🔒 O futuro de Giannis, o passado de LeBron

No começo do ano – mais especificamente em janeiro – vivíamos tempos mais simples. Sem pandemia, sem quarentena, sem protocolos de segurança, sem uma bolha para se jogar basquete. Naquela época, agora estranhamente distante e quase irreconhecível, tudo era diferente. Os velhinhos podiam ir aos mercados, as crianças brincavam nas ruas. E o Milwaukee Bucks era feliz, muito feliz.

Ainda na segunda semana de janeiro, o Bucks passava por uma sequência impressionante: viajou por 4 cidades diferentes em sequência e jogou 4 partidas, as últimas duas em dias consecutivos, ganhando todas. Ao invés de um time exausto, o que vimos foi um time dominante e eufórico. Na quarta partida dessa sequência, contra o Blazers, os três principais jogadores do Bucks (Giannis Antetokounmpo, Khris Middleton e Eric Bledsoe) somaram 91 pontos e a alegria na entrevista após o jogo, que você vê abaixo, é tão contagiante que dá vontade de rir junto com eles. Riso, vale lembrar, é essa coisa que a gente fazia naqueles tempos mais ingênuos.

O Bucks da entrevista acima somava 42 vitórias e 6 derrotas na temporada, tinha a melhor defesa da NBA e o oitavo melhor ataque. Se mantivesse o mesmo ritmo e não houvesse o encurtamento da temporada, somaria 70 vitórias – suficiente para a terceira melhor campanha da história da NBA. Não por acaso, Giannis Antetokounmpo foi eleito o MVP da temporada – da temporada REGULAR, claro, como gostam de lembrar seus críticos.

Mas o que mais me fascina nesse Bucks da entrevista não é o grau histórico de sucesso, mas o nível de ALEGRIA e MALEMOLÊNCIA desse elenco. Tá todo mundo rindo fácil e elogiando os companheiros como se não houvesse amanhã. Bledsoe fala da alegria que é estar nesse elenco, de como eles se complementam; Antetokounmpo fala que não sabe como seria possível defendê-los, porque Middleton acerta arremessos de todo lugar e Bledsoe ataca a cesta e lhe entrega passes, e que os dois tornam sua vida muito mais fácil. A repórter chega a perguntar se falta alguma coisa, já que eles parecem cumprir tudo que é importante numa quadra de basquete. Claro que ninguém responderia “FALTA UMA OUTRA ESTRELA, PÔ, BLEDSOE NÃO DÁ, KKKKK”, mas o que impressiona é que eles parecem legitimamente felizes com a química e o com o elenco. E até a comissão técnica parece perfeita: o técnico do Bucks, Mike Budenholzer, não apenas foi eleito o técnico no ano na temporada passada como também ficou em segundo lugar na temporada atual. Não é só gente feliz, é gente feliz, vencedora e premiada.

Por isso o General Manager do Bucks, Jon Horst, parecia tão confiante em sua relação com Antetokounmpo quando o time entrou na bolha. Perguntado sobre as possibilidades de jogadores de outros times tentarem “recrutar” sua estrela, cujo contrato termina ao fim da temporada 2020-21, Horst foi categórico de que não havia risco nenhum porque Giannis passaria “sua vida inteira em Milwaukee” por conta de sua proximidade profissional e pessoal com o elenco, a comissão técnica e a diretoria. E avisou, para surpresa de ninguém, que o time ofereceria assim que fosse possível a extensão super-máxima, que nós chamamos por aqui de POTE DE OURO, reservada apenas para que times possam convencer as grandes estrelas a ficarem nos times que as draftaram – os 253 milhões de dólares por 5 anos ofertados a Giannis, mais de 50 milhões por ano, não podem ser oferecidos por nenhuma outra equipe, independente de quanto espaço salarial tenham sobrando.

No entanto, num ano que nos ensinou a colocar nossas expectativas na privada, tudo mudou radicalmente para o Bucks de uma hora para a outra: a alegria entre os jogadores virou poeira, a campanha histórica virou uma eliminação nas Semi-Finais da Conferência Leste para um time que ninguém na época colocava muita fé, o prêmio de MVP para Antetokounmpo pareceu dessincronizado com suas atuações limitadas nos Playoffs, o segundo lugar no prêmio de técnico do ano não casava com a dificuldade de Budenholzer de fazer quaisquer ajustes, Eric Bledsoe sequer faz mais parte do elenco que ele disse ter “tanto orgulho de participar”, e Antetokounmpo não aceitou os 253 milhões de dólares – ao menos não ainda. Depois da eliminação traumática para o Miami Heat, que acabou sendo campeão da Conferência Leste, Antetokounmpo parou de seguir todos os companheiros de time no Instagram, pediu uma reunião a portas fechadas com a diretoria e colocou em dúvida seu futuro em Milwaukee. É o que a gente sempre diz: perder faz muito mal para a coesão de qualquer equipe da NBA.


É impossível não traçar paralelos entre Giannis Antetokounmpo e LeBron James durante as primeiras temporadas dos dois – em termos de talento, no sentido de que são ambos jogadores dominantes na NBA, mas principalmente em termos de história, de contexto. Os dois foram draftados por franquias de pouco valor econômico, em cidades pequenas, longe dos grandes mercados, no caso Milwaukee e Cleveland. Os dois transformaram suas franquias em grandes negócios rapidamente (para termos uma ideia, o sonho do Bola Presa de comprar o Bucks residia no fato de que era a franquia mais barata da NBA, comprada por “apenas” 550 milhões de dólares em 2014; hoje, ela vale 1.6 BILHÕES de dólares). Mas as comparações são ainda mais impressionantes quando vemos os anos 6 e 7 de suas carreiras. Os dois chegaram às suas sextas temporadas com a mesma idade, 24 anos, e médias parecidas em termos de impacto: LeBron com 28.4 pontos, 7.6 rebotes e 7 assistências, Giannis com 27.4 pontos, 12.6 rebotes e 6 assistências. Os dois fizeram seus times terminarem a temporada regular como líderes do Leste nos anos 6 e 7 de suas carreiras, foram MVP nesses dois anos e jogaram para o técnico do ano durante o ano 6 de cada um. Os dois também perderam nas Finais da Conferência Leste no ano 6, e depois perderam nas Semi-Finais da Conferência Leste (ou seja, deram um passo para trás) no ano 7. São trajetórias muito, muito parecidas.

A diferença principal é que LeBron venceu a Conferência Leste e chegou a uma Final da NBA já na sua quarta temporada, enquanto Antetokounmpo nunca havia passado da primeira rodada até a temporada passada – o grego, afinal, levou bem mais tempo para alcançar a condição de superestrela. Mas o que importa na comparação, ao meu ver, é a maneira como as duas estrelas lidam com as expectativas e com os fracassos, e como suas franquias, desesperadas, tentam lidar com essas estrelas para agradá-las a todo custo. LeBron, ao término de sua sétima temporada, tinha que escolher entre ficar no Cavs ou mudar de equipe, pois havia assinado uma extensão um pouco mais curta – e sincronizada com as extensões de Dwyane Wade e Chris Bosh, o que lhes permitiu jogarem juntos. Antetokounmpo não, terá mais uma temporada antes de decidir, mas a situação é a mesma: lidar com um time que parece melhor do que é, num momento em que mídia e público esperam um título para validar toda uma carreira, e não saber se a franquia tem condições de fazer os movimentos corretos para tornar um título possível.


Quando LeBron foi eliminado nas Semi-Finais da Conferência Leste em 2010, seu prêmio de MVP foi colocado em dúvida. Grande parte do público acha que a temporada regular não tem qualquer valor, e que o prêmio de jogador mais valioso precisa ser “validado” por resultados na pós-temporada. Quando LeBron deixou o Cavs, só o anel importava – era o título que validaria os prêmios anteriores, e que apagaria o ódio e as críticas que recebia, inclusive por ter mudado de time. O plano talvez não tenha funcionado a princípio, mas eventualmente deu certo: ganhar títulos fez com que LeBron fosse mais respeitado, celebrado, virou “Papai LeBrão” e sua ida para Miami parece, hoje, completamente justificável.

Giannis vive, agora, situação parecida. Seu prêmio de MVP foi alvo de piadas na internet e tanto torcedores quanto analistas cogitam se o jogador “não é tudo isso”, se vale um contrato máximo, se não é limitado demais, se a temporada regular não é uma enganação, etc. Há uma expectativa de título que afoga o sucesso da maior parte da temporada e que responsabiliza o jogador pelo time não manter o domínio na hora dos Playoffs. Faz sentido, portanto, que a felicidade daquela entrevista tenha desaparecido – Antetokounmpo foi lançado para dentro dessa narrativa de que os maiores prêmios individuais são irrelevantes frente a uma eliminação na pós-temporada.

E é claro que Giannis é responsável, assim como LeBron era – afinal, os dois entram em quadra. Mas a responsabilidade maior está em dois outros pontos, que acometeram o jovem LeBron e agora acometem o jovem Giannis: a franquia ser muito pequena, e o time ser dominante demais na temporada regular.


Franquias pequenas tem uma questão curiosa: o sucesso financeiro delas é única e exclusivamente responsabilidade de uma eventual grande estrela que seja revelada por lá. Enquanto todas as franquias da NBA cresciam de valor ano após ano, o valor do Cleveland Cavaliers foi o único a cair e despencou 50 milhões de dólares quando LeBron foi para Miami – uma queda de mais de 10% no então preço da franquia. Essa dependência das estrelas tem um efeito duplo e paradoxal: por um lado, os donos dessas franquias querem gastar o máximo possível de dinheiro para manter esses jogadores, já que o custo de perdê-los impacta o valor da franquia numa proporção maior do que os salários ou eventuais multas; por outro lado, os donos tem receios de fazer muitos gastos porque sabem que se as estrelas saírem do time, a franquia perderá valor e os gastos serão um problema muito, muito sério de se resolver.

O Cavs é um caso bem interessante para entendermos essa matemática. Na última vez em que o time foi para as Finais da NBA, em 2018, o time foi o ÚNICO da NBA a perder dinheiro após somar os ganhos com televisão, a ida às Finais e a divisão de lucros da liga. Por conta da maior folha salarial da NBA na época e dos 25 milhões de dólares em multas por ultrapassar o teto salarial, o time perdeu mais de 6 milhões de dólares só para participar da temporada 2017-18. Parece um absurdo PERDER dinheiro no modelo franquiado da NBA, em que comprar uma franquia é um investimento, mas o gasto foi para tentar convencer LeBron James a ficar em Cleveland. Quando pensamos que a saída de LeBron havia reduzido o valor da franquia em 50 milhões alguns anos antes, perder 6 milhões para manter a estrela parece um valor pequeno em comparação.

O problema é que LeBron saiu MESMO ASSIM, e os custos e gastos se mantém até hoje. Três temporadas depois, o Cavs ainda tem a oitava maior folha salarial da NBA, acima do teto salarial, o que acarreta em multas e aumenta ainda mais os custos de um time que não tem mais uma grande estrela para subir seu valor de mercado. Isso significa que uma franquia como o Cavs não deveria nunca fazer esses gastos, porque não consegue mantê-los se sua estrela sair; porém, se não fizer esses gastos, praticamente garante que sua estrela irá sair. Isso gera uma série de situações desconfortáveis e contraditórias, com o time prometendo reforços que hesita em bancar, e contratando grandes salários apenas no desespero, quando percebe que a saída de sua grande estrela é quase inevitável. O resultado é um time com problemas de planejamento, que faz sempre contratações desesperadas e mais caras do que deveriam ser, em cima da hora, e com a necessidade de que esses acréscimos mostrem resultado imediatamente. É um time com pressa e que paga o preço por isso. Como todos os outros times e jogadores da NBA estão cientes da situação – de que a franquia pequena, agora que a água está no pescoço, vai pagar o valor que for numa troca ou contratação em cima da hora – os preços são elevados ao máximo, o que aumenta ainda mais os custos. LeBron sofreu com isso em todos os seus anos de Cavs; agora, chegou a vez de Giannis.

A estrela do Bucks vai enfrentar os extremos dessa situação de uma temporada para a outra: em 2019-20, a equipe de Milwaukee não quis oferecer 80 milhões por 4 anos de Malcolm Brogdon porque parecia caro demais, o que piorou a qualidade do elenco (e acabou fazendo falta na hora de criar jogadas nos Playoffs, como comentaremos mais abaixo); para 2020-21, agora que o Bucks percebeu que é tudo ou nada para manter Giannis, veremos o oposto, com a chegada dos 26 milhões por ano do salário de Jrue Holiday catapultando os gastos da equipe e gerando taxas gigantescas por estourar o teto salarial. Franquias pequenas com estrelas enormes tem dificuldade de se planejar, não encontram equilíbrio financeiro e acabam prejudicando a formação de seus elencos a longo prazo, como é bem visível com o Cavs de anos atrás e com esse Bucks recente.


Mas aqui surge o que é, pra mim, o maior responsável pelas dificuldades dessas equipes: mesmo com tudo isso, são times que dominam na temporada regular, conquistando com facilidade a primeira colocação na Conferência Leste. E por que isso seria um problema? Basicamente porque o time passa a ter dificuldades de julgar o próprio elenco, de perceber os problemas de suas contratações, de saber se tem o técnico certo para o serviço e de se preparar para adversidades futuras, na quadra e fora delas.

Como já comentamos por aqui, o tema dessa pós-temporada foi versatilidade – e times como o Heat só descobriram diversas maneiras diferentes de defender, incluindo a zona, porque passaram por situações de muita dificuldade. Erik Spoelstra só usou a zona com o Miami Heat da primeira vez, anos atrás, porque o time estava tomando uma surra e ele não tinha nada a perder. Parece estranho, mas um dos motivos do Heat ter ficado tão bom é o fato de que o time, em si, não é tão bom assim. Eles tiveram uma temporada inteira de altos e baixos para polir seu jogo, encontrar variações possíveis, inventar novas possibilidades, improvisar jogadores em múltiplas posições, mudar seu jeito de jogar para se adequar ao adversário – porque sem isso eles simplesmente não são bons o bastante para vencer. O técnico Erik Spoelstra teve que ser testado nas mais diversas situações, tornou-se maleável e fez com que o elenco comprasse a ideia de que sem essa maleabilidade o time simplesmente não tinha como bater de frente com as grandes forças da NBA, muito mais recheadas de estrelas do que eles.

O Bucks, por outro lado, teve uma das temporadas mais dominantes de todos os tempos em questão de vantagem no placar em suas vitórias. Foi um time que não só vencia os jogos, vencia por MUITO, mas muito mesmo. Jogou absolutamente todos os jogos exatamente da mesma maneira, sem precisar improvisar, inventar, testar outras possibilidades; Budenholzer não teve que arriscar uma única movimentação que não fosse aquilo que já estava funcionando.

Esse tipo de constância – que só é possível quando você tem um jogador nos níveis de LeBron ou Giannis no seu time – só foi parecer de fato um problema nos Playoffs, quando os times tinham mais tempo para se preparar exclusivamente para enfrentar o Bucks e sabiam EXATAMENTE o que o adversário iria fazer em quadra. O primeiro indício de que isso seria um problema enorme nas Semi-Finais de Conferência aconteceu ainda fora da quadra, numa entrevista dada por Jimmy Butler. Quando perguntado se ele não temia ser marcado individualmente por Antetokounmpo, Butler foi categórico ao afimar que ele tinha certeza de que isso NUNCA ACONTECERIA, porque o Bucks sempre usava Antetokounmpo na cobertura, que eles faziam o que já estavam acostumados e que não iria mudar de repente. Dito e feito: Jimmy Butler acabou com o Bucks e nem por um segundo a equipe de Milwaukee mudou seu jeito de defender ou cogitou colocar Antetokounmpo para marcá-lo pessoalmente.

A constância do Bucks chegou no ponto de virar intransigência, teimosia e, por que não, burrice. Como exemplo, Brook Lopez se tornou um gênio defensivo nas mãos de Budenholzer, que inventou uma maneira de protegê-lo dos duelos com jogadores mais ágeis: é o “drop”, situação em que o pivô caminha para trás, rumo ao aro, em situações de corta-luz. Mas depois dessa descoberta, Budenholzer bateu o martelo de que todos os pivôs do Bucks jogariam dessa mesma maneira, mesmo quando o Heat estava ciente disso e explorando o espaço que isso gerava na meia distância. E o Bucks manteve esse plano mesmo quando Giannis, um dos defensores mais versáteis e atléticos da NBA, jogou minutos como pivô. Olha que constrangedor no segundo vídeo abaixo um jogador como Antetokounmpo, que pode contestar qualquer arremesso porque em meia passada ele já chega na Lua, tendo que fingir que é lento como o Brook Lopez e caminhar para o aro frente ao primeiro sinal de um corta-luz (no primeiro vídeo abaixo, o mesmo acontece com Marvin Williams nos seus minutos de pivô):

Era essencial que o Bucks mudasse seu estilo de jogo, mas o time nunca tinha tentado nada diferente na temporada regular por motivos de NÃO PRECISOU. E isso deixou evidente uma qualidade de Antetokounmpo que, na luz errada, vira um defeito tremendo: o grego é muito, muito obediente taticamente. Ele é famoso por seguir à risca as orientações do técnico, não inventa nada muito diferente, não tenta jogadas que não foram planejadas. Isso pode ser um sonho para muitos técnicos, mas num momento em que o Bucks estava sendo massacrado justamente por jogar de maneira previsível, a previsibilidade de Giannis caiu como uma bomba na percepção pública. Ao invés de obediente, Giannis pareceu sem criatividade, passivo, desinteressado, recebendo a bola sempre nas mesmas situações e tentando as mesmas jogadas. É que as jogadas funcionaram muito bem na temporada regular, contra times que não sabiam (ou não tinham tempo de saber) como impedir esse tipo de movimentação.

No Jogo 3, com o Bucks já perdendo aquelas Semi-Finais por 2 a 0, ainda rolou aquele quarto período medonho, literalmente a maior surra em quartos períodos da história dos Playoffs:

Tudo porque o Heat sabia perfeitamente tudo que o Bucks iria fazer no ataque e na defesa nos momentos cruciais; não por acaso, o jogo que o Bucks acabou ganhando foi sem Antetokounmpo, lesionado, quando o time de Milwaukee teve que improvisar um jeito novo de jogar que surpreendeu o Heat (e até o próprio Bucks, que nem imaginava que algo daquele tipo fosse possível). Foi o único jogo em que até os MINUTOS dos jogadores foram uma surpresa, já que Budenholzer manteve seus atletas jogando os mesmos minutos da temporada regular – de novo, a linha entre a constância e a teimosia é muito tênue, e quem decide é simplesmente o resultado final. Como perdeu, foi teimosia. Mas se tivesse perdido mais, e durante a temporada regular, Budenholzer certamente teria aberto mão do limite de minutos mais rápido – ou então, teria perdido o emprego.


Me parece bastante evidente que franquias pequenas no Leste com uma estrela de talento que muda gerações sofrem de males parecidos: há medo de gastar demais, seguido por necessidade de gastar demais, e uma situação que favorece bons resultados na temporada regular (até porque o Leste é menos competitivo) e menos necessidade de se adaptar, o que cobra um preço nos Playoffs. No entanto, essas franquias aprendem; mudam de técnico, abrem os bolsos, fazem ajustes. Eventualmente, conseguem criar uma situação adequada para vencer um título. O problema é que até lá, suas estrelas podem já ter ido embora, frustradas, cansadas de serem culpabilizadas pelo fracasso. Se a comparação que fizermos servir para imaginar o futuro, Giannis Antetokounmpo eventualmente ganhará um título em Milwaukee, e tudo leva a crer que isso é uma possibilidade real. No entanto, talvez não seja em sua primeira passagem pela franquia; talvez, se a temporada 2020-21 não correr como imaginado, Antetokounmpo escolherá testar novos ares, experimentar novas franquias e ganhar alguns títulos por aí, antes de retornar para sua casa original, modesta, confusa e com dívidas gigantescas que ele mesmo, direta e indiretamente, acabou ajudando a acumular.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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