🔒Os problemas do Cavs

Vindo de três derrotas consecutivas, o técnico Tyronn Lue resolveu enfim falar publicamente sobre sua equipe. Elogiou o entrosamento entre os jogadores fora da quadra e o clima da equipe, mas apontou a EXTREMA falta de comunicação durante os jogos, disse que os jogadores passaram por uma “reunião a portas fechadas” para expor as dificuldades e frustrações, e terminou com uma de suas reclamações de longa data: problemas de condicionamento.

Quando Tyronn Lue assumiu o Cavs na temporada 2015-16, suas primeiras afirmações foram sobre como o time precisava jogar mais rápido, aumentar o número de posse de bolas e colocar em prática um ritmo mais “moderno”, mas que essa proposta levaria tempo porque os jogadores estavam ainda enfrentando dificuldades com o condicionamento físico. Quando o pulmão dos jogadores alcançou suas expectativas, o time de fato engrenou a ponto de se sagrar campeão da NBA naquela temporada. Trazer essa mesma reclamação duas temporadas depois é expor que o Cavs não é apenas um time com problemas de entrosamento em quadra, se acostumando com as novas peças e enfrentando a ausência de alguns jogadores lesionados, mas também um time de gente desinteressada que não está em condições físicas de correr e se esforçar como deveria. Foi um cutucão em todo mundo da equipe não chamado LeBron James, que é um maníaco por preparação física e está sempre no que parece ser a melhor forma de sua carreira.

Como a equipe reagiu então a essa reunião a portas fechadas e o cutucão público do técnico ao condicionamento e ao esforço? Perdendo para o feio-porém-arrumadinho Indiana Pacers, que estava jogando sua segunda partida em dois dias, enquanto o Cavs vinha de dois dias de descanso. O que deveria ter sido uma chacoalhada para acordar o time se transformou na quarta derrota consecutiva – incluindo derrotas para times que não são nenhuma potência, como Nets e Knicks (a derrota para o Magic a gente perdoa).

Dada a intervenção de Tyronn Lue, não posso deixar de imaginar que na derrota contra o Pacers o Cavs estava SE ESFORÇANDO, tentando quebrar o ciclo de derrotas e mostrar que a reunião interna deu resultado. Justamente por isso é tão assustador que tenhamos visto uma atuação tão ruim do time que todo mundo já contava como campeão da Conferência Leste. Separei então abaixo uma série de jogadas da partida contra o Pacers para analisarmos quais estão sendo as dificuldades do time e como as derrotas estão vindo com tanta frequência.

A defesa do Cavs sempre foi um ponto importante para a equipe, já que apesar das inúmeras e constantes falhas defensivas bastava apenas uma sequência de alguns minutos de defesa forte e impecável para abrir largas vantagens no placar. Mas agora a defesa do Cavs, especialmente no que se refere ao pick-and-roll, é um DESASTRE completo. O Pacers não precisou de grande esforço para pontuar quando basta um corta-luz simples na cabeça do garrafão para toda a defesa se abrir como se fosse o MAR VERMELHO.

Na jogada abaixo, um corta luz de Domantas Sabonis é suficiente para que JR Smith e Kevin Love sigam a bola, deixando Sabonis livre para um ganchinho. O responsável pela cobertura defensiva é Jae Crowder, que é baixo, chega atrasado e ainda deixa outro jogador livre, que poderia ter recebido um passe para enterrar se quisesse.

 

Abaixo outra jogada quase idêntica: Love e JR Smith seguem a bola deixando Jae Crowder na cobertura. Mas o que é mais engraçado é que mesmo com os dois seguindo o armador, Victor Oladipo consegue facilmente passar pelos dois, dar de cara com Jae Crowder e então acionar Sabonis de novo para a bandeja:

 

A reação dos narradores do Cavs é muito engraçada, com um suspiro de frustração porque essa mesma jogada aconteceu durante TODA A PARTIDA e faltando 5 minutos para terminar, com o Cavs precisando desesperadamente cortar a vantagem para ter chances no final, os mesmos erros foram cometidos.

Às vezes o Pacers não precisa nem do corta-luz, Oladipo consegue bater para cima de JR Smith como se fosse faca quente na manteiga, forçando Kevin Love a proteger o aro. E não precisa acreditar em mim quando digo que Love é um dos piores protetores de aro da NBA, pode ver na jogada abaixo mesmo:

 

O estrago poderia ter sido ainda pior se o Pacers não tivesse errado tantos arremessos fáceis. A jogada abaixo é uma maravilha: o Pacers tem duzentas opções de corta-luz, mas a jogada só começa com o corta-luz do Sabonis, pra colocar seu marcador (Kevin Love) numa situação de fragilidade. Sabonis dessa vez recebe a bola num pick-and-pop, ou seja, o passe vem para um arremesso de três pontos. LeBron corre na cobertura, lendo bem a jogada, mas basta Sabonis passar para o lado e Cory Joseph está livre. Nesse momento, Kevin Love e JR Smith decidem JUNTOS correr para a zona morta para impedir um possível passe para lá, de modo que Cory Joseph fica tão sozinho que deve ter até batido uma depressão:

 

A bola não entra por puro azar, mas o festival de horror defensivo está lá: péssima defesa de pick-and-roll e decisões horríveis na hora da cobertura das infiltrações e dos passes.

Mas o que mais me preocupa é que o ataque do Cavs não está conseguindo manter o time vivo para compensar os erros defensivos. Na temporada passada o Cavs teve o segundo melhor aproveitamento da linha de 3 pontos, com 38.4%, atrás apenas do Spurs. Além disso foram o segundo lugar em bolas de 3 pontos convertidas por jogo, com 13 por partida, atrás apenas do Rockets. Acertar bolas de três pontos jogando em velocidade foi o que tornou o Cavs campeão e finalista da NBA nas duas últimas temporadas essa máquina difícil de parar nos Playoffs. Nessa temporada, no entanto, despencaram nas duas categorias: estão com o quinto PIOR aproveitamento de bolas de 3 pontos da NBA e no décimo sétimo lugar em bolas de 3 pontos convertidas por jogo.

Para se ter uma ideia, a média de aproveitamento em arremessos de 3 pontos dos times nessa temporada atual é de 35%. Até aqui, JR Smith está com 23% de aproveitamento, Derrick Rose com 25%, Jae Crowder com 28%, Dwyane Wade com medonhos 21% e Jeff Green com 30%. LeBron James, que está na média com 35%, está à frente dos supostos especialistas Kevin Love e Channing Frye. A culpa, entretanto, não é só do rendimento individual desses jogadores. Vale dar uma olhada na jogada abaixo para ver em que situações esses arremessos de três pontos estão sendo dados:

 

Na jogada acima Wade usa um corta-luz mas imediatamente se aproxima para uma bola de dois pontos, desiste para acionar LeBron que também desiste do arremesso de três pontos pra procurar Kyle Korver, que está bem marcado porque tem as melhores médias de 3 pontos da equipe. LeBron então infiltra pra criar espaço para Wade, mas Wade não estava parado esperando o passe porque ele não quer arremessar do perímetro, então ele sai do lugar, recebe um passe torto, deixa a marcação se aproximar, bate bola sem motivo nenhum e dá um arremesso de três pontos contestado que não dá nem aro. Minha nossa.

Na partida seguinte LeBron resolveu colocar a bola embaixo do braço e não abrir mão de seus arremessos. Venceu o Wizards com 57 pontos, acertando 23 de 34 arremessos em 42 minutos em quadra. Só Derrick Rose chutou mais do que 7 bolas no elenco, LeBron realmente monopolizou os arremessos e garantiu a vitória. Mas ainda assim venceram só por 8 pontos, num jogo extremamente tenso no final, com LeBron sendo obrigado a converter arremessos MUITO difíceis e chegando a dar duas airballs (arremessos que nem deram aro) durante os minutos decisivos.

Se a defesa fosse mediana, 57 pontos de LeBron seriam o bastante para abrir larguíssimas vantagens. Mas não, lá estava a defesa medonha cometendo os mesmos erros do jogo anterior. Será que a jogada abaixo parece familiar?

 

Mais um corta-luz, mais uma vez os dois jogadores saem na bola e Marcin Gortat fica livre para receber o passe. Dessa vez é LeBron que está na cobertura, mas ele chega atrasado demais e não pode nem tentar contestar para não cometer uma falta.

E o que falar do Cavs tentando jogar com Kevin Love como pivô? Que tal no vídeo abaixo a cesta MAIS FÁCIL DO MUNDO que Love permite a Gortat, que é simplesmente mais forte, mais esperto e mais ágil do que ele?

 

Após uma rara vitória, chegou a hora do Cavs enfrentar o Hawks, o PIOR time do Leste nesse momento. A equipe de Atlanta chegou a liderar o jogo por 16 pontos no terceiro quarto, o novato John Collins pegou SETE rebotes ofensivos contra o garrafão do Cavs, e vimos de novo uma jogada que vocês já devem ter cansado de ver nesse post. Que tal mais um corta-luz com os dois defensores do Cavs, incluindo Kevin Love, seguindo a bola e então um passe simples para um ganchinho? Mais uma vez temos Jae Crowder na cobertura e mais uma vez ele está atrasado e é baixo demais para contestar o arremesso de Dewayne Dedmon, que não deveria ser ninguém na fila do pão mas a defesa do Cavs fez ele parecer o Shaquille O’Neal:

 

Com essa derrota para o Hawks, o Cavs soma agora 5 derrotas em 6 jogos (incluindo a sequência de 4 derrotas consecutivas). Temos um ataque que não converte bolas de três pontos porque falta velocidade, movimentação e jogadores dispostos a dar esse arremesso, e uma defesa que falha na única jogada que você não pode falhar na NBA atual, o pick-and-roll. Times muito limitados mas arrumadinhos, como Magic, Nets e Pacers vão usar o corta-luz como peça fundamental para tentar criar alguma coisa, e é justamente contra esses times que o Cavs se sai pior. O que deveria ter sido um começo de calendário confortável se tornou um pesadelo, e em breve o calendário deve engrossar com partidas contra os times mais fortes do Oeste. O que fazer até lá para resolver essas questões? Quantos jogos mais LeBron ficará 42 minutos em quadra, tendo que converter mais de 50 pontos para que o time tenha chances de uma vitória apertada? Tyronn Lue já apontou dedos para o condicionamento, mas quanto tempo mais até que os dedos comecem a ser apontados em sua direção?

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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