>
Leandro e Leonardo
Depois de muito tempo, finalmente o Leste é capaz de nos dar água na boca. Alguns dos melhores times da NBA estão lá, muitas estrelas foram trocadas para equipes do Leste, três equipes da conferência possuem mais de 50 vitórias e é completamente plausível (pra não dizer provável) que uma delas leve o título da NBA esse ano. Os playoffs no Leste serão incríveis, como será que o Celtics se sairá sem Perkins, como o trio do Heat reagirá à pressão, será que o Derrick Rose segura a onda, ainda dá tempo do Magic se acostumar com a mudança do elenco? Mas não podemos esquecer que essa empolgação com o Leste esconde uma verdade terrível: a conferência ainda fede.
Knicks e
Indiana, atualmente donos das últimas duas vagas para os playoffs, possuem mais derrotas do que vitórias. O
Sixers provavelmente manterá a sexta vaga apenas igualando o número de vitórias e derrotas. O
Bobcats, que é um time que simplesmente desistiu da vida e quer se reconstruir (assumidamente nos moldes do
Thunder), periga conseguir uma vaga nos playoffs mesmo tendo 10 derrotas a mais do que vitórias, chegou ao ponto deles pensarem em colocar o
Stephen Jackson de molho no banco pro resto da temporada porque senão vão se classificar sem querer e ficar em pior situação ainda no draft. Isso significa que a elite do Leste (Bulls, Heat e Celtics) enfrentará um trio de cachorros semi-mortos em lavadas relativamente fáceis. Eu sei que ontem mesmo o Pacers ganhou do Celtics, e que o Sixers venceu o Bulls, e que eu não me arrisco a tentar entender o Sixers porque o time não faz sentido, mas eu duvido que numa série de playoff essas zebras se mantenham. Acho que o único confronto minimamente interessante deverá ser entre
Hawks e Magic. Mas mesmo o Hawks, com 10 vitórias a mais do que derrotas, é um time implodindo diante dos nossos olhos e vai tomar uma surra. Vão dizer: “ah, o Hawks é bom, o elenco é sólido, não venceram mais de 40 jogos a troco de nada”. Pois é, foi o que todo mundo me respondeu quando eu avisei que o único jeito do Hawks vencer o Magic nos playoffs passados
era o Dwight Howard comer veneno de rato ou tomar banho de banheira ao lado de uma torradeira elétrica. Como esperado, foi uma das maiores surras da história e vamos ter algo mais ou menos parecido outra vez. Então o Leste é legal, pode aparecer uma zebra ou outra por aí, mas a elite está muito acima dos reles mortais que se classificam com mais derrotas do que vitórias. A conferência ficou mais forte, é verdade, mas foi para alguns poucos. No fundo, acabou ficando ainda mais desequilibrada.
Enquanto isso, na conferência Oeste (que é tãaaaaao ano passado, querida!), três equipes podem terminar a temporada com mais vitórias do que derrotas e mesmo assim estarão fora dos playoffs. As três últimas vagas (atualmente de Blazers, Hornets e Grizzlies) serão disputadas por 6 times (com Rockets, Suns e Jazz com chances de classificação). É um absurdo! E prova de que equipes desacreditadas, em reconstrução, mais perdidas do que cego em tiroteio, conseguiram campanhas fenomenais – e históricas, até – enquanto ninguém estava olhando. Com mais ou menos uns 10 jogos sobrando para cada equipe até o fim da temporada, apenas dois jogos separam o sexto colocado Blazers do oitavo colocado Grizzlies, e mais dois jogos separam o Grizzlies do Houston, também separado por dois jogos do Suns. Ou seja, vamos dar uma olhada nas chances de classificação do Houston e do Suns e aproveitar para ver como suas campanhas deram milagrosamente certo num momento em que os dois times já pensavam em desistir e começar de novo.
Houston Rockets
O Houston começou a temporada acreditando que iria contar com Yao Ming, apostando na armação do Aaron Brooks e seu recém-ganho prêmio de Jogador que Mais Evoluiu, e com Shane Battier defendendo o perímetro. Terminou com um pivô de 1,98m chamado Chuck Hayes fazendo triple-double, a armação entregue ao eterno reserva Kyle Lowry (também fazendo triple-double), e a defesa de perímetro nas mãos do segundo-anista e ex-jogador de vôlei Chase Budinger, ou seja, foda-se a defesa de perímetro. O que diabos aconteceu? É tipo ir dormir com a Mari BBB e acordar com a Mari Alexandre: tá tudo bem, ninguém vai reclamar de nada, mas não era exatamente o que estava nos planos.
O começo capenga e a milionésima lesão do Yao Ming levaram a equipe a uma renovação de elenco, apostando em jogadores jovens e bastante flexibilidade salarial. Novamente, o que acaba brilhando é o esquema tático do Rick Adelman com seus passes constantes, armadores que não seguram a bola e cortam constantemente para a cesta, passes para jogadores desmarcados na linha de fundo e ninguém parado assistindo o jogo acontecer. O técnico já colocou em prática esse esquema com uma equipe sem nenhuma estrela antes, já teve muito mais sucesso do que se esperava, mas não conseguiu levar o time aos playoffs sem uma estrela para segurar as pontas. O elenco de agora não deveria ser uma nova tentativa de bater a cabeça contra a parede, já que todo mundo sabe que o Kevin Martin não vai carregar o time nas costas, era pra ser uma reconstrução sem pretensões imediatas, mas é que alguns jogadores acabaram se saindo bem demais no esquema e o que deveria ser uma renovação acabou se tornando uma equipe com chances de pós-temporada. A defesa do Houston, que desmontou completamente sem Yao Ming (e que tem um pivô anão debaixo do aro!), recebeu o apoio de Kyle Lowry e de Courtney Lee pra ficar menos vergonhosa. O Kyle Lowry aprendeu a arremessar de três pontos, qualidade essencial para os armadores do Adelman, e dominou por completo o esquema tático sem forçar as bolas idiotas que o Aaron Brooks forçava todo jogo. O Chuck Hayes, que é um pivô pintor de rodapés, está dominando as jogadas – que o Adelman tanto adora – em que a bola fica nas mãos dos pivôs na cabeça do garrafão. Então a defesa melhorou, Lowry e Hayes garantem que as jogadas fluam como o técnico deseja, as bolas de três estão caindo e é uma coisa linda de ver esse time funcionando ofensivamente. Até que os reservas entrem em quadra e só façam merda, e que a defesa se mostre uma peneira completa e não dê pra se manter no jogo, claro. As poucas jogadas individuais do Houston aparecem com o Kevin Martin (que às vezes força um bocado e enlouquece todo mundo, mas em geral é comportado) e com o Luis Scola, que sempre dá um jeito de pontuar no garrafão – e sempre dá um jeito de que pontuem em cima dele também Mas o banco de reservas, ao contrário, é cheio de jogadas individuais, não consegue segurar o ritmo ofensivo e manter o esquema sonhado pelo técnico. Normal, o banco só tem fraldinha. O ideal seria dar minutos para a pirralhada, ver quem vai continuar na equipe, encerrar o contrato do Yao temporada que vem e reforçar a equipe. Mas as chances de playoff ferraram tudo. O Hasheem Thabeet, que precisa de minutos urgentemente para não morrer de tédio, sequer entra em quadra pra não comprometer as chances de pós-temporada. Ou seja, o time ficou melhor do que deveria e com isso o Thabeet continua servindo só pra pegar lata no alto do armário.
Ninguém apostava nesse Houston sem Yao, sem T-Mac, com um pivô anão e uma estrelinha como o Kevin Martin, e é por isso que ninguém percebe quão genial é o Rick Adelman. A defesa desmontou, quebrou de vez, três anéis vermelhos da morte pra ela, mas o ataque é tão fantástico que colocou esse time desistente na luta por uma vaga e vai vencer mais de 40 jogos na temporada. Quão absurdo é isso? Vale dar o prêmio de técnico do ano para uma equipe que não venceu mais de 50 jogos? Por isso é que vale assistir aos jogos finais do Houston não para ver quão bom é o Kyle Lowry ou o Chuck Hayes, porque diabos, eles simplesmente não são. Vale é para ver a mão do Adelman tornando tudo simples, bonito e orgânico – e um ou outro reserva batendo cabeça, caindo de bunda e a defesa tomando trilhões de pontos.
O Houston tem ainda 9 partidas: enfrenta Nets fora, Sixers fora, tem uma sequência em casa em que pega Spurs, Hawks, Kings, Hornets, Clippers e Mavs, e fecha a temporada com Wolves fora.
Phoenix Suns
O Suns já era uma equipe reconstruída quando venceu o Spurs nos playoffs com Nash, Jason Richardson e Amar’e Stoudemire. Mas perder o Amar’e foi duro demais para as chances de playoff da equipe, então resolveram jogar tudo fora e finalmente começar de novo. Quer dizer, mais ou menos. Porque tem alguma coisa lá na água de Phoenix que cura qualquer lesão e renova o sangue de qualquer ancião. É lá que o Shaq se recuperou da lesão que o tirou do Heat, que o Jason Richardson se manteve saudável, que o Grant Hill ficou sólido como rocha depois de uma carreira inteira destruída por lesões constantes. Então enquanto o Suns ia pela privada para começar de novo, o Nash estava lá outra vez com suas 11 assistências e 15 pontos por jogo, acertando quase 50% dos seus arremessos, e o Grant Hill estava lá provando que é um dos melhores – se não for o melhor da atualidade – defensores de perímetro da NBA. Nessa altura, os dois deveriam estar cansados fazendo cruzadinha na lareira de casa e tomando Ovomaltine, e não tornando o Suns um time competitivo. No dia final para trocas nessa temporada, o cu piscou e aí os engravatados de Phoenix não conseguiram trocar nenhum dos dois. Trouxeram mais molecada, conseguiram o Vince Carter para liberar 17 milhões de espaço salarial na temporada que vem, mas não conseguiram se desfazer dos dois vovôs que insistem em jogar muito.
Marcin Gortat e Channing Frye estão jogando bem, o Frye também se renovou no Suns e ganhou uns jogos sozinho com suas bolas de três, mas nenhum deles renderia o que está rendendo sem o Nash por lá. Então o time manteve os moleques junto com o armador canadense para que rendam alguma coisa, faz sentido. Mas e aí? Vão manter o Nash por lá pra sempre, mesmo que não tenham chances de título? Ele vai ficar refém de um projeto de reconstrução que nunca acontece simplesmente porque o Nash é bom demais? O contrato do Grant Hill termina nessa temporada, então o Suns tem que decidir isso também: renova com o Grant Hill e seus quase 40 anos? Porque renovar é aceitar que dá pra vencer agora, já, e que os dois veteranos vão receber ajuda. Mas precisa ser ajuda à altura, nos moldes do Amar’e, não dá pra trazer o Aaron Brooks e achar que vai mudar alguma coisa.
O Suns deveria estar se lascando, tropeçando e conseguindo uma baita escolha legal de draft pra reformar a equipe, mas não conseguiu feder porque o Nash e o Grant Hill são simplesmente bons demais. Conseguir uma oitava vaga seria o maior prêmio do planeta para eles, vovôs que não deveriam mais ter que aguentar essa pirralhada tirando meleca do nariz e o Vince Carter dando migué em quadra como se fosse criança mimada. O Carter vai para o banco pelo resto da temporada, de castigo, com Jared Dudley de titular e com a oitava vaga ainda na mira. É difícil, impensável, deveriam ter desistido muito antes, mas é possível e seria muito legal se acontecesse.
O Suns ainda tem 10 partidas: enfrenta o Kings fora, o Thunder e o Clippers em casa, e aí passeia pelo país: pega Spurs, Bulls, Wolves, Hornets e Mavs fora de casa. Depois ainda enfrenta de novo Wolves e Spurs, mas em casa.
O engraçado é que o Suns e o Rockets enfrentam vários adversários iguais: Kings, Hornets, Mavs, Wolves, Spurs e Clippers, com o Suns enfrentando Spurs e Wolves duas vezes cada. Os adversários diferentes são Nets, Sixers e Hawks para o Rockets (um saco de pancada e dois classificados no Leste) e Thunder e Bulls para o Suns (duas equipes de elite).
Para comparar, o Grizzlies enfrenta Warriors, Hornets fora, Wolves, Clippers, Kings, Hornets, Blazers fora e Clippers fora. Ou seja, assim como o Rockets e o Suns, o Grizzlies também vai enfrentar Hornets, Kings, Wolves e Clippers. Tirando o Hornets, que também luta por posição, são apenas equipes fracassadas e quem não conseguir vencê-las vai ficar muito atrás na briga pelas vagas. Novamente, são os times pequenos decidindo o futuro de seus irmãos maiores.
Rockets e Suns saíram melhor do que a encomenda, venceram meio sem querer, no meio de um projeto de reconstrução que não esperava exatamente ir parar nos playoffs. É capaz que as duas equipes nem consigam a oitava vaga, é verdade, mas Rick Adelman, Steve Nash e Grant Hill mereciam esse presente – muito mais do que o Grizzlies sem Rudy Gay, que poderá tentar novamente mais tarde, ou até o Blazers assolado por lesões e seu projeto de reconstrução pela metade. Essa reta final da temporada costuma ser a parte mais chata, a gente nem fica com grande peso na consciência quando temos que deixar o blog de lado um pouquinho para cuidar das nossas coisas, mas vale a pena acompanhar como essas equipes continuam tendo chances quando ninguém mais acreditava. E se forem para os playoffs, aí sim todo mundo verá o absurdo de suas campanhas – e dessa vez com muita cobertura do Bola Presa, que aquece os motores pra te matar de tanta leitura assim que a temporada regular terminar.