🔒A NBA está piorando? – Parte 2

Tentando descobrir se as afirmações de Charles Barkley de que a NBA está “pior do que jamais foi” por ter jogadores ruins arremessando de três pontos e apenas “um ou dois, três ou quatro bons times” eram corretas, analisamos o período em que Barkley esteve na Liga. Em nossa primeira parte concluímos que os arremessadores são cada vez melhores, mesmo com as defesas atuais sendo desenhadas para tentar impedir os arremessos de longa distância; e vimos que o número de times com reais chances de título e a distância deles para os times piores variou pouco nas últimas décadas, colocando as temporadas atuais praticamente no mesmo nível daquelas em que Barkley atuou como jogador. Não restam muitas dúvidas de que as afirmações de Barkley sobre a qualidade da NBA atual estão estatisticamente incorretas e são apenas fruto de uma percepção pessoal.

Nosso próximo passo, então, é tentar entender o que leva a essa percepção – que, como podemos ver nas ~redes sociais~ é compartilhada por muitos fãs, tanto casuais quanto assíduos. Vimos que apenas os dois primeiros colocados de cada Conferência possuem historicamente chances de título e que o número de equipes acima de 60% de aproveitamento na temporada, fazendo frente aos times com chances reais, varia sempre de 5 a 9 equipes por ano. Será, então, que é a VARIAÇÃO dessas equipes e dessas forças que dá a sensação de que a Liga é melhor e mais equilibrada? Essa teoria parece casar bem com as acusações de que AGORA – como se isso nunca tivesse acontecido antes – as grandes estrelas querem todas jogar juntas, deixando a NBA um campeonato de “cartas marcadas”.

Para testar essa hipótese, voltamos ao nosso período de análise: a carreira de Barkley, da temporada 1984-85 até 1999-2000. Durante essas 16 temporadas, os dois primeiros colocados durante a temporada regular de uma das Conferências foram idênticos aos dois primeiros colocados da temporada anterior por 4 vezesCeltics e Bucks foram os primeiros colocados do Leste nas temporadas 1984-85 e 1985-86, Bulls e Celtics nas temporadas 1990-91 e 1991-92, Bulls e Heat nas temporadas 1996-97 e 1997-98, e Jazz e Sonics foram os primeiros colocados do Oeste nas temporadas 1996-97 e 1997-98. Aliás, esse período que vai de 1996 a 1998 teve os dois primeiros colocados do Leste e do Oeste dominando o topo, sem oscilação, e ambas as temporadas acabaram da mesma maneira: uma Final da NBA entre Bulls e Jazz, com vitórias relativamente fáceis do Bulls por 4 jogos a 2.

Como isso se compara com nossas últimas temporadas? Na temporada 2014-15, os primeiros colocados do Leste foram Hawks, em primeiro, e Cavs, em segundo; no Oeste, foram Warriors, em primeiro, e Rockets e Clippers empatados em segundo. Na temporada 2015-16, o Leste acabou com Cavs em primeiro e Raptors em segundo; o Oeste teve Warriors em primeiro e Spurs em segundo. Ou seja: embora Cavs e Warriors sejam as forças dominantes a se repetirem no topo, as outras forças são todas diferentes de uma temporada para a outra. E ao contrário do que vemos acontecer entre a distância dessas forças dominantes e as demais (com 8 vezes em 16 temporadas o primeiro colocado ficando mais de 10 jogos atrás do segundo colocado), o Cavs ficou 7 jogos atrás do Hawks em 2015 (e foi para as Finais mesmo assim), o Raptors ficou 1 jogo atrás do Cavs em 2016 e o Spurs ficou apenas 6 jogos atrás da campanha histórica do Warriors em 2016. Mais do que 10 jogos de distância, apenas o Warriors de 2015, 11 jogos à frente de outras duas forças empatadas na segunda colocação.

Talvez a sensação não venha, então, da alternância de forças da temporada regular, mas da repetição dos confrontos das Finais, ou seja, de forças soberanas que dominam para além de qualquer dúvida suas Conferências. O problema dessa tese está no fato de que os anos 80 sempre tiveram ou Lakers ou Celtics nas Finais da NBA; que nos anos 90 o Bulls ganhou 6 dos 10 campeonatos disputados; que entre 2000 e 2010 o Lakers ganhou 5 títulos em 7 Finais da NBA, com Spurs ganhando outros 3. Com o Celtics disputando 12 finais em 13 anos entre entre 1957 e 1969, ganhando 11 títulos no processo, acho seguro afirmar que times que dominam suas Conferências ou a Liga inteira durante períodos de até uma década são uma das coisas mais clássicas da NBA.

Se isso é tão comum e Barkley viveu ativamente uma dessas dominâncias ao enfrentar com frequência o Bulls dos anos 90, então será que a sensação de estranhamento com a NBA atual venha não do fato de que temos forças dominantes, mas sim do fato de que as Finais da NBA não variem? Nos 6 títulos do Bulls entre 1991 e 1998, a equipe de Chicago enfrentou nas Finais da NBA 5 times diferentes: Lakers, Blazers, Suns, Sonics e Jazz. Isso provavelmente dá uma sensação de que, embora o Bulls parecesse imbatível, uma nova equipe teria chance de destroná-lo na temporada seguinte, evitando que uma equipe sem chances retornasse de novo e de novo para ser destruída nas Finais. Ainda assim, aquele Bulls enfrentou o Jazz nas Finais por duas temporadas consecutivas – exatamente o que vivemos em nossas duas últimas temporadas, com Warriors e Cavs se encontrando novamente – no que foi, à época, a décima segunda vez que isso acontecia na história da NBA. Desde então, tivemos ainda a dobradinha de Spurs e Heat em 2012-13 e 2013-14 e a mencionada Warriors e Cavs em 2014-15 e 2015-16. Isso quer dizer que desde os anos 50, 28 das 67 Finais disputadas foram no modelo “casalzinho”. Isso dá mais de 40% das Finais acontecendo dentro desse modelo. Resumindo: Warriors e Cavs nas Finais por anos consecutivos, com essa sensação de que NINGUÉM SERÁ CAPAZ DE PARÁ-LOS não deveria ser exatamente novidade para ninguém. E mais: estamos no lucro, no caráter imprevisibilidade, pelo simples fato de Warriors e Cavs terem ganhado um campeonato cada.

Para nossa última hipótese capaz de explicar a percepção das pessoas de que a NBA “piorou”, teremos que usar um poderoso instrumento chamado IMAGINAÇÃO para congelar a temporada atual da maneira que ela está nesse momento, prever que ela acabará exatamente assim e que Warriors e Cavs se enfrentarão novamente nas Finais da NBA simplesmente porque eles são os melhores de suas respectivas Conferências. Nessas condições, aí sim teremos um evento raro seguido de um EVENTO INÉDITO: repetição dos dois primeiros colocados de cada Conferência (como aconteceu nas temporadas 1996-97 e 1997-98), o que é um indicador de pouca variabilidade, e a primeira vez NA HISTÓRIA que dois times se enfrentam nas Finais da NBA por TRÊS VEZES CONSECUTIVAS.

Talvez seja a iminência disso acontecer que arremesse uma CORTINA DE FUMAÇA capaz de nos fazer esquecer de quão improvável foi a ascensão do Raptors nos dois últimos anos; do absurdo que foi a ascensão, queda e nova ascensão do Rockets sob comando de um dos técnicos mais ostracizados da NBA; o absurdo que foi o Warriors quebrar a marca de vitórias numa temporada, ter o Spurs apenas 6 jogos atrás dessa marca e ainda perder a Final da NBA para o Cavs mesmo assim; o ressurgimento da Conferência Leste; como está fora do discurso conspiracionista o fato de que times como Lakers, Knicks e Mavs estão no fundo da tabela; que a revolução estatística está tornando os jogadores MELHORES e mais EFICIENTES, não piores; e que quem tentar entender basquete na base do FEELING vai ficar para trás porque o esporte nunca foi tão complexo e cerebral quanto hoje.

De fato, se Warriors e Cavs se enfrentarem nas Finais uma terceira vez consecutiva, teremos – por baixo de toda essa oscilação de forças secundárias e de histórias e de avanços e melhorias no esporte – um domínio e rivalidade nunca antes visto na História da NBA. O que isso significará, exatamente, é difícil de dizer, especialmente porque estatisticamente não parece haver a dominância que uma terceira final consecutiva apontaria. Mas ainda é cedo para nos desesperarmos: a temporada é longa, muita coisa pode acontecer, e caso realmente ocorra essa Final, podem ter certeza de que o Bola Presa estará aqui para lutar contra a fumaça, os preconceitos e os saudosismos em busca de uma compreensão tão embasada quanto possível desse esporte que tanto amamos.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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