🔒Um problema de mentira

Nós falamos sobre o Boston Celtics quando eles trocaram a primeira escolha do último Draft, voltamos a falar deles quando contrataram Gordon Hayward, de novo quando abriram mão de Avery Bradley por Marcus Morris e mais uma vez quando surpreenderam e trocaram Isaiah Thomas por Kyrie Irving. Quando parecia que ninguém mais aguentava ouvir falar sobre esse time, tivemos que trazer de volta à tona quando Hayward machucou o joelho no PRIMEIRO JOGO do ano e mais uma vez quando eles responderam a essa lesão com QUATORZE vitórias seguidas. Tá bom? Não tá bom.

Como causo pouco é bobagem, Kyrie se machucou antes dos Playoffs para mais uma reviravolta no time das reviravoltas. E não é que o time dos jovens, dos pirralhos e das lesões está a duas vitórias da FINAL DA NBA?! O time está invicto em casa, jogando um basquete de altíssimo nível, com excelente entrosamento, boa defesa e nem parece que boa parte da responsabilidade está nas costas do novato Jayson Tatum, do segundo-anista Jaylen Brown e de Terry Rozier, um “veterano” no seu terceiro ano de NBA.

O ascensão relâmpago dos jovens e o sucesso deles na pós-temporada trouxe uma discussão que parece tola e compreensível ao mesmo tempo. Com esses jovens jogando tão bem, o General Manager Danny Ainge deveria cogitar trocar Kyrie Irving e Gordon Hayward? A resposta curta e grossa é simples: NÃO! Do outro lado da liga tem um certo time com QUATRO All-Stars ainda na flor da idade, para bater o Golden State Warriors no futuro próximo não existe o conceito de “estrelas demais”.

Por outro lado, existem argumentos que possam ser feitos para dizer que o melhor para a franquia de Boston é dar um passo para trás. Primeiro que é inegável que Jaylen Brown e Jayson Tatum conseguiram crescer desse jeito porque tiveram oportunidade para isso. Eles não iriam entrar em quadra se não estivessem prontos, é claro, mas a curva de aprendizado foi acelerada porque não só eles tiveram minutos de quadra, como tinham jogadas desenhadas para eles. Para usar a palavra do momento, foram EMPODERADOS pelo treinador Brad Stevens.

A volta de Irving e especialmente de Hayward pode significar um passo atrás que nem sempre é bem visto por jovens jogadores. De repente um desses caras pode virar reserva, não estar em quadra no fim de jogos importantes e ver suas médias de pontos, rebotes, arremessos tentados e minutos de quadra caírem. Fazer esse sacrifício na segunda metade da carreira, depois de todas as glórias individuais já conquistadas, é normal, para jovens que ainda lutam para se estabelecer na liga como estrelas é mais complicado. E não falo só pelo jogador: seu assessor, empresário, amigos e família também vão ficar na orelha do atleta perguntando sobre ele ter um papel secundário logo depois de levar um time para a final. E como fica seu próximo contrato? Isso vai te custar alguma coisa?

Daqui de longe nós vemos tudo com a perspectiva generalista do time. É claro que é melhor manter o elenco como está, é claro que todo mundo tem que abrir mão de alguma coisa em nome do bem maior da vitória, mas na prática é sempre complicado. Andre Iguodala já deixou claro que só aceitou ser sexto homem no Warriors porque Steve Kerr GARANTIU que o time iria ser melhor assim, e a forma de empoderamento do ala seria o papel de comandar os reservas que precisavam de um cérebro organizador. Ele aceitou relutante e, depois do primeiro título, deu a entender que “ainda bem que isso deu certo”, senão provavelmente não iria tolerar por mais tempo. Até os caras mais bonzinhos, racionais e que pensam no coletivo querem garantir o deles. A vida na NBA é curta e imprevisível, existe um limite de sacrifício que cada um pode fazer.

Outro voto a favor da troca de Kyrie Irving ou Gordon Hayward é financeiro. O armador vai ganhar pouco mais de 20 milhões de dólares no ano que vem, o ala vai faturar 31 milhões! Embora a direção do time já tenha dado a entender que não liga de ultrapassar o teto salarial e eventualmente pagar multas, eles devem decidir o quanto aceita pagar para renovar com Marcus Smart e Aaron Baynes ao fim dessa temporada. No fim do ano seguinte é a hora de renovar Marcus Morris e Terry Rozier. E eles precisam fechar todos esses negócios sabendo que em 2020 virá a renovação de Jaylen Brown e, um ano depois, de Jayson Tatum. No último ano o Celtics conseguiu economizar e até melhorar o time mandando Avery Bradley por Morris, uma troca contestada na hora mas que se revelou perfeita. Quantos mais desses negócios é possível tirar da cartola antes de virar um Portland Trail Blazers pagando 130 milhões para manter o mesmo time do ano passado?

CelticsCap

Nos últimos dias especulou-se uma troca entre Celtics e Wolves para levar Karl-Anthony Towns, que, dizem, está brigado com o técnico Tom Thibodeau. Não acho que isso vai pra frente, mas mostra o tipo de negócio que faria sentido para o Celtics: trocar uma estrela por outra, mas mandar uma que custa caro por outra que ainda está no seu contrato de novato, aquele acerto pré-determinado (e estúpido de barato) que um jogador faz assim que entra na liga.

Embora todos esses argumentos façam sentido, não consigo fugir da minha primeira, curta e grossa resposta: NÃO FAÇAM ISSO! Não importa o quanto os jovens são bons e quantas escolhas de Draft valiosas o Celtics ainda tem, o objetivo de todas essas apostas é que, com sorte, esses caras se tornem tão bons quanto Irving e Hayward. Agora que você tem eles na mão, não jogue fora. E outra coisa, a maior parte dos problemas são, na verdade, projeções. É possível que Brown ou Tatum resmunguem, é possível que o desenvolvimento deles seja menos veloz e é possível que o teto salarial vire um problema em 2020. É possível, mas não é certeza.

Não custa lembrar daquele fatídico dia que mudou a história da NBA nesta década: lembram quando o OKC Thunder trocou James Harden? O time não quis pagar tudo o que o barba pedia em sua renovação por medo da folha ficar cara demais no futuro próximo. Mandaram ele para o Houston Rockets e um piscar de olhos depois e o teto salarial da NBA disparou. Funhé.

Às vezes o negócio é não pensar demais e não tentar ser tão proativo a ponto de antecipar tanto os problemas a ponto de buscar soluções para situações que nem se sabe se realmente vão acontecer. Talento nunca é demais e a sensação de que o time não precisa de suas estrelas é sempre falsa. O Cleveland Cavaliers já chegou na final mesmo com o próprio Irving e com Kevin Love machucados em 2015, mas precisou de toda gota de suor dos caras para ser campeão um ano depois.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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