Já analisamos por aqui as principais movimentações que ocorreram até a data limite para trocas na NBA durante essa temporada: Serge Ibaka para o Raptors, DeMarcus Cousins para o Pelicans e outras trocas menores como Nerlens Noel para o Mavs, Lou Williams para o Rockets e Bojan Bogdanovic para o Wizards. Mas ainda sobraram algumas trocas que, embora possam receber menos atenção, podem ter impacto significativo numa das temporadas mais disputadas dos últimos anos. No Leste, apenas 4 jogos separam o décimo segundo colocado, o Knicks, da oitava vaga para os Playoffs. No Oeste, o décimo terceiro colocado, também 4 jogos atrás do dono da oitava vaga para os Playoffs, acabou de adquirir DeMarcus Cousins e tem chances reais de classificação assim como todos os times acima dele. Nesse cenário, em que o panorama de classificados pode ser completamente alterado por qualquer sequência mediana de vitórias ou de derrotas, qualquer troca pequena pode ser crucial para a classificação ou a garantia de mando de quadra.
É o caso do Atlanta Hawks, que no meio de indícios de reconstrução, momentos em que o time se mostrou na elite do Leste e momentos em que parecia que não seria sequer capaz de se classificar para a pós-temporada, acaba de trocar por Ersan Ilyasova e tapar um buraco imenso em seu elenco. Quando o Hawks trocou Kyle Korver por uma escolha de draft futura, parecia que o time estava finalmente olhando para o futuro, dando espaço para Tim Hardaway Jr. e questionando as possibilidades imediatas do elenco atual. Após um começo empolgante assumindo um ataque e uma defesa centradas em Dwight Howard, a inconstância tanto do pivô quanto do elenco de apoio foram minando as reais pretensões da franquia. Trocar Paul Millsap passou a ser uma possibilidade concreta e é notório que o Hawks ouviu ofertas a respeito até o último momento. Mas com o Leste parecendo cada vez mais aberto, com novas forças como Wizards e Celtics despontando e ameaçando o Cavs após apenas um ou outro acerto e uma sequência bacana de vitórias, é bem possível que o Hawks, aos trancos e barrancos na quinta colocação, tenha acreditado que bastaria alguns ajustes para se unir à essa nova elite da Conferência. Negociações com Paul Millsap foram canceladas e o Hawks resolveu abrir mão de duas escolhas de segunda rodada e do contrato expirante de Tiago Splitter, cujas lesões nunca o deixaram ser relevante para a equipe, em nome de tapar o buraco que a equipe tem no garrafão. Dwight Howard é muito inconstante porque não se encaixa contra algumas equipes ou formações e eventualmente sai com excesso de faltas, de modo que o Hawks precisava de uma opção para os rebotes defensivos, proteção de garrafão e uma alternativa para poder espaçar a quadra quando o jogo embaixo da cesta não está funcionando. Ilyasova é um veterano, traz o risco de ser um contrato expirante, mas oferece o que o Hawks procura: tem um arremesso sólido de três pontos, conseguirá jogar tanto ao lado de Dwight quanto ao lado de Millsap, é excelente nos rebotes defensivos e, embora seja uma NULIDADE nos tocos e em qualquer defesa que lhe faça sair dois centímetros do chão, é excelente na movimentação de cobertura, tapando os espaços das infiltrações e cavando faltas de ataque como ninguém.
Da parte do Sixers, Ilyasova estava sendo uma dupla excelente ao lado de Embiid, mas não faz sentido algum tentar mantê-lo ou reassiná-lo quando Dario Saric dá sinais de que pode ser uma estrela, Ben Simmons pode voltar a qualquer momento e essa temporada já está virtualmente abandonada com a lesão de Embiid pelo resto do ano. No melhor estilo 76ers, a equipe está de novo somando escolhas de draft e se livrando de jogadores que não estejam nos planos futuros, mesmo que eles estejam contribuindo AGORA. É possível que Embiid tivesse ficado louco se estivesse saudável, já que ele quer ter algum resultado concreto com esse time, mas sua lesão tornou a troca perfeitamente compreensível, para a sorte do Hawks que entra efetivamente na briga por mando de quadra.
Esse também é o plano do Oklahoma City Thunder. Embora na sétima posição do Oeste e às vezes dando sinais de que não vai conseguir sustentar a posição por muito tempo, eles estão apenas a UM JOGO E MEIO de distância da quarta colocação e, consequentemente, de um muito bem-vindo mando de quadra nos Playoffs. Não é segredo nenhum que olho com muita desconfiança para a estratégia da diretoria do Thunder, que parece fazer ajustes como se tivesse chances reais de brigar pelo título mesmo quando a equipe é claramente inferior à da temporada passada, comprometendo a folha salarial futura e adiando os planos de reconstrução que seriam, sob todos os pontos de vista, a escolha sensata a se fazer no momento. Mas com Russell Westbrook com MÉDIA DE TRIPLE-DOUBLE por jogo, a equipe aguentando firme na zona de classificação mesmo sem Enes Kanter e sua lesão RÍDÍCULA socando uma cadeira e a dificuldade surreal de todo o elenco de apoio de acertar arremessos SIMPLES da linha de três pontos, não conheço uma única pessoa que queira que o Thunder seja SENSATO.
É a coisa mais legal do planeta ver esse time ignorar cada uma das suas limitações como se elas simplesmente não existissem e Westbrook abordar cada jogo como se a vitória fosse a coisa óbvia a se fazer. É nesse contexto, de quem precisa bancar esse DISCURSO de que tudo é possível, de quem precisa manter a MAGIA em Oklahoma City e os sonhos de uma recompensa real para o esforço apresentado, que a diretoria abriu mão de Cameron Payne, tido internamente como o futuro da franquia na armação caso Westbrook saísse, em nome de jogadores que podem ajudar imediatamente o Thunder a alcançar aquele mando de quadra.
A troca completa é a seguinte: o Thunder mandou Cameron Payne, o jovem quebra-galho Joffrey Lauvergne e sua maravilhosa força nominal, e o arremessador que não acerta arremessos Anthony Morrow; em troca, o Bulls manda Taj Gibson, Doug McDermott e uma escolha de segunda rodada do draft. Para o Bulls, a promessa de Bobby Portis e a necessidade de olhar para o futuro quando o time atual parece um CIRCO EM CHAMAS tornou a possibilidade de reassinar Taj Gibson mais distante. Doug McDermott foi uma grata surpresa, muitas vezes o melhor arremessador do time durante longos momentos, mas existem dúvidas sobre sua real capacidade de melhorar seu jogo e a diretoria do Bulls acredita que o potencial de Nikola Mirotic é superior o suficiente para lhe garantir essa vaga de arremessador. Por outro lado, o DESGOSTO da equipe com Rajon Rondo e a possibilidade de que Dwyane Wade não dure muito por lá fizeram com que o Bulls mergulhasse no mercado em busca de um armador jovem e verdadeiramente promissor. Pelo jeito esses armadores não estão muito disponíveis, já que o Thunder conseguiu enviar um – pelo qual tenho sérias ressalvas, já que seu arremesso é IRGH ARGH BLERG – em troca de um grande arremessador, um grande jogador de garrafão e mestre no pick-and-roll e MAIS UMA ESCOLHA DE DRAFT, só pra mostrar quem é que manda na troca. Definitivamente o Bulls estava muito desesperado quando assinou a papelada.
Taj Gibson chega a Oklahoma para compor um garrafão amedrontador com Enes Kanter e Steven Adams, mantendo a postura do Thunder como um time disposto a punir os adversários nos rebotes ofensivos e no jogo de garrafão. Essa estratégia faz ainda mais sentido agora do que fazia nos Playoffs passados, já que Westbrook está arremessando com carta branca, infiltrando por cima dos seus próprios companheiros e precisa de rebotes de ataque para compensar os erros que invariavelmente surgem dada a agressividade de suas movimentações ofensivas. Reitero sempre que o pânico que Westbrook causa nas defesas compensa o baixo aproveitamento, mas rebotes de ataque praticamente anulam os efeitos negativos desses arremessos errados e tornam Westbrook uma máquina impossível de parar. Se algum arremessador conseguisse se aproveitar dos espaços que são criados no processo, algo que McDermott tem tudo para fazer mesmo se não se tornar um jogador completo, o Thunder se torna um daqueles ataques que forçam cobertores curtos, em que é impossível marcar todas as opções. Nesse momento, Victor Oladipo é forçado à linha de três simplesmente para FLERTAR com essa possibilidade, mas não é seu ponto forte e ainda prejudica as outras coisas que o armador sabe fazer e compromete a força do banco de reservas da equipe. A troca é tão boa para o Thunder nesse momento que eu sequer consigo olhar para o futuro e questionar os planos de reestruturação da equipe: LASQUE-SE O AMANHÃ, o Thunder tem chances de abocanhar aquela quarta posição hoje e, caso aconteça, já vai ser uma das melhores histórias do esporte mesmo que faça pouquíssimo sentido. O Westbrook é um jogador tão fora de série e está tendo uma temporada tão absurda que ele consegue ter um impacto FILOSÓFICO na minha vida e me faz VIVER O MOMENTO, tal como dizem os status adolescentes de Whatsapp. Só espero que Westbrook também tope a brincadeira e arrume um novo companheiro de dancinhas, porque a vida do homem-triple-double está ficando cada vez mais solitária em Oklahoma…
São trocas pequenas assim que acabam chacoalhando a classificação em anos bons como esse que estamos vivendo na NBA, em que qualquer equipe tem chances de chegar longe na pós-temporada. É por isso que essas trocas e as outras que já analisamos movimentaram também os times que estão no topo, mesmo que indiretamente: com medo de perderem seu lugar privilegiado, começaram a CAÇAR as sobras dessas trocas, os jogadores que foram dispensados e deram sopa para qualquer um pegar. É o caso do Wizards, que conseguiu assinar com Brendon Jennings, dispensado pelo Knicks que já está olhando para o futuro (mesmo que o futuro seja um tal de Chasson Randle) e do Cavs, que abocanhou Deron Williams (dispensado do Mavs em nome de Yogi Ferrell, o desconhecido-sensação-da-vez) e muito provavelmente Andrew Bogut, que deve decidir por Cleveland nos próximos dias. São contratações menores mas essenciais para entender as mudanças de forças que vamos presenciar nos próximos meses. Num próximo post, vamos abordar essa RASPA DE TACHO que foi assinada após o fim das trocas e, especialmente, como ela pode mudar a dinâmica em Cleveland. Pra gente ver que, nas condições certas, até uma data limite de trocas meio morna pode causar impactos nessa dominó gigante que é a NBA.