🔒Dinossauros em extinção

Com 56 vitórias na temporada regular, o Raptors teve a segunda melhor campanha da Conferência Leste (apenas um jogo atrás do líder Cavs), teria acabado com a terceira melhor campanha na Conferência Oeste (só atrás das campanhas históricas de Warriors e Spurs) e portanto teve a quarta melhor classificação geral. Enfrentar o Pacers, com apenas 45 vitórias na temporada (uma a mais que o oitavo colocado Pistons, já varrido dos playoffs), deveria ser um passeio no parque. Ainda mais se levarmos em consideração as atuações espetaculares de DeMar DeRozan, que acabou a temporada regular com 23.5 pontos por jogo, um dos dez maiores pontuadores da NBA. Ninguém fez mais bolas de 2 pontos e nem mais pontos por infiltração do que DeRozan nessa temporada.

Mas eis que o Pacers venceu o primeiro confronto entre eles nesses playoffs, e tivemos o desprazer de ver DeRozan simplesmente se negando a arremessar no processo. A imagem abaixo, com DeRozan deixando de arremessar mesmo com Paul George chegando atrasado para sua marcação, mostra o nível abissal em que está sua confiança depois de ter tido suas bolas mais confiáveis facilmente contestadas no início do jogo:

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/DeRozan.gif[/image]

O Raptors conseguiu vencer seu segundo jogo em casa e roubar uma vitória em Indiana, mas não graças a DeMar DeRozan, que conta com médias nessa série de apenas 13 pontos, 29% de aproveitamento nos arremessos e ZERO bolas de três pontos convertidas em 8 tentativas. Na temporada regular, DeRozan acertou 45% dos seus arremessos e dignos 34% da linha de três pontos. Mesmo na vitória em Indiana, o plus/minus de DeRozan, número de pontos marcados e sofridos pela equipe enquanto DeRozan esteve em quadra, foi negativo. Sem ele, o Raptors se saiu melhor! Sua queda de rendimento é inacreditável e só nos resta tentar entender o que raios está acontecendo.

A primeira coisa a se analisar é a maneira que o Pacers está marcando o armador. Toda vez que usa um corta-luz, a marcação dobra imediatamente em DeRozan, mantendo em todas as situações ao menos dois corpos entre ele e a cesta. Vejamos como isso se dá no corta-luz mais comum para liberar DeRozan para atacar a cesta, aquele que usa Luis Scola.

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/1-Corta-com-Scola.jpg[/image]

Vejam que Myles Turner, que deveria estar marcando Scola na jogada, já desencanou inteiramente do argentino quando viu que o corta-luz aconteceria e está preocupado em bloquear o caminho para a cesta de DeRozan. Enquanto isso, Paul George usa seu tamanho para lutar contra o corta-luz, empurrando DeRozan na direção de Myles Turner, forçando que o jogador do Raptors use o corta-luz o mais próximo possível da lateral da quadra.

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/1.2-Dobra-em-DeRozan.jpg[/image]

A jogada segue e o que vemos é Myles Turner impedindo o ataque na linha de fundo enquanto Paul George pressiona na cobertura. O tamanho de Turner é suficiente para impedir que DeRozan crie espaço fisicamente, como costuma fazer, e Paul George é agil e longo o bastante para bloquear um possível passo para trás com arremesso. Enquanto isso, vejam o posicionamento do resto do elenco do Raptors: Luis Scola ficou na linha de três, onde ele não é um arremessador eficiente; Kyle Lowry está do lado oposto da bola, e não próximo à cabeça do garrafão, porque espera um passe paralelo à linha de fundo, coisa que não vai acontecer com Myles Turner na frente de DeRozan; e por fim o pivô Jonas Valanciunas está ATRÁS do seu marcador Ian Mahinmi, o que impede um passe de DeRozan por cima da marcação. O que temos aqui é um desastre completo: Lowry não leu bem a movimentação da defesa, Valanciunas não conseguiu estabelecer posição no garrafão porque perde o duelo físico com Mahinmi, Luis Scola não é respeitado como arremessador e DeRozan não tem nada a fazer a não ser dar um arremesso forçado. Nessa situação, com dois defensores mais fortes do que ele, não dá sequer para DeRozan criar um contato e forçar uma falta. Em dois dos quatro jogos até agora, DeRozan não chegou a cobrar um lance livre sequer.

Outra jogada muito comum para colocar DeMar DeRozan em situação para pontuar começa com o jogador na zona morta. Um armador – no caso da foto abaixo, Cory Joseph – ameaça usar um corta luz – no caso, de Patrick Patterson – para então parar, virar as costas para a defesa e esperar DeMar DeRozan correr para receber a bola diretamente em suas mãos, trocando então de lugar com ele na quadra e causando uma provável troca de marcação no processo. O momento inicial dessa jogada é esse aqui:

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/2-DeRozan-na-zona-morta.jpg[/image]

Alguns problemas surgem com essa configuração inicial. O primeiro é que embora DeMar DeRozan seja muito eficiente arremessando daquele cantinho (tem 48% de aproveitamento nas bolas de 3 pontos desse lado da quadra), apenas 2% dos arremessos que deu na temporada são feitos dali. Isso mostra que caso a defesa se atrapalhe na troca de marcação, DeRozan será acionado para um arremesso pouco usual para ele e, portanto, um arremesso com baixo nível de confiança em situações de alta pressão – especialmente com um defensor longo como Paul George em cima dele. Não é à toa que iniciamos o post com DeRozan desistindo de um arremesso fácil exatamente desse mesmo ponto da quadra.

Outra questão é que entre Cory Joseph e a cesta temos três defensores, dois lutando contra o corta-luz e um terceiro, Myles Turner, que está defendendo Bismack Biyombo. Por não ter um jogo de costas para a cesta, Biyombo não está sequer dentro do garrafão, mas também não tem um arremesso de longa distância, permitindo que Turner possa abandoná-lo a qualquer momento para defender Cory Joseph na cobertura. Isso dá tranquilidade para que os outros dois defensores não precisem contestar o bloqueio, trocar a marcação ou cometer uma falta. A jogada então prossegue, sem que haja erros defensivos, e DeMar DeRozan pega a bola das mãos de Cory Joseph, que corre para a zona morta.

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/2.2-DeRozan-corta.jpg[/image]

Vejam que o que temos agora é DeMar DeRozan recebendo uma marcação dupla por parte do seu defensor (Paul George) e o defensor de Patrick Patterson. Isso é possível por uma série de motivos. Primeiro, porque Paul George consegue marcar DeRozan na linha de três pontos, impedindo que ele receba a bola mais próxima à cesta do que isso. Depois porque Patrick Patterson participa do corta-luz responsável por permitir a troca de Cory Joseph e DeMar DeRozan, fazendo com que ele fique próximo demais à bola. Como DeRozan está com marcação dupla, Patterson está livre, mas ainda assim ele está a distância suficiente de ser contestado pela agilidade de Paul George. E, por fim, a marcação dupla é possível porque em caso de Patterson ter espaço para arremessar, esse arremesso é MUITO preferível a uma infiltração de DeRozan. O armador tem 58% de aproveitamento no garrafão quando infiltra vindo desse lado da quadra; Patterson tem 39% nas bolas de três pontos desse local, acertando apenas 24 arremessos ao longo de toda a temporada vindos desse ponto da quadra. Além disso, dá pra perceber de novo que Biyombo está “abrindo” em direção à zona morta, facilitando a defesa em caso raro de DeRozan conseguir passar pelos dois primeiros defensores. Contestado pelo pivô da vez, o armador teria que acionar Biyombo fora do garrafão, o que é um arremesso muito pior do que sua bandeja característica. Se fosse Valanciunas no lugar não seria diferente, a menos que ele estabelecesse posição na frente do pivô adversário ou tivesse um arremesso de média distância bom o bastante para “atrair” sua marcação. Chamamos isso de “EXIGIR RESPEITO”, que é forçar o defensor a te acompanhar para que você não cause estrago ofensivamente. Quando nenhum jogador de garrafão do Raptors “exige respeito” e Patrick Patterson também não o exige no perímetro, DeRozan acaba tendo que enfrentar muito mais defensores do que seria adequado para explorar sua capacidade de infiltração.

Abaixo temos uma pequena variação da primeira jogada que analisamos, mas numa formação mais baixa, com DeMarre Carroll como ala de força. Vejam que quem fez o corta-luz para DeRozan foi Kyle Lowry, de modo que o defensor (no caso, George Hill) teve que ficar no perímetro porque Lowry “exige respeito” na linha de três pontos (talvez menos pelo seu aproveitamento e mais pela sua insistência, mas enfim…):

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/3.-DeRozan-embaixo-da-cesta.jpg[/image]

Ao mesmo tempo, Monta Ellis está preso em Norman Powell na zona morta, de modo que DeMar DeRozan só precisa se preocupar com a defesa de Paul George – o que, convenhamos, já é encrenca suficiente. Quando chega próximo ao aro é que DeRozan encontra seu primeiro problema: Valanciunas não estabeleceu posição, Myles Turner está na sua frente e pode contestar o arremesso caso DeRozan tente finalizar no lado oposto da cesta; para fugir disso, DeRozan teria que finalizar no seu lado da cesta, onde os braços de Paul George podem alcançar. A solução é acionar DeMarre Carroll na linha de três pontos, já que Solomon Hill está naturalmente correndo para a cobertura do aro – ou para um possível rebote. Essa foi a melhor solução do Raptors para bolas de três na partida, mas ainda assim o preço é muito alto: vem ao custo das bandejas de DeRozan, que são o maior motor ofensivo da equipe.

Ao meu ver, um dos maiores culpados pelo péssimo jogo de DeMar DeRozan na série é o péssimo posicionamento tático dos jogadores de garrafão do Raptors, e como eles são facilmente anulados pelos jogadores mais fortes do Pacers. Em parte isso é falta de habilidade de jogadores como Valanciunas, por exemplo, mas em parte é escolha tática mesmo. Vejam que uma das funções do pivô do Raptors é “ligar” o lado direito com o lado esquerdo da quadra: quando uma infiltração forçada de Lowry ou Cory Joseph não funciona, Valanciunas recebe a bola fora do garrafão para acionar uma outra infiltração do outro lado, nas mãos de DeRozan. Isso faz com que o pivô não possa fazer um corta-luz e correr agressivamente para a cesta, o que forçaria a marcação a acompanhá-lo, e permite a um time esperto taticamente como o Pacers sempre manter dois marcadores em cada infiltração:

[image style=”” name=”off” link=”” target=”off” caption=””]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/4.-Valanciunas.jpg[/image]

Paul George, na imagem acima, está se dando ao luxo de tentar cortar a linha de passe para DeRozan só porque já sabe que existem dois defensores logo atrás; quando ele se recuperar e ficar na frente de DeRozan, o pivô do Pacers já estará lá para realizar a dobra.

Melhorar o rendimento de DeRozan e do próprio Raptors frente a uma defesa inteligente e física como a do Pacers exige participação de muitos jogadores que não apenas a dupla principal de armação. Sem arremessadores confiantes que exijam ajustes defensivos e um jogo sólido dentro do garrafão por parte de QUALQUER UM – pode ser até o Kyle Lowry – DeRozan continuará batendo numa parede dupla de tijolos, sua confiança vai pelo ralo e ele começa a passar a bola para o lado por medo de forçar arremessos estúpidos. Isso é “entrar na cabeça” de um jogador: fazê-lo questionar aquilo que deu certo ao longo de toda uma temporada de modo que ele não consiga adaptar-se nem apostar naquilo que já viu funcionar.

Soluções? Usar DeRozan e Lowry para receber bolas já dentro do garrafão e realizar corta-luz um para o outro me parece uma saída possível para retomar o estilo de jogo de ambos com pequenas variações. Outra possibilidade, que aconteceu apenas em pequenas doses e precisa ser a solução oficial, é retirar os jogadores “de ofício” de garrafão de quadra, usando mais arremessadores e forçando a defesa do Pacers a se ajustar no perímetro, tendo que tirar o pivô da cobertura. Por mim, mesmo sendo fã do jogador, Luis Scola não pisaria mais em quadra nessa série, com DeMarre Carroll e Patrick Patterson assumindo a função em tempo integral. Na defesa isso não é uma questão tão séria, afinal o Pacers está ganhando os jogos na base da defesa – mesmo que Mahinmi sozinho crie alguns problemas no ataque para Valanciunas. Aliás, o pivô do Raptors, nessas condições, não consegue se garantir nem no ataque nem na defesa, e talvez devesse voltar só em séries futuras, quando o cenário lhe for mais vantajoso. Mas se o técnico Dwane Casey não resolver as questões que apontamos com urgência, talvez Valanciunas não tenha sequer séries futuras nas quais tentar se adequar. O Raptors corre sérios riscos de ser novamente eliminado na primeira rodada por uma mistura de confiança abalada e problemas táticos graves – qual veio primeiro, é difícil precisar.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.