Seguimos aqui com a Análise do Draft 2016! Na Parte 1 falamos das escolhas de Sixers, Lakers, Celtics, Suns e Wolves. Hoje é dia de seguir em frente com mais pitacos sobre cada decisão tomada na grande noite de seleção de jovens jogadores, sempre usando bons argumentos, futurologia básica e selos de qualidade Bola Presa.
Os selos de qualidade, uma marca registrada dessa análise, já referenciaram mulheres, números, Michael Jackson, memes da internets, seleções brasileiras em Copas do Mundo, Redes Sociais e até manifestações de rua. Na última edição, em 2014, falamos do glorioso ludopédio. Neste ano, sempre inspirados pelo assunto-do-momento, nossos selos são inspirados em Game of Thrones. Mas com um mero detalhe: NUNCA VI ESSA MERDA! Então é tudo sob a visão de alguém que só sabe o que está acontecendo pelo o que vê pipocando na rede mundial de computadores e pelas conversas da primeira-dama do blog. Pessoas de bom coração, as que assistiram o Jogo 7 ao invés de seriado de mentirinha no último domingo, compartilham comigo a ignorância.
Outra coisa importante para lembrar nessa análise do Draft: tudo pode estar errado! É Draft, amigos. São times tentando prever como adolescentes vão se portar profissionalmente pelos próximos dez anos. Achamos uma coisa, acontece outra. Sempre foi assim, sempre será, mas isso não nos impede de analisar a percepção que temos de cada decisão hoje. Vamos aos selos!
A loirinha do dragão – Ela está em toda matéria que fala da série! É bonita, mata geral, manda no mundo e TEM DRAGÕES. Se um dia for assistir esse negócio, será por ela. Selo para os times que tomaram a decisão perfeita!
João das Neves – Era o herói. Morreu. Não morreu. Todo mundo agora o chama de bastardo. Não sei o que diabos está acontecendo, mas pelo jeito o mundo gira ao seu redor. Faltam dragões. Selo para os times que acertaram, mas não dá pra ser perfeito se você morreu no meio do caminho.
O cara da porta – Nunca tinha ouvido falar, mas de repente a internet estava de luto por sua causa. Não sei se ele era tão importante, mas parece ter feito a coisa certa quando precisou. Selo para os times que fizeram o que dava na hora.
Anão invocado – Parece ser um cara legal, está toda hora na TV, mas pelo jeito não manda nas bagaça. Selo para os times que não parecem que vão ter sua vida alterada pelo Draft 2016.
A mina que não tem nome – Não sei se ela não tem nome, se não quer falar o nome ou se chama a si mesma de garota sem nome. Mas se eu vejo alguém assistindo a série, lá está essa guria apanhando, sofrendo, chorando ou apanhando mais um pouco. Selo para os times que apanharam de seus próprios General Managers.
New Orleans Pelicans
Buddy Hield, SG (6); Cheick Diallo, PF/C (33)
Não acho que Buddy Hield seja o melhor jogador do Draft, nem o com mais potencial para um dia ser um All-Star, mas certamente é um dos mais simpáticos e o que mais terá minha torcida para ser bem sucedido. Comecei a gostar dele quando li seu depoimento para o Players Tribune, onde contou sobre sua infância difícil, numa casa cheia de irmãos competitivos num bairro pesado das Bahamas. E virei fã de vez quando ele resolveu PEGAR fogo nessa temporada da NCAA:
Ele é ultra agressivo e adora arremessar no maior estilo Curry/Lillard, que é um jeito simpático de falar que ele chuta quando não deve, mas acerta bastante e faz nossa vida mais feliz. Acho que ele vai precisar melhorar um pouco seu controle de bola para reproduzir algumas de suas infiltrações, mas é seu poder de fogo de longa distância que o fez tão sedutor para o New Orleans Pelicans. Mesmo tentando arremessos tão difíceis e recebendo marcação pesada, acertou 45% de seus arremessos de longa distância!!! 45%!!!
O Pelicans já tem o mais importante para conquistar um título na NBA, uma estrela fora de série. Anthony Davis é quem vai definir o futuro da franquia, mas ele precisa (além de MUITA SAÚDE), de talentos que abram espaço para ele jogar. Jrue Holiday e Tyreke Evans são dois bons jogadores, mas nenhum deles oferece o arremesso de longa distância que Hield promete. Embora seja mais velho que a maioria dos novatos por ter feito os 4 anos de faculdade, Hield ainda pode melhorar e se tornar mais que um mero arremessador. Se não acontecer, porém, irá ajudar do mesmo jeito.
Na segunda rodada o Pelicans trocou as suas escolhas 39 e 40 para conseguir a 33, onde pegaram o ala/pivô Cheick Diallo, de Mali, mais um dos 400 estrangeiros selecionados nesse ano. O jogador lembra um pouco Bismack Biyombo quando chegou na NBA, baixo para ser pivô, mas forte e atlético para jogar na posição e sem qualquer jogo ofensivo. Pensar no Biyombo dos Playoffs pode animar na hora que lemos a comparação, mas é bom lembrar que ele demorou ANOS para sequer conseguir ser minimamente útil em quadra, e foi só quando deixou Charlotte rumo a Toronto que começou a jogar pra valer.
Denver Nuggets
Jamal Murray, SG (7); Juan Hernangomez, PF (15); Malik Beasley, SG (19); Petr Cornelie, PF/C (53)
Na Parte 1 desta análise eu deixei claro como sempre vou preferir que um time escolha pensando em talento mais do que nas necessidades do seu elenco. O grupo é passível de mudanças, ajustes, isso se arruma. Mas mesmo assim é importante apontar para o elenco da franquia para mostrar que o Draft pode forçar ajustes grandes em determinadas equipes.
Se a armação do time está, ao menos por enquanto, garantida nas mãos de Emmanuel Mudiay, o seu companheiro na posição 2 é uma grande incógnita. Na última temporada o jovem Gary Harris mostrou algum desenvolvimento e parecia que ia receber espaço no time; ele dividiu minutos e atenções com Will Barton, que até recebeu consideração para ser um dos melhores reservas do ano. Mas agora ambos terão de brigar por espaço no time com o canadense Jamal Murray e Malik Beasley, que jogam de maneira exclusiva na mesma posição que eles. Com todos querendo/precisando de minutos para crescer na carreira, o Nuggets irá se mexer? Ficaremos de olho.
O talentoso Jamal Murray é mais um da excelente-geração-belga do basquete, a geração do Canadá. Embora tenha sido um faz-tudo no basquete universitário, é bem mais conhecido pelo seu arremesso de longa distância e é provavelmente isso que o Nuggets vai pedir dele. A combinação de um armador que gosta de atacar o garrafão, Mudiay, com outro que cria espaços por forçar a defesa a marcá-lo no perímetro, Murray, é boa ofensivamente, ao menos no papel. Ambos precisam crescer na defesa, mas isso é quase um comentário padrão quando se fala de jogadores tão jovens.
Com sua escolha seguinte, a 15, o Nuggets selecionou o ala/pivô espanhol Juan Hernangoméz, um típico ala europeu, que soma altura, inteligência e arremesso de longa distância. Se defender bem, poderá começar a roubar minutos e convencer a direção da equipe que não há mesmo problema em trocar Kenneth Faried. Visto os últimos acertos do time em jogadores de garrafão europeus, como Jusuf Nurkic e o EXCELENTE Nikola Jokic, dá pra ficar otimista.
A última escolha de primeira rodada do time virou Malik Beasley, que parece nome gerado automaticamente no NBA 2k, mas é um atleta real. Ele se encaixa no padrão do time nos últimos anos de ser um jogador ligado no máximo, que gosta de correr, correr, pular e correr mais um pouco. Mas para compensar o que o resto do elenco não faz, Beasley gosta de arremessar também. Juntar ele com Will Barton em quadra ao mesmo tempo pode, na altitude de Denver, pode deixar muitos adversários com a língua no chão. Não garanto que o Nuggets irá cometer menos de 20 turnovers nesse jogo, porém…
Por fim, com a escolha 53 chegou o pivô Petr Cornelie que, vejam só, é conhecido por ser um atleta maluco que não para de correr e nunca se cansa. Terá que ralar um bocado na Summer League para arrancar um espaço no elenco.
O Denver Nuggets tinha 3 escolhas de primeira rodada e muitos acreditavam que eles iriam trocar ao menos uma delas para trazer um veterano, mas, como o Boston Celtics descobriu, era muita gente vendendo e poucas comprando. Sem negócios na mesa, escolheram bons jogadores, mas de posições já carregadas. Cedo ou tarde esses negócios chegarão, e o desempenhos desses novatos irão definir quem sai e quem fica.
Toronto Raptors
Jakob Poeltl, C (9); Pascal Siakam, PF (27)
Está aí mais uma escolha pra gente voltar à nossa discussão de escolher por talento ou necessidade. A maioria dos scouts concorda que o austríaco Jakob Poeltl, o primeiro de seu país a chegar na NBA, é um jogador de talento de costas para a cesta, mas que vai ter trabalho numa liga que tem cada vez mais dificuldade para estabelecer (leia-se: colocar a bola na mão dos coitados) pivôs que jogam lá perto da cesta. Mas essa não é já a característica essencial de Jonas Valanciunas, o titular do time na posição?
A semelhança dos dois pode ser prejudicial porque em muitos momentos o Raptors tirava Valanciunas do jogo não só para dar descanso ao lituano, mas para mudar a cara do time. Podia ser para ganhar velocidade e defesa, como foi com Biyombo, ou até com Patrick Patterson ou Luís Scola, em minutos de small ball. Difícil imaginar Poeltl entrando e mudando o jogo, seria um mais do mesmo de Valanciunas, não uma alternativa tática. Como o Toronto Raptors é um finalista de conferência, uma equipe que luta por mando de quadra e pelo topo da tabela, é bem possível que o austríaco, por melhor que seja, tenha poucos minutos para mostrar serviço em seu primeiro ano. Se o Raptors o vê como o melhor disponível, é compreensível, mas pode ser uma escolha que demore para fazer diferença.
Com sua segunda escolha (essa a sua mesma, não a ganhada NA LÁBIA, do NY Knicks), o Raptors selecionou Pascal Siakam que, no ESPECTRO de jogadores de garrafão, está mais para o lado Biyombo que para o lado Valanciunas. Existem muitas dúvidas sobre Siakam porque, apesar da poderosíssima FORÇA NOMINAL, ele mostrou serviço apenas em uma das piores conferências do basquete universitário. Jogou bem, mas será igual contra caras melhores? Não é culpa dele jogar contra caras ruins, mas dá pra entender o receio. Se na NBA ele conseguir se impôr fisicamente, porém, terá seu espaço no time.
Milwaukee Bucks
Thon Maker, PF/C (10); Malcolm Brogdon, SG (36)
A escolha mais corajosa da noite não é necessariamente a mais inteligente, pelo menos não estou pronto para cravar isso a essa altura do campeonato. Assim como o Bucks surpreendeu todos com Giannis Antetokoumnpo há alguns anos, eles tentaram repetir a dose, mas não será fácil ganhar na loteria de novo. Thon Maker tem uma história de vida complicada, pulando do seu natal Sudão do Sul para a Austrália, depois EUA e, por fim, Canadá, tudo isso em apenas 19 anos de vida. Quer dizer, até em relação a sua real idade já se especula entre os olheiros da NBA.
Depois de jogar no basquete colegial dos EUA, Maker foi para o Canadá, onde fez um ano extra de colégio num local focado em desenvolver jovens atletas. Esse ano a mais pós-formatura foi o bastante para convencer a liga que ele poderia participar do Draft mesmo sem ter disputado uma temporada de basquete universitária ou jogado profissionalmente. Maker não tem histórico de ter atuado contra outros jogadores de alto nível, não se sabe direito sua idade e seu físico assusta para bem ou para o mal: é ágil como poucos jogadores de 2,16m, mas parece que vai quebrar a qualquer momento. Em um raro duelo contra um futuro jogador de NBA, Maker fez seus pontos, mas não mostrou nenhuma ideia de como marcar Skal Labissiere:
As dúvidas sobre tudo no seu jogo o empurraram para o final da primeira rodada em quase todas as previsões, até que horas antes do Draft o Chad Ford, especialista da ESPN, cravou que o Bucks usaria a DÉCIMA escolha no rapaz! Todos sabiam que o Bucks tinha se apaixonado por ele, mas o palpite era que iriam pegá-lo, se desse, na 36ª posição, o que parecia algo bem realista. Mas chegou a hora da verdade e Ford estava certo, John Hammond e Jason Kidd se arriscaram e não quiseram correr o risco de perder o garoto favorito.
A piada mais fácil de pensar na hora é que parece que o Bucks só olha uma coisa na hora de escolher seus jogadores: a envergadura. Imagino que o workout lá em Milwaukee consista basicamente em “bom dia, abra os braços por favor”.
O time já deixou claro que não tem pressa, mas talvez essa seja a hora de comprar uma franquia na D-League para ter onde trabalhar seus jovens e crus jogadores. É difícil ver os vídeos de Thon Maker e não sonhar com um jogador do futuro, um pivô GIGANTE que gosta de driblar, arremessar e fazer um pouco de tudo, mas alguém ficaria realmente surpreso se ele mal pisasse na quadra nos próximos anos? Está aí nosso Bruno Caboclo pra mostrar que a transição não é fácil pra esse tipo de jogador.
Na segunda rodada o Bucks selecionou Malcolm Brogdon, um favorito de muitos sites especialistas que seguem o Draft. Bom defensor, é o tipo de jogador que pode surpreender e ganhar espaço se conseguir achar maneiras de também contribuir no ataque, é o candidato a Norman Powell deste ano.
OKC Thunder
Domantas Sabonis, PF/C (11); Daniel Hamilton, SG/SF (48)
A grande história do OKC Thunder nesse Draft foi a troca de Serge Ibaka por Victor Oladipo, Ersan Ilyasova e Domantas Sabonis, a 11ª escolha. Analisamos a troca inteira em um post enorme, aqui falaremo só do novato que irá lá convencer Russell Westbrook que ele merece receber passes.
O filho de Arvydas Sabonis, que está no Hall da Fama de Jogadores Favoritos do Bola Presa, não é um passador tão espetacular quanto o pai e nem é tão grande assim para ocupar um garrafão inteiro com sua presença, mas tem talento de sobra. No maior estilo Marc Gasol, ele é um raro jogador que consegue ser trombador quando precisa e finesse quando é o mais indicado. Falta alcançar níveis espetaculares nisso tudo e evoluir na defesa como fez o espanhol, claro.
Me animo com o futuro de Sabonis porque ele parece versátil. Apesar de possuir jogo de costas para a cesta, não é o único jeito que pontua, sabe se virar, jogar no pick-and-roll e não se intimidou nem contra pivôs maiores que ele na faculdade. No esperado duelo contra Jakob Poeltl, por exemplo, pontuou em cima do gigante austríaco e até surpreendeu com boa defesa, limitando o adversário a míseros 5 pontos.
Na segunda rodada o OKC Thunder não só selecionou Daniel Hamilton, eles PAGARAM para conseguir essa escolha, sinal de que estão realmente animados com o ala e que devem tentar mantê-lo no grupo. Hamilton jogou na UConn sob o técnico Kevin Ollie, que já jogou no Thunder e até hoje tem contatos por lá, então eles devem estar bem informados sobre o jogador. O garoto é atlético, dizem que um espetacular reboteiro, especialmente pela posição, e que só no ataque que ainda é meio perdido. No Thunder, porém, já tem gente o bastante para marcar pontos.