>Um turco sem lar

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Turkoglugluglu bota um ovo

Quando o Suns, meio desacreditado, venceu 54 jogos na temporada passada e eliminou nos playoffs o Spurs em 4 jogos, chegando à Final do Oeste e dando sufoco no Lakers, era inegável que o maior responsável pelo feito era Amar’e Stoudemire. Seu começo de temporada havia sido discreto, forrado de relatos sobre seu desentendimento com companheiros de equipe e boatos de que seria trocado. Mas depois do All-Star Game, Amar’e deixou tudo para trás e foi, quase de forma unânime, o MVP da segunda metade da temporada. Ou ele ficou mais tranquilo depois de saber que não seria trocado, ou então resolveu jogar pra valer porque seu contrato acabaria ao fim da temporada e ele precisava garantir o interesse dos outros times (a famosa “Síndrome de Jerome James”, antiga “Síndrome de Erick Dampier”).

Por isso, a reação natural à ida do Amar’e para o Knicks foi de desespero em Phoenix. Quando finalmente deu pra levar o time a sério e eles venceram seus arqui-inimigos, causando uma ruptura no espaço-tempo, o jogador que carregou muitas das partidas nas costas deu o fora. Mas como o Nash continua por lá, nenhum dos engravatados da franquia vai ter coragem de tacar o time na privada e começar do zero, então tentaram tapar o buraco. E a principal aposta para manter o time jogando em alto nível foi o Turkoglu.

Minha opinião sobre o turco depende da fase da lua. Em geral gosto do seu estilo de jogo e admito que ele é um jogador muito talentoso, mas não consigo lidar com a ideia de que times acham que ele seja uma estrela e ofereçam trilhões de dólares pra ele enfiar na orelha. O Turkoglu se encaixava muitíssimo bem no esquema tático do Orlando Magic e mesmo assim o time não sofreu muito com sua saída, é um absurdo achar que ele pode transformar um time e lhe oferecer muitas verdinhas. O Blazers cometeu uma cagada absurda tentando contratar o jogador, e deu a sorte de que o turco preferiu ir jogar em Toronto. Azar do Raptors, que percebeu rapidinho que o Turkoglu é um cara talentoso mas que não vai ganhar jogos sozinhos nunca. Tentaram de tudo pra ele render por lá mas o cobertor era curto demais: se ele segurava demais a bola o ataque do Raptors que é pura velocidade não funcionava, se ele não tinha a bola em mãos desaparecia do jogo e ficava frustrado.

Ou seja, quem viu o turco jogando no Raptors sabia que jogar no Suns não seria tarefa fácil. Os problemas enfrentados para se adequar e render na equipe seriam parecidos, e embora o Suns seja um time mais inteligente e o Nash sempre dê um jeito de deixar todo mundo feliz, não dava pra esperar nenhum milagre. É simples assim: o Turkoglu não pode levar o Suns até onde o Amar’e conseguiu levar nas últimas temporadas. O próprio turco disse que não veio para substituir ninguém, e com razão, mas ele teve que tapar o buraco deixado pelo Amar’e na marra, mesmo que todo mundo saiba que não pode dar muito certo.

O Turkoglu volta e meia jogava como ala de força no Magic, mas os jogadores da posição por lá são Rashard Lewis e Ryan Anderson, dois sujeitos com fobia de garrafão. Faz parte da estratégia do Magic deixar o Dwight embaixo do aro e abrir o ala de força para arremessar de três, então o Turkoglu quebrava bem o galho nessa função. No Suns, ao contrário, o ala de força sempre foi a única posição que jogava embaixo da cesta, já que o pivô costuma ser o Channing Frye. Não é a área do Turkoglu e seria absurdo tentar, então é claro que o turco faz a mesma função que executava no Magic e evita ao máximo o jogo de costas para a cesta. O resultado é bizarro: cheguei a ver um quinteto do Suns em quadra composto por Nash, Josh Childress, Jason Richardon, Turkoglu e Channing Frye. Parecia um time de handball, em que ninguém pode pisar dentro da linha de três pontos.

O Turkoglu funciona muito bem com a bola nas mãos porque ele sabe armar o jogo e usa bem a sua altura para conseguir criar espaço e dar os passes certos. Mas no Suns, a bola sempre vai para o Nash, que sempre cola no cangote do turco e pede a bola imediatamente, não deixa o coitado nem ter o gostinho de levar ela um pouco para o ataque. O que o Turkoglu pode fazer, então, já fica limitado. Ele acaba passando a bola apenas depois de recebê-la, mas em geral ele já recebe em condições de arremesso e acaba desistindo do arremesso livre para acionar outro jogador. O Suns sofre jogo após jogo com a falta de agressividade, porque todo mundo no elenco se acha arremessador, do gigante Channing Frye ao campeão de enterradas Jason Richardson, então quando o Turkoglu deixa de dar arremessos livres ou atacar o aro, o time perde muito. Mas o turco não sabe ser agressivo sem armar o jogo, e costuma ser bonzinho demais ao invés de arremessar sempre que tem oportunidade.

Já que sua passagem pelo Raptors foi desastrosa e resultou em pedido de troca imediata, tem gente achando que o Turkoglu vai pedir para sair do Suns rapidinho, já que as dificuldades são as mesmas e ele não tem rendido bulhufas nos jogos até aqui. Mas Turkoglu abriu mão de 5 milhões de seu salário só pela chance de escapar do Toronto e ir jogar com o Nash. Os dois se admiram, sabem da inteligência um do outro, e estão seguros de que conseguirão jogar muito bem juntos.

A resposta do turco para que isso possa acontecer tem sido treinar, todos os dias, os arremessos de três pontos. Ele tem um regime de treinamentos particular em horários diferentes dos outros jogadores do Suns apenas para calibrar suas bolas de fora. Quando receber a bola para armar poderá atacar mais a cesta, mas esses momentos são muito raros: com Nash no time, é bom que ele se acostume a dar arremessos sozinho o tempo inteiro. É um modo de ajudar a equipe, de render bem, e as bolas de três foram a arma que venceu o Lakers ontem. Mas na defesa o negócio ainda é muito feio e não tem previsão de melhorar. Turkoglu sempre foi um defensor muito fraco e agora só piorou por ter que marcar jogadores bem mais fortes do que ele no garrafão. O turco alegou que nunca teve que fazer isso na vida e está sofrendo para se acostumar, mas a verdade é que ele nunca defendeu ninguém em posição nenhuma, deve ser difícil até se acostumar com levantar os braços.

O técnico Alvin Gentry já avisou que ele não será usado contra os alas mais fortes e pesados do que ele, ou seja, todo mundo na NBA. O Turkoglu já está sendo relegado ao banco de reservas para não comprometer em excesso a defesa, e no ataque já está virando só mais um arremessador de três pontos. É triste ver que um jogador tão competente, que poderia ser a peça final numa série de equipes que brigam por título, não consegue encontrar uma casa que possa usar seus talentos. O Raptors não era o local certo, e o Suns também não é. Com tempo, costume e inteligência, o Turkoglu vai encontrar companheiros livres, atacar mais a cesta, armar o jogo de vez em quando, acertar muitas bolas de três. Vai parar de ter medo de dar arremessos livres, mal que também assolou Channing Frye quando ele chegou no Suns. Mas ainda assim não vai ser natural para o turco, não vai ser tudo aquilo que ele pode fazer, porque jogando de ala de força o seu tamanho não é um bônus, seu peso é um problema, e ele não tem a velocidade necessária para explorar seus marcadores. Ele não tapa os buracos do Suns, e acaba tendo que ser um jogador que ele não é.

Enquanto isso, engole minutos do Hakim Warrick, o único jogador realmente agressivo do elenco. É verdade que o Jason Richardson tem visto a necessidade e cada vez mais ataca a cesta, mas Warrick traz aquela sensação de “puta merda, ele vai enterrar na minha cabeça a qualquer momento” que o Amar’e trazia. Ele nem é forte o bastante, não tem recursos o bastante, mas sabe trabalhar com Steve Nash e finaliza perto do aro. Ele supre as necessidades do Suns muito melhor do que o Turkoglu nesse elenco em que até o faxineiro sabe arremessar de três pontos. É um desperdício deixar o turco no banco, mas também é um desperdício deixá-lo em quadra limitando seu jogo e podar o Warrick, que é verdadeiramente útil em quadra para esse equipe. Por enquanto, eles podem vencer qualquer time em dias felizes da linha de três. Mas nos playoffs, precisarão de jogo fisico e bolas de segurança, coisa que o Turkoglu jamais será capaz de dar.


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