análise de Oliver, rendeu bem até o dia 15 de dezembro, como se nada tivesse acontecido. Essa data marcava o dia em que muitos Free Agents do último verão americano, como Raymond Felton, poderiam ser envolvidos em trocas. O Nuggets venceu 15 de 24 jogos até então. Aí os rumores começaram a ficar mais reais e o bicho pegou. Como funcionário do time, Oliver viu tudo de perto e disse que o clima no vestiário era diferente depois que os rumores ficavam mais reais e principalmente quando passaram a envolver o Chauncey Billups, herói da torcida. Nesse período o Nuggets teve 12 vitórias e 10 derrotas, com números defensivos que beiravam os piores da liga. Como já mostramos ontem, eles embalaram de novo depois da troca com 11 vitórias e 4 derrotas desde que Melo saiu.

Sem Carmelo Anthony para controlar a bola, a mídia, as atenções e os holofotes, os outros jogadores viram isso como a chance deles de brilhar e montar um time vencedor e coletivo. George Karl passou a fazer discursos enfatizando o jogo em equipe e a dedicação que cada um dava dentro de quadra, e o resultado é um time mais focado na defesa, mais esforçado, que batalha mais em quadra e que joga mais do que assiste. Voltando aos números, com Carmelo o Nuggets tinha 54% de suas cestas vindas de assistências, agora esse número subiu para 63%. É mais gente passando a bola e menos gente resolvendo por conta própria.

Também não podemos esquecer da profundidade que esse elenco tem agora. Se pensarmos no que já vimos de todos no elenco do Nuggets nos últimos anos, é bem fácil admitir que Lawson, Afflalo, Gallinari, Kenyon Martin, Nenê, Felton, JR Smith, Al Harrington e Wilson Chandler podem ter, facilmente, pelo menos uns 12 pontos por jogo. Isso dá 108 pontos por partida sem ninguém precisar acordar muito inspirado. Claro que não dá pra dividir assim tão racionalmente, mas o que eu quero dizer é que com esse elenco eles sempre vão ter opções de ataque e podem se adaptar a qualquer estilo de defesa ou sobreviver a alguém em um dia ruim. Eles perderam um cara que resolvia bem no fim dos jogos, mas ganharam muita gente que resolve em muitas outras situações. A teoria de que não dá pra ser campeão sem uma estrela pode ir contra o que eu vou dizer, mas o Nuggets é um time melhor hoje e os jogadores que recebeu foram tão bons que era uma troca que faria sentido mesmo se o risco de perder o Carmelo ao fim da temporada não existisse.

O George Karl já deu muitas entrevistas nos últimos anos e até nas últimas semanas dando a entender que não gostava do desinteresse que o Carmelo mostrava em algumas partidas, principalmente na defesa, e nem de como ele muitas vezes jogava as táticas no lixo para resolver sozinho. Isso influenciava o time de uma maneira negativa. Agora Karl vê ele mesmo como o líder da equipe e as suas atitudes cobrando defesa e coletividade têm dado resultado em quadra.

No fim das contas dá pra dizer que a troca só teve vencedores, quer dizer, pelo menos todo mundo conseguiu o que queria: O Carmelo ir para Nova York, o Knicks uma estrela de nome e o Nuggets um time de basquete melhor.

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