🔒Mais Amor, por favor

Por cerca de 5 minutos durante o primeiro quarto do Jogo 2, o Cavs esteve à frente do placar. A vantagem durou pouco, no entanto: o Cavs ficou atrás no marcador durante todo o restante da partida, terminando o primeiro tempo com uma defasagem de 3 pontos e por fim perdendo o jogo por uma diferença de 19 pontos. Ainda assim, por alguns poucos minutos não apenas o jogo esteve parelho como o Cavs conseguiu impor seu plano de jogo e ser o melhor time em quadra. O que esses curtos minutos do primeiro quarto tiveram de tão diferente do restante da partida? A estranha resposta: Kevin Love. Abaixo, vamos assistir e comentar alguns momentos selecionados do começo da partida para ver como Love foi fundamental para o bom começo da equipe, apontar alguns erros e acertos e tentar encontrar um caminho para que ele seja ainda mais efetivo nos próximos jogos.

Comecemos com a segunda posse de bola do Cavs na partida (na primeira, LeBron simplesmente correu em direção à cesta, girou por fora de Durant e fez uma bandeja):

Vejam que Kevin Love faz um corta-luz em Kevin Durant e o Warriors NEM SE IMPORTA, afinal Draymond Green, marcador de Love e um dos melhores defensores da NBA, pode tranquilamente assumir a marcação de LeBron James. Esse corta-luz entre Kevin Love e LeBron James parece, a primeira vista, pouco desejável, afinal coloca LeBron numa situação igualmente ruim e Love passa a ser marcado no garrafão por Durant, um jogador ainda mais alto do que Draymond Green. Mas por conta do ÂNGULO em que o corta-luz acontece, Durant é obrigado a marcar Love do lado oposto ao da cesta. Percebam como Kevin Love usa isso a seu favor, protegendo bem o caminho para a cesta, recebendo um passe preciso e pontuando sem ninguém entre ele e o garrafão. Zaza Pachulia não é rápido o bastante para alcançar Love e o jogador do Cavs ainda sofre uma falta, resultado do posicionamento desprivilegiado de Kevin Durant.

Vejam no vídeo EXATAMENTE A MESMA JOGADA, mas com o Warriors – que de bobo não tem nada – fazendo ajustes defensivos:

Dessa vez Draymond Green não troca imediatamente a marcação, ele recua em direção ao garrafão para impedir qualquer movimentação de Kevin Love e espera alguns segundos para que Durant lute contra o corta-luz, se recupere e alcance LeBron. Por favor, uma salva de palmas para o corta-luz de Kevin Love que faz Durant levar o que parecem MIL ANOS para se recuperar. Quando Durant finalmente chega em LeBron, Love se afasta um pouquinho do garrafão e Draymond Green está longe o bastante para que ele tenha espaço para arremessar. LeBron percebe isso e aciona Kevin Love para o arremesso certeiro.

O ajuste defensivo do Warriors não permitiu mais uma bandeja simples, mas deu espaço para LeBron arremessar COMPLETAMENTE LIVRE da linha de três pontos (o que ele se recusou a fazer) e para Kevin Love dar um arremesso fácil de meia distância. O que antes parecia um pick-and-roll pouco desejável agora já se mostra uma jogada de “cobertor curto”, em que o Warriors precisa escolher o que defender porque não dá para parar todas as opções que ela cria.

Vejamos agora o Cavs repetindo a mesma jogada, dessa vez com Kyrie Irving armando e Klay Thompson sofrendo o corta-luz:

Dessa vez Draymond Green cola em Irving após o corta-luz (o arremesso de três pontos dele é supostamente mais perigoso que o de LeBron James) e Klay Thompson acaba naquela posição merda de estar nas costas de Love, do lado oposto ao da bola. Aqui dá pra pagar pau para a defesa de Klay: Kevin Durant chega atrasado na cobertura porque está ocupado na zona morta com LeBron James (em parte por causa do seu arremesso, mas principalmente porque ele pode cortar para a cesta a qualquer segundo), mas Klay CORRE não para defender a jogada e sim para ficar entre Love e a cesta. ESSA É SEMPRE A COISA CERTA A SE FAZER, mesmo quando dá errado: Love se vê forçado a dar um arremesso caindo para trás, fugindo da marcação. É uma bola fácil, mas com aproveitamento muito menor do que seria uma bandeja e ainda sem o risco de cometer faltas, como aquela que Durant cometeu no primeiro vídeo que analisamos.

Na jogada abaixo Kevin Love toma uma ponte-aérea na cabeça de JaVale McGee, mas o Cavs tenta puxar o contra-ataque para colocar de novo Kevin Love na mesma situação dos vídeos acima:

Love estabelece posição no garrafão, bem próximo à cesta, com Andre Iguodala tendo que marcá-lo. Iguodala é um excelente defensor, mas é mais baixo e não tem força física para impedir que Love se aproxime ainda mais do aro. O único erro dessa jogada (que não termina em cesta) está na reposição de bola de Channing Frye. Com McGee ainda caído no chão depois de acertar a ponte-aérea, o Cavs pode iniciar um contra-ataque rápido para atacar contra apenas 4 defensores. Frye fica indeciso entre passar para LeBron ou Irving (parte da culpa é de LeBron estar pedindo a bola mesmo quando claramente não é ele quem deveria estar comandando o contra-ataque), de modo que quando a bola finalmente chega em Love e ele inicia seu giro, McGee chega na cobertura e Love acaba acelerando o arremesso, errando um ganchinho que deveria ser a coisa mais fácil do planeta.

A falta de velocidade desse contra-ataque que acabamos de ver é resultado indireto de uma escolha que o Cavs fez durante todo o jogo: LeBron James estava decidido a atacar a cesta o máximo possível, com o máximo de velocidade possível e acabou virando o alvo central dos contra-ataques mesmo em jogadas em que isso não faria sentido. No primeiro quarto, LeBron só não acabou armando ou puxando os contra-ataques em três jogadas da equipe (uma delas, o excelente pick-and-roll entre Irving e Love que vimos acima).

Dá para notar isso na jogada abaixo, que inclusive começa com um trabalho defensivo excepcional de Kevin Love:

Kevin Love marca individualmente Draymond Green, impede a infiltração, desvia o arremesso e depois garante o segundo rebote (após um rebote de ataque do Warriors). Quando liga o contra-ataque, LeBron simplesmente corre em direção a cesta e faz uma bandeja simples.

Na jogada abaixo, no entanto, o mesmo plano não dá tão certo assim:

Começamos com mais uma defesa impecável de Kevin Love, dobrando a marcação em Durant na hora certa para conseguir um roubo de bola. LeBron inicia o contra-ataque e Irving está mais a frente, permitindo uma jogada de dois-contra-um. Mas LeBron não aciona Irving, o armador acaba desacelerando para não entrar no garrafão junto com LeBron, Klay Thompson se mantém firme no caminho para a cesta e Stephen Curry volta como uma flecha para marcar Irving. Resultado: LeBron tenta uma bandeja contestada e acaba conseguindo uma falta, em que ele converte apenas um dos lances livres. Para quem quer jogar em velocidade, às vezes o melhor caminho é passar a bola rapidamente, não apenas correr para frente.

Vejam que num contra-ataque mais cadenciado em que LeBron solta a bola para JR Smith surgem muitas opções de jogadas, inclusive Kevin Love chegando atrasado para dar um arremesso completamente livre de três pontos:

Esse é um problema central dos contra-ataques do Cavs: eles não arremessam bolas de três pontos em transição. Isso significa que a defesa do Warriors pode simplesmente correr para baixo da cesta para tentar contestar as bandejas. Love chegando pouco depois é uma arma fantástica contra isso, porque ele pode arremessar livremente com seu defensor ocupado em proteger o aro. O único problema, claro, é que Love erra o arremesso. Ainda assim, sua possibilidade de jogar de costas ou de arremessar de três pontos é essencial para que o Cavs faça contra-ataques melhores e mais eficientes.

O problema é que Love, errando ou acertando, eventualmente é excluído completamente do ataque. A partir da segunda metade do quarto – justamente quando o Warriors assumiu a liderança – Love passou a ser usado apenas como “isca” na zona morta para tentativas de infiltração individual de LeBron ou para jogadas de pick-and-roll com outros jogadores. Essa jogada abaixo pra mim é um exemplo claro e não faz UM MALDITO SENTIDO:

Acompanhem: LeBron está marcado por Iguodala, vem um corta-luz de Kyrie Irving (por que, meu deus, por quê?) e aí Klay Thompson troca a marcação, o que não ajuda NADA NA VIDA DE NINGUÉM. Aí vem um incrível corta-luz duplo, para forçar a defesa do Warriors a colocar ou Curry de um lado ou JaVale McGee do outro em cima dele. LeBron escolhe o lado do Curry, mas o Warriors faz um giro mágico e IMPÕE que LeBron tenha que enfrentar McGee. Legal, LeBron vai então infiltrar ou arremessar de três pontos, não é mesmo? Não, ele usa a jogada como uma espécie de pick-and-roll para acionar Channing Frye, o ESPECIALISTA EM BOLAS DE TRÊS, numa infiltração para o aro. Frye ignora que Love ficou completamente livre porque Durant saiu da zona morta, insiste na bandeja e toma um toco do Durant. Parabéns aos envolvidos.

Se a ideia era usar o pick-and-roll, por que raios o Kevin Love está de castigo na zona morta? Por que mesmo defendendo e atacando bem, Love só passou 8 minutos em quadra no primeiro quarto (período em que mesmo tão ignorado ele marcou 9 pontos)?

Vimos acima vários exemplos de como o corta-luz de Kevin Love é eficiente e cria uma situação de cobertor curto para o Warriors. Agora vejam que emblemática essa jogada lá no quarto período, pouco antes do Cavs jogar a toalha de vez:

Love recebe a bola não numa situação de corta-luz, com o marcador vindo pelas costas, mas sim numa situação de mano-a-mano contra o gigante Kevin Durant um passo fora do garrafão. O que o Cavs faz nessa situação? Kyrie Irving fica completamente parado do lado oposto da bola, LeBron deixa de infiltrar para tentar um corta-luz para Kyle Korver, Curry antecipa o corta-luz para manter sua marcação e basicamente NADA ACONTECE para ajudar Love em sua situação. Ele acaba obrigado a tentar um gancho em cima de um marcador maior do que ele e com David West se aproximando para evitar o giro para a cesta. Resultado: toco de Durant, contra-ataque e cesta do Warriors do outro lado. É como se o Cavs não fosse capaz de continuar usando as jogadas que estão dando certo e eventualmente, seja por cansaço ou pela pressão de estar atrás no placar, gerasse apenas jogadas inócuas, individuais e de baixo aproveitamento.

Com Kevin Love, o ataque do Cavs funcionou muito bem no primeiro quarto e até a defesa foi acima da média. Mesmo com Tristan Thompson tomando a decisão errada na jogada abaixo ao ir marcar Draymond Green na zona morta, por exemplo, Kevin Love conseguiu fechar o caminho para a cesta no que deveria ter sido uma falta de ataque de Klay Thompson:

O primeiro quarto acabou 40 a 34 para o Warriors, mas se Stephen Curry não tivesse cobrado DEZ LANCES LIVRES no quarto (algo que o Cavs PRECISA APRENDER a impedir que aconteça, nem que seja dando mais espaço ou abrindo mão das faltas para parar contra-ataques quando Curry tiver cruzado a metade da quadra) e Durant não tivesse acertado uma bola de três nos segundos finais numa jogada QUEBRADA, o Cavs poderia ter ido para o segundo quarto com uma vantagem inédita no placar e, possivelmente, com uma outra atitude rumo ao segundo tempo.

Outra coisa que não pode acontecer no primeiro quarto: Kyrie Irving abandonar Stephen Curry no meio de uma jogada para perseguir alguém que o JR Smith já está perseguindo. Toda vez que eu vejo essa jogada de novo eu não consigo deixar de dar risada:

Destaque POR FAVOR na INDIGNAÇÃO do JR Smith quando a jogada termina: ele me representa.

Para o Jogo 3, o Cavs precisa repensar seu sistema de contra-ataques. Kyrie Irving está sendo mal utilizado e Kevin Love foi ignorado demais em jogadas que ESTAVAM FUNCIONANDO. Sua chegada posterior para arremessar de três nos contra-ataques precisa se tornar uma arma central do Cavs, mas é seu jogo dentro do garrafão que precisa ser explorado não apenas para dar espaço para LeBron no perímetro, mas também para impedir que o Warriors abandone o garrafão para correr nos contra-ataques. Já não há sequer a desculpa de que ele é um problema defensivo, já que se saiu bem em todas as situações em que foi colocado. Está na hora do Cavs finalmente se render ao Señor Amor e usá-lo com a frequência e com a qualidade de jogadas que ele merece.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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