>Vitória do técnico

>

Kevin Durant curva-se frente ao rei Scott Brooks
Enquanto o Denis segurava as pontas analisando todas as séries dos playoffs, indicando o que cada time precisava fazer para passar para a próxima rodada, estive afastado da internet – o que na prática significa apenas não ler e-mails me oferecendo aumento peniano, não ler comentários sobre a última baladinha escritos com 140 caracteres, e não conhecer anônimos se masturbando no Chatroulette. Mas ficar longe da NBA, justamente no início dos playoffs, é a parte complicada da coisa. Perdi um punhado de partidas, mas nada muito inesperado aconteceu além da vitória do Blazers em cima do Suns, algo que cada vez mais parece apenas um “oops” e dificilmente deve acontecer de novo (é oficial: o Blazers é o novo Clippers!). Ao menos, como prêmio de consolação, coloquei o meu League Pass para funcionar pela primeira vez nos playoffs a tempo de ver o Lakers perdendo para o Thunder. E o resultado não foi uma partida maravilhosa do Kevin Durant chutando traseiros, nem a arbitragem marcando faltas loucas no pirralho e complicando o Lakers, tudo que vi foi um prêmio merecido de técnico do ano para Scott Brooks.
Confesso que quando soube que ele ganhou o prêmio, fiquei com um pé atrás. Diabos, até ele ficou com um pé atrás, indignado que o Jerry Sloan nunca tenha ganhado o prêmio que ele levou para casa. Mas é que, para mim, dois outros técnicos haviam feito melhores trabalhos com elencos muito reduzidos: Rick Adelman no meu Houston Rockets e Scott Skiles no Bucks. O Adelman foi capaz de, pela primeira vez, colocar sua filosofia de jogo verdadeiramente em prática com um time rápido, baixo, inteligente e sem nenhuma estrela. Não foi para os playoffs, é verdade, mas ganhou mais da metade de suas partidas, conseguiu uma honrada nona colocação no Oeste e todo mundo estava contando com o time para ficar nos últimos lugares da NBA. O Scott Skiles, por sua vez, transformou um time horroroso sem nenhum grande defensor em uma das potências defensivas da temporada, montando uma marcação coletiva que permitiu ao time não ter que se matar por ser incapaz de pontuar com regularidade, além de tornar Andrew Bogut finalmente uma peça central – tanto na defesa quanto no ataque. Com o Bucks nos playoffs e vencendo partidas cruciais mesmo sem o pivô, e tendo na armação um novato afobado, o Skiles merecia esse prêmio mais do que ninguém.
Mas agora eu posso parar de chorar ou reclamar um pouco. Ao ver o Thunder sair de quadra ontem com a vitória, fiquei convencido de que o Scott Brooks mereceu o prêmio, pelo menos um pouco. Muito se falou sobre a inteligência do Durant em decidir ir pegar rebotes na última partida, em como o Lakers não estava agressivo, em como o Kobe não estava “em dia de Kobe”, mas em cada um desses aspectos só consigo ver méritos do técnico do Thunder. Então, na primeira babação de ovo da história do Thunder que não será direcionada ao Kevin Durant, vamos dar uma olhada nas coisas que o Scott Brooks tirou da manga.
1. Rebotes para Kevin Durant
O Lakers começou a partida destruindo, e nenhuma bola do Kevin Durant estava caindo. Isso foi suficiente para o placar iniciar com um 10 a 0, que em algumas culturas obrigaria o perdedor a passar por baixo da mesa. Depois do jogo o Durant disse que seus arremessos não estavam caindo e que então ele resolveu ajudar o time em outras coisas, especialmente nos rebotes, saindo de quadra com absurdos 19 rebotes. Mas isso é balela, o Durant se aproveitou para sair de quadra com a pose Cavaleiro do Zodíaco de “eu ajudo meus amigos” quando, na verdade, foi o time que lhe permitiu isso. Não tenho dúvidas de que os 19 rebotes do Durant foram programados na prancheta horas antes do jogo começar.
Funciona assim: o garrafão do Thunder é uma merda. Então grande parte da tática defensiva do time é forçar o Lakers a arremessar de três pontos ao invés de deixá-los jogar debaixo da cesta. Após o arremesso, o garrafão do Thunder não tenta lutar pelos rebotes. Ao invés disso, empurram o garrafão do Lakers para fora, o famoso “box out”. Quando Kevin Durant não está marcando o Kobe, é ele o responsável por usar sua altura e coletar o rebote com Gasol e Bynum desequilibrados, distantes da cesta. A grande vantagem dessa tática, além de manter dois jogadores de garrafão com a tarefa exclusiva de torrar o saco de Bynum e Gasol, é que a bola já fica nas mãos do Durant e portanto o Thunder não tem que sofrer como um condenado para fazer com que a bola chegue em sua estrela. O Artest está fazendo um trabalho sensacional negando a bola de chegar no jogador do Thunder, então garantir que o Durant possa chegar na quadra de ataque batendo bola, já com a posse dela em mãos, é essencial para que as movimentações ofensivas do time fluam com mais facilidade.
2. A proteção de garrafão
Não foi apenas nos rebotes que o Thunder fez um bom trabalho no garrafão defensivo. Marcações duplas em Bynum e Gasol e um congestionamento desgraçado embaixo do aro foram aos poucos desencorajando o Lakers a chegar tão perto para atacar. Além disso, Nick Collison foi espetacular numa função pouco notada: cavar faltas de ataque. Durante a temporada regular, o jogador (que é um dos meus favoritos dentre os mequetrefes) foi o segundo colocado em número de faltas de ataque cavadas, perdendo apenas para o Jared Jeffries do meu Houston. Em parte isso é talento do jogador, mas o dedo do técnico é crucial. Assim como o Houston com Yao Ming joga afunilando a defesa em direção ao centro do garrafão (onde está o Yao e o arremesso será contestado ou atrapalhado por um gigante amarelo), Scott Brooks afunilou a defesa do Thunder em direção ao Nick Collison e seu poder mutante de cavar faltas de ataque. Impedir que Gasol e Bynum possam pegar a bola de costas para a cesta nas laterais do garrafão e aí jogar no mano-a-mano é essencial, jogando no centro do garrafão eles podem ser alvo mais rapidamente de marcações duplas. E a gente sabe que o Gasol não é fã de muita bagunça ou contato.
3. Ritmo de jogo
A ordem no Thunder desde a primeira posse de bola foi “corra pela sua vida”. Não vi o Thunder correr tanto para o ataque em nenhum outro jogo da temporada, e o resultado a princípio foi desastroso. Foram arremessos precipitados, gente batendo cabeça rumo à cesta e o Durant errando um arremesso idiota atrás do outro no medo de deixar o Artest chegar muito perto. Parecia uma ideia idiota, mas como todas as ideias idiotas do mundo ela é genial a partir do momento em que dá certo. O Lakers entrou nesse jogo veloz em que as posses de bola tem pouco valor, e aí ninguém quer ter paciência de colocar a bola dentro do garrafão e esperar o Gasol conseguir o lugar de que ele mais gosta na quadra para jogar de costas para a cesta. Ao invés disso, frente a um garrafão congestionado (por um monte de jogadores ruins, olha que divertido), o Lakers começou a arremessar de longe em posses de bola bem estúpidas. Com o passar do jogo, a velocidade do Thunder e escalações mais baixas e leves obrigaram o Phil Jackson a colocar um Lakers mais baixo em quadra, jogar sem Gasol e Bynum juntos, e aí o time de Los Angeles desistiu mesmo de jogar perto da cesta. Foi o ritmo de jogo imposto pelo Scott Brooks, associado à defesa de garrafão e a proteção dos rebotes para o Durant, que acabou forçando o Lakers a chutar 31 bolas de três pontos no jogo. Parecia time brasileiro!
4. Agressividade
Além do jogo exageradamente veloz, a ordem foi atacar a cesta. O Lakers desistiu de jogar no garrafão rápido, enquanto o Thunder não parou de atacar a cesta. A ideia é simples: se o Fisher é o elo mais fraco da marcação do Lakers, então o Westbrook tinha a obrigação de correr como um condenado, deixar o Fisher para trás e partir para uma bandeja ou enterrada. Do mesmo modo, o Durant sai no lucro se parar de tentar arremessar por cima do Artest e, ao invés, tentar partir na velocidade para dentro do garrafão. O Artest é mais lento do que ele, mas isso não é o mais importante: o essencial é que em movimento o Durant tem mais chances de cavar faltas (em cima do Artest ou dos outros defensores) do que se ele parar na linha de três e arremessar o dia inteiro. No começo do jogo pareceu meio imbecil ver o Durant tentando bater para dentro, mas depois começou a dar resultado: a defesa do Lakers começou a temer a infiltração nos contra-ataques e com isso surgiu espaço para um monte de bolas de três pontos na transição (coisa que o Mavs adora tanto fazer). Quem mais se beneficiou com isso foi o James Harden, que claramente arremessa melhor e produz mais nesse jogo de correria. Titio Don Nelson está de olho em você, rapaz.
O técnico Phil Jackson usou a diferença de lances livres para reclamar da arbitragem, dizer que os juízes estão favorecendo Durant e seus amigos. Eu uso a diferença de lances livres para provar que todo o plano de jogo do Scott Brooks foi um sucesso absoluto. O Lakers cobrou 12, o Thunder cobrou 34. E no primeiro tempo o Lakers não havia cobrado lances livres ainda, foi ridículo. Fobia de garrafão de um lado (aquela doença que o Rasheed Wallace espalha por aí), jogo de velocidade forçando as infiltrações do outro. O Thunder jogou um pouco fora do seu plano usual, mas forçou o Lakers a jogar ainda mais longe do plano a que está acostumado.
5. Defesa no quarto período
Recebendo menos marcações duplas durante a partida, o Kobe arremessou muito mais nos três primeiros períodos de jogo – e arremessou bem. A defesa do Thunder estava focada no garrafão, forçando o Lakers a arremessar de fora – e errar – e o Kobe, que acerta os arremessos de três pontos, se beneficiou disso. Tudo dentro do planejado, porque quando o Thunder virou o jogo (quando o Kobe sentou, o Lakers pirou), a defesa da equipe de Oklahoma mudou completamente. Ao invés de deixar o Durant nos rebotes defensivos como estava durante todo o jogo, já que ele podia ficar mais perto do garrafão por marcar o Artest (e desafiando o ala do Lakers a arremessar, que é seu ponto fraco), no final do jogo com o Thunder na frente a escolha do Scott Brooks foi colocar o Durant no Kobe. E tivemos mais uma daquelas descobertas bizarras de talento, tipo quando colocaram o LeBron apenas para marcar o Tony Parker e descobrimos que ele é um defensor absurdo quando não tem que atacar, ou quando o Kobe na seleção americana decidiu que não precisava pontuar e que iria focar seu jogo na defesa, mostrando que é um dos melhores na função. O Durant tem braços compridos demais, e pernas rápidas demais, para que o Kobe possa arremessar por cima dele. É o defensor perfeito para o Kobe, que errou arremesso atrás de arremesso no quarto período com o Durant em cima dele, inclusive tomando um toco decisivo do moleque. Na frente no placar, o Thunder teve Durant marcando o Kobe, parou de correr com a bola, tomou conta da posse de bola. Era a chance do Lakers fazer o mesmo, jogar no garrafão, mas no quarto período e atrás no placar o Lakers só quer saber de colocar a bola nas mãos do Kobe para arremessos decisivos. Mais espetacular do que o plano de jogo do Thunder na partida foi essa mudança genial no final do jogo, demonstração óbvia de que o Scott Brooks sacou todos os problemas do Lakers. Falta ao Thunder talento, o Jeff Green tem vezes em que não joga nada, o garrafão é quase inexistente, mas entender tanto assim o adversário costuma dar resultados. Apesar de ser apenas uma vitória até agora, aposto no Thunder para dar um baita de um sufoco nesse Laker, mais exposto em suas fraquezas do que em qualquer outro momento dos últimos anos. Sorte que eu cheguei – tarde mas cheguei – pra ver esse duelo tático acontecendo. Se as outras séries que não acompanhei até agora forem tão divertidas, vou agradecer todos os dias por estar de volta à internet!

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.