O Prêmio de Técnico do Ano desta temporada foi dado a Nick Nurse, do Toronto Raptors. Motivos para a láurea não faltam, mas o que fãs e comentaristas não cansam de mencionar o fato de que ele fez uma campanha igual ou até melhor que a da temporada passada mesmo tendo perdido ninguém menos que Kawhi Leonard. O fato, além de realmente impressionante, mostra o que mais pesa pra gente aqui de fora na hora de julgar ou premiar um treinador: expectativa.
Por mais que a gente tente ser objetivo ao analisar o trabalho, não é algo fácil de fazer. Não vemos treinos, não temos acesso à preparação dos times pré-jogo, à discussão do que farão para atacar ou defender os adversários e nem conseguimos presenciar de perto como eles lidam com todos seus jogadores e assistentes. Podemos deduzir muito disso tudo com o que acontece em quadra e com informações de bastidores conseguidas pelos repórteres locais, mas não é um julgamento que fazemos confiantes de que temos todas as informações necessárias.
Outra crueldade é quase nunca ter uma comparação: quando um técnico decide uma coisa, não temos como voltar no tempo e pedir pra ele decidir outra pra gente ver como seria do outro jeito. Não adianta tentar na próxima partida, os jogos nunca são iguais, além de que nos Playoffs às vezes o próximo jogo é tarde demais. O trabalho de um treinador também é sempre terrivelmente influenciado por todos a sua volta, pelos jogadores com liberdade em quadra e com os altos e baixos naturais de desempenho, pelas lesões que eventualmente tomam conta de alguns elencos e principalmente pelos General Managers, os responsáveis por entregar as peças do quebra-cabeça que o técnico deverá montar. Por fim, é uma crítica que também exige muito tempo e dedicação: tempo para esperar e ver as decisões do comandante surtirem efeito e dedicação porque é necessários assistir muitos jogos do mesmo time por muito tempo para entender padrões de comportamento, de rotação e de chamadas de jogadas em momentos importantes do jogos.
Digo tudo isso para comentar que três técnicos foram demitidos ao terminarem seus trabalhos na Bolha da NBA na Disney. Alvin Gentry foi mandado embora do New Orleans Pelicans depois de não conseguir levar o time ao Play-In; Brett Brown não segue no Philadelphia 76ers após ser varrido pelo Boston Celtics na primeira rodada dos Playoffs; e Nate McMillan foi chutado do Indiana Pacers duas semanas depois do time ter anunciado que iria estender seu contrato por mais um ano. Além da demissão na Bolha, os três casos têm em comum as lesões, as mudanças e, claro, a expectativa.
ALVIN GENTRY
Responsável pelo ótimo Phoenix Suns pós-Mike D’Antoni há dez anos e assistente técnico que coordenava o ataque no histórico Golden State Warriors no título de 2015, Gentry foi contratado pelo New Orleans Pelicans em 2015 para construir o ataque que iria tirar o melhor do jovem Anthony Davis. O Monocelha realmente brilhou, mas o time não. Em cinco temporadas, a equipe só esteve entre os dez melhores ataques da NBA uma vez, em 2017-18, a única vez em que chegaram aos Playoffs. De resto, nada feito. A defesa também só esteve no Top 10 uma única vez, em 2016-17, mas a nona melhor marca não compensou ser o terceiro PIOR ataque da liga e eles ficaram longe da pós-temporada.
É uma tentação colocar a culpa na gestão do time e no azar. Mesmo tendo em mãos um dos jogadores de garrafão mais versáteis dos últimos tempos em Anthony Davis, o time não conseguiu colocar ao seu lado um criador de jogadas que pudesse facilitar sua vida. As primeiras tentativas foram com Tyreke Evans e Eric Gordon, mas ambos sofreram tantas lesões quando estiveram por lá que nunca conseguiram contribuir de verdade. Os outros nomes de peso foram Rajon Rondo, que por lá só mostrou lapsos dos seus melhores dias, e Jrue Holiday, que descobrimos ao longo dos anos ser um baita jogador, mas não um armador que cria cestas fáceis para seus companheiros. E quer saber? Esses dois também sofreram com lesões. Some a isso casos de jogadores menos badalados e as inúmeras partidas perdidas pelos mais diferentes motivos pelo próprio Anthony Davis e temos um padrão preocupante.
Calhou que havia um problema interno mesmo. Depois de perder o Diretor de Medicina Esportiva John Ishop para o Detroit Pistons em 2014, o Pelicans não contratou ninguém para o essa exato posto e tapou o buraco trazendo alguém do New Orleans Saints, time de futebol americano que divide alguns locais de treino com o Pelicans. O escolhido, Duane Brooks, chegou dizendo que era da “velha guarda”, que não usava muito dessas novas tecnologias e que “um ligamento rompido no basquete é um ligamento rompido no futebol americano”. Em uma entrevista à ESPN sobre a onda de lesões na equipe em 2016, Jason Sumerlin, que tinha acabado de chegar do San Antonio Spurs para ser chefe da área de condicionamento físico disse que o time “estava indo aos poucos para a direção certa, tentando chegar perto de onde o Spurs está”, e disse que isso passava por coisas simples como “comer melhor”. Segundo o The Athletic, Gentry tentou 140 quintetos titulares diferentes em 400 jogos de temporada regular pelo Pelicans, maior diversidade da NBA de 2015 pra cá.
Por causa dessas lesões, por anos ficamos nesse modo de espera para realmente avaliar o New Orleans Pelicans, mas o momento nunca chegou e eventualmente eles trocaram vários dos nomes importantes. Eric Gordon, aliás, encontrou a paz com seu corpo desde que chegou no Houston Rockets. A nova esperança do time se tornou DeMarcus Cousins, que veio numa troca bombástica com o Sacramento Kings para montar uma dupla de garrafão de estrelas com o Monocelha. Seria o grande desafio da carreira de Gentry, que se encontrasse um jeito de usar os dois versáteis grandões em plena era do small ball poderia revolucionar a liga. Imagine a velha ideia das “torres gêmeas”, mas dessa vez com gigantes capazes e dispostos a driblar, passar e até arremessar de longa distância? Imaginamos, mas não rolou. Na prática, Cousins jogou muito pouco pelo Pelicans. Chegou no fim de uma temporada e pouco conseguiu ajudar. No ano seguinte, na sua melhor fase no time, rompeu o tendão de aquiles e nunca mais foi o mesmo. Mesmo com dois gigantes em quadra, Gentry botou o time pra jogar em velocidade altíssima e o Pelicans era LÍDER DA NBA em número de posses de bola disputadas por partida. Com Anthony Davis machucado (claro), Cousins não só comandava a correria como não mais pisava no banco: foram QUARENTA MINUTOS de quadra em média entre 29 de Dezembro de 22 de Janeiro, quando jogou 51 minutos numa dupla prorrogação contra o Chicago Bulls. Alguns dias depois ele sofreu a lesão que o afastou das quadras por mais de um ano.
Curiosamente, o desastre motivou os melhores momentos de Alvin Gentry e do General Dell Demps no comando do time. Na correria para achar um substituto para Cousins, Demps conseguiu uma troca por Nikola Mirotic, então no Bulls. Gentry o encaixou no time o colocando na posição 4 e empurrando Davis mais tempo para a posição 5. Com a ajuda de um último espasmo de talento de Rondo na armação, vimos por alguns meses um time dinâmico, intenso, inteligente e simplesmente mortal no ataque. Só que bons resultados, como comentamos acima, trazem junto consigo a bendita EXPECTATIVA. Parecia que finalmente Gentry tinha achado o grupo e o sistema ofensivo para fazer Davis não só brilhar como vencer. Só que Rondo não renovou, para seu lugar chegou só Elfrid Payton e Mirotic perdeu 22 jogos por lesão na primeira metade da temporada seguinte, que foi um desastre para um time que todos esperavam que ia lutar por Playoff de novo. Para fechar o pacote com chave de ouro, AD se cansou dos altos e baixos e pediu para ser trocado.
O resto a gente lembra: Davis foi finalmente negociado com o LA Lakers, o Pelicans ganhou o sorteio do Draft, Zion Williamson chegou para jogar junto de Brandon Ingram e Lonzo Ball, JJ Redick foi contratado e Gentry ganhou o trabalho de fazer esse time de pirralhos misturados a alguns bons veteranos brigar por coisa boa desde cedo. Só que, adivinhem só, Zion se machucou e a temporada do time foi uma montanha-russa de momentos terríveis com outros excelentes, culminando em atuações insossas na Bolha, onde o time caiu da 10ª para a 12ª posição no Oeste ao invés de ir para o Play-In que parecia ter sido inventado só para eles. Relembrar disso tudo é um jeito de ver como cinco anos é MUITA coisa e ao mesmo tempo a gente fica com a impressão que ele nunca teve um momento de paz para mostrar seu serviço.
Um contraponto a isso vem da nossa própria experiência de vida, especialmente em 2020: não dá pra esperar ficar tudo bem porque provavelmente nunca vai ficar. Nada ajudou Gentry no seu período na Louisiana: lesões, gestão precária, contratações ruins e mudanças de elenco antes que ele pudesse realmente encontrar soluções. Mas é uma liga de adversidades onde chances escassas passam rápido e é preciso estar lá para abocanhá-las. Gentry não conseguiu.
Foram poucos grandes momentos, mas o treinador teve suas chances. Não conseguir manter o time atuando em alto nível depois dos Playoffs de 2018 foi uma grande derrota sua. Também faltou aproveitar essa sobrevida que a chegada de Zion e a explosão de Ingram o ofereceram. Ele tentou dar uma identidade para o time com muita velocidade e com sua grande estrela saudável tudo seria mais fácil, mas demorou demais para fazer as coisas funcionarem e o time foi constrangedor na defesa por muito tempo, algo que a gente não esperava já que Jrue Holiday, Lonzo Ball e Derrick Favors são todos bons marcadores. A falta de preparo e as atuações fracas na Bolha foram a gota d’água. Não foi a primeira vez nesses cinco anos que vimos um Pelicans apático, e inspirar e pilhar os jogadores é parte importante do trabalho de um treinador.
Vale lembrar que Gentry não foi o nome escolhido por David Griffin, atual General Manager do time que chegou há um ano para reformular o time a partir da troca de Anthony Davis. O treinador se encaixou no plano de já brigar por Playoffs no curto prazo, mas é complicado ter muitos votos de confiança de um chefe que não te escolheu para o cargo. Muitos jovens deslancharam sob seu comando nesses anos, mas o time nunca decolou como o esperado. Dell Demps pagou a primeira parcela do pato há um ano, agora foi a vez de Gentry.
BRETT BROWN
Nós já decretamos o fim do Processo em 2016 quando o então General Manager Sam Hinkie pediu demissão em uma hilária carta de 16 páginas. Mas talvez seja mais preciso cravar que foi agora que essa histórica fase do Philadelphia 76ers realmente chegou ao fim: daquele time de 2013-14 que iniciou o processo mais ousado, longo e explícito de tanking (a estratégia de montar times ruins de propósito para ser favorecido no Draft da NBA) da história da liga, apenas o técnico Brett Brown estava presente no time agora em 2020. E mais, as últimas das DÚZIAS de escolhas de Draft coletadas por Hinkie ao longo do Processo já foram feitas ou trocadas nessa última temporada. Agora o Sixers é um time comum, com folha salarial cheia, dono apenas das suas próprias escolhas de Draft e os nomes responsáveis pelas futuras decisões não estavam lá quando toda a aventura começou. De resquício sobram Joel Embiid e Ben Simmons, as joias da coroa que ainda fazem o negócio todo parecer que valeu a pena.
É bom fazer essa distinção entre início e fim do Processo porque o trabalho de Brett Brown foi bem diferente nas duas fases. No começo seu trabalho era encontrar joias brutas no meio de um time intencionalmente ruim e criar um grupo interessante o bastante para encher o ginásio mesmo quando a equipe ganhava apenas 10 dos 82 jogos em uma temporada. Isso ele fez: mesmo num ambiente que tinha tudo para ser caótico, Brown motivou seus jogadores e os fez jogar com disciplina toda santa noite mesmo quando sabiam que seriam batidos por elencos bem mais veteranos e talentosos. No meio do caminho ele revelou nomes como Robert Covington, TJ McConnell, Tony Wroten, Tim Frazier, Jerami Grant, Glenn Robinson III, Jakarr Sampson, Richaun Holmes e Timothé Luwuau-Cabarrot, vários deles ainda na liga anos depois. Muitos talvez nem conseguissem vaga na NBA se não fosse um time propositalmente buscando jogadores baratos para enfiar no elenco. E embora o Sixers tenha tido o pior ataque da liga por QUATRO ANOS SEGUIDOS nessa fase de reconstrução, Brown conseguiu colocar o time no Top 15 de defesas duas vezes, um feito.
Eventualmente tudo isso começou a valer a pena, especialmente quando descobrimos que Embiid e Simmons não eram só talentosos, mas precoces. Eles levaram o time para os Playoffs já em 2018, primeiro ano da dupla junta, e logo os ventos viraram. Agora, já com Hinkie fora, o objetivo era ganhar, ir longe e trocar ou contratar nomes de peso para fechar o elenco ao redor de das jovens estrelas. E aí vemos um paralelo com o que Gentry passou no Pelicans: gestão confusa e lesões.
Começou com a pressão externa dos donos do time (e da própria NBA, dizem) que forçou a demissão de Hinkie, depois o processo de procura por um novo General Manager que foi conduzido por Jerry Colangelo e que acabou com a contratação de… Bryan Colangelo, seu filho. Ele, por sua vez, acabou deixando o time depois que foi descoberto que ele conduzia um esquema de contas falsas no Twitter para defendê-lo de críticas (especialmente sobre o tamanho do colarinho de suas camisas) e para atacar desafetos no Sixers e ao redor da NBA. Juro que é verdade.
Depois desse mar de caos, o time ficou sem General Manager por alguns meses e o próprio Brett Brown assumiu o cargo de forma interina. A nova busca por um condutor acabou com a promoção de Elton Brand, o membro mais inexperiente da franquia em gestão. Na última semana, ao anunciar a saída de Brown, Brand admitiu que não estava preparado para o cargo quando o assumiu e que irá reformular a gerência do time e trazer mais “mentes do basquete” para ir além dos números.
É claro que no meio dessa história toda o elenco do Sixers ficou caótico: uma hora Brown tinha que saber como montar um time ao redor de um pivô em pleno 2017, depois tinha que fazer isso mas com o bônus de um armador que se recusa a arremessar. E sem contar os ajustes para refazer o time a cada lesão de Embiid e Simmons, que se revezam no departamento médico. Quando o time achou uma identidade, Robert Covington e Dario Saric foram embora para a chegada de Jimmy Butler, uma personalidade que por si só já exigiria muitos ajustes. Na mesma temporada, dois meses depois, outra parte do time foi embora para trazer Tobias Harris. Mais ajustes, incluindo mudar Simmons completamente de posição no meio dos Playoffs. Foi difícil, mas houve sucesso, com o Sixers levando o futuro campeão Toronto Raptors ao limite do último segundo de um Jogo 7. Só que ao invés de manter o elenco, Brand resolveu deixar Butler ir embora (assim como Redick, já que ambos pediam contratos maiores) e gastar uma nota preta em Al Horford. Se vira aí, coach!
O elenco dessa temporada do Sixers é como colocar o técnico para jogar no HARD com o controle quebrado, mas é sua função achar um jeito de fazer funcionar. Assim, por exemplo, como Frank Vogel achou um jeito de fazer o elenco nada convencional do LA Lakers dar certo e liderar o Oeste. É preciso haver um equilíbrio na ideia de que podemos “defender” um técnico ao dizer que ele só recebe abacaxis, mas saber ao mesmo tempo que para ser um dos melhores na melhor liga de basquete do planeta é preciso ser especialista em frutas tropicais. Brett Brown não soube lidar elas nos últimos anos, especialmente em 2019-20.
Além dessa temporada desastrosa, Brown já tinha deixado a desejar nos anos anteriores nas séries de Playoff. Seus ajustes costumam demorar para acontecer e algumas mudanças na rotação foram difíceis de entender. Usar Butler como armador foi uma boa sacada e previu o que iria acontecer no ano seguinte no Miami Heat, mas no caminho ele alienou Simmons e a demora irritou Butler, que deu a entender que a falta de liderança na equipe foi um fator que contribuiu com sua decisão de mudar de time. Já no ano anterior contra o Boston Celtics e agora de novo na Bolha contra o mesmo adversário, Brown ficou perdido sem saber como parar o ataque verde. Séries de Playoffs são longas e ver um time bater o outro QUATRO VEZES da mesma forma pode ser enlouquecedor para torcedores e patrões.
O saldo dos sete anos de Brown no Sixers é positivo. Ele pegou um time que nem parecia profissional e sobreviveu ao furacão para entregar um dos favoritos do Leste. Uma pena que ele lidou melhor com pirralhos em busca de um espaço na liga do que com as estrelas caras, exigentes e cheias de personalidade que caíram no seu colo ao longo dos anos. E confesso que minha análise ainda não acabou, espero ver o que um próximo treinador vai fazer com Embiid, Simmons, Harris e Horford em quadra ao mesmo tempo para ver que outras alternativas existiam e não foram utilizadas.
NATE MCMILLAN
O padrão continua no Indiana Pacers: Nate McMillan passou por diversas fases do time e teve que se adaptar ao que caiu no colo, desde um elenco montado ao redor de Paul George e Jeff Teague a outro com Victor Oladipo, Domantas Sabonis e Myles Turner. E teve que lidar com as lesões de todos eles, claro. Foram quatro anos de McMillan em Indianápolis e quatro derrotas na primeira rodada dos Playoffs, três delas em varridas e as duas últimas com desfalques de Oladipo e Sabonis, All-Stars nos anos das lesões.
Não foram situações fáceis e por muito tempo a expectativa trabalhou ao lado de McMillan, que tirou leite de pedra com elencos que ninguém botava muita fé, especialmente quando perderam George e apostaram as fichas em Oladipo e Sabonis, que vinham de temporadas discretas no OKC Thunder. Sob seu comando, como aconteceu de novo nessa temporada com TJ Warren, os dois se encontraram e deslancharam na carreira. Entra na conta do sucesso também a boa defesa do time, que se manteve entre as melhores da liga mesmo com as mudanças de elenco.
O problema é que uma hora a expectativa muda, todo mundo se olha e diz: e agora? Como a gente dá o próximo passo? Como mostrei extensivamente em um post escrito há alguns meses, a equipe é bem antiquada no ataque, lenta, e confia demais nas bolas de longa distância mesmo na época em que tinha bons arremessadores de longa distância no elenco. Relembro um trecho do texto:
As reclamações da torcida, porém, são pré-Oladipo. A que mais atinge o técnico Nate McMillan é a do perfil dos arremessos do time, exageradamente focado em bolas de meia distância. O Pacers é o quarto time que mais arremessa bolas de média distância na NBA, o segundo se contarmos apenas os arremessos chamados de “long 2s“, aquelas bolas de dois pontos quase com o pé na linha dos 3. São os tiros com pior aproveitamento geral na NBA e por isso alvo de repulsa por times que montam seus ataques baseado nos números (…)
A questão é: até quando eles vão aceitar ser o tão temido time de meio de tabela? A insatisfação da torcida me parece uma simples e honesta vontade de algo a mais, a fase de amor por um querido “time arrumadinho”, disciplinado e brigador pode não durar para sempre entre todos os torcedores. Os resultados nunca são ruins, mas não apresentar mudança de estilo de jogo nas últimas temporadas torna o desejo pela cabeça do treinador compreensível. Para quem vê de fora pode ser legal ter esse time diferente dos outros no estilo de jogo, mas torcer por algo assim em 2020 pode ser, sim, frustrante.
No fim das contas acho que isso que pesou na demissão de Nate McMillan, a falta de uma perspectiva de melhora. Sua demissão foi até curiosa, já que antes dos Playoffs o time anunciou uma extensão de contrato de um ano com o treinador que, encabulado, topou, mas dizendo que normalmente prefere negociar essas coisas depois que a temporada acaba. Duas semanas e uma varrida frente ao Miami Heat depois, ele estava na rua. A história do “técnico prestigiado” alcançou outro patamar no Pacers, olha a frase completa do General Manager Kevin Pritchard: “O que Nate fez aqui em quatro temporadas o fez merecer essa extensão. Entre lesões e mudanças de pessoal, ele e sua equipe se adaptaram e produziram resultados positivos. Ele também representa a franquia, a cidade e nosso estado de ótima maneira”.
Os boatos dos bastidores no momento é de que o Pacers conseguiu, de última hora, um acordo para contratar um novo técnico e por isso mudou de planos tão rápido. Dizem que planejam levar Mike D’Antoni para lá, algo que não acreditavam ser possível quando anunciaram a continuidade de McMillan mas que se tornou realidade pouco tempo depois. Se a história for verdade ela explica essa GAFE e mostra que o time, mesmo que de repente, percebeu que talvez seja preciso colocar um pouco de modernidade no tempero desse ataque insosso. E cá estaremos nós aqui ano que vem dizendo sobre D’Antoni: como ele poderia ter sucesso com seu sistema de jogo em um time que paga caro em dois grandalhões no garrafão? É mais um que vai precisar aprender a descascar abacaxi.