[Convidado] Dallas Mavericks: reencontrando o caminho

Murilo Basso, nosso amigo e leitor do Bola Presa, partiu numa peregrinação para San Antonio para assistir presencialmente à aposentadoria da camiseta de seu ídolo Manu Ginóbili. No processo acabou passando por outras cidades dos Estados Unidos e resolveu nos escrever sobre sua viagem, as cidades que visitou e a relação delas com os times da NBA que abrigam. No seu primeiro texto, fala de sua passagem por Memphis. No texto abaixo, em sua visita a Dallas para ver Dirk Nowitzki uma última vez, conta um pouco sobre a relação da cidade com sua estrela, o encanto com Luka Doncic e a presença do dono do Mavericks, Mark Cuban.


Pense em um senhor com quatro décadas de vida pesando sobre as pernas enquanto desfila por 10, 12 minutos por noite em uma quadra.

Assistir a essa luta contra as limitações do corpo humano de uma das fileiras quase no topo do American Airlines Center pode parecer uma experiência desesperadora, mas na verdade não estamos diante de uma experiência sobre basquete, assim como a temporada de 2018-2019 do Dallas Mavericks não é sobre vencer jogos ou chegar aos Playoffs: o que acontece noite após noite naquela quadra em uma das maiores cidades do Texas é sobre agradecer, sobre desfrutar os últimos momentos enquanto, se olhos também permitirem, se observa o futuro na mesma quadra.

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Mas, claro, pensar no amanhã estando em paz com o passado é a melhor maneira de se planejar o futuro. E o Dallas Mavericks está em paz consigo mesmo e com Dirk Nowitzki.

Para entender esse misto de sensações, voltemos às Finais de 2011, uma das séries que melhor retratam a intersecção entre basquete e vida não porque Dallas talvez não fosse (ali) o melhor time, mas porque alguém precisava se opor aos “vilões” que a narrativa teimou em construir naquele Miami Heat de LeBron, Wade e Bosh.

Enquanto isso, dentro de quadra, o Mavericks revolucionava a NBA levando o uso de estatísticas ao extremo e Rick Carlisle se consolidava como um dos melhores técnicos da liga. Mas no final das contas, naquele momento, para a história, era Dirk, um pistoleiro quase solitário, contra os três vilões.

E a fúria com que Nowitzki entrou em quadra naquelas partidas é o retrato perfeito de Dallas: a melhor narrativa venceu (relembre o ditado já cunhado pela sabedoria popular: ‘se a narrativa é melhor que os fatos, escolha a narrativa’) e a história “Dirk Nowitzki vs. Miami Heat” adquiriu uma dimensão até então inconcebível.

Mesmo assim, a versão “MVP Finals” de Nowitzki, que chocou o mundo do basquete, não diferiu em nada do que os torcedores viram ao longo daquela temporada regular: “A única diferença era volume – enquanto em um dia normal eram oito ou nove arremessos, nas Finais tudo foi sobre Dirk”, relembra um torcedor. “Para nós, era um cenário espetacular: a cada posse, a cada minuto, parecia que alguém morreria em quadra – por sorte foi o Heat, mas de certa forma, nós também morremos um pouco”, continua.

As consequências daquela final, além do título, se assemelham a uma guerra – onde mesmo o vencedor precisa sair dos escombros e procurar o rumo de casa. E é fato que, desde aquela noite, o Mavericks implodiu: Jason Terry ‘traiu’ a cidade, Jason Kidd e Peja Stojakovic tiveram seus últimos suspiros antes da morte e agora são apenas doces lembranças em Dallas e, bem, os restos mortais de Tyson Chandler ainda insistem em perambular pela liga.

Mas isso pouco importa e, embora a franquia pareça ter perdido a direção, seu maior herói os trouxe até aqui para entregar o comando a alguém com origens semelhantes às suas: Dirk ainda entra em quadra não porque existe “valor” nos seus 10 ou 12 minutos, mas porque Dallas precisa de sua presença para planejar o próximo passo.


O homem que mudou o jogo

Para um turista, andar pelas ruas de Dallas enquanto se espera mais um jogo do Mavericks é quase um convite para falar sobre Mark Cuban.

Cuban se tornou bilionário ao entender que o futuro era o streaming antes de qualquer pessoa – ele provavelmente previu Spotify, Netflix e YouTube antes que pudéssemos sonhar com plataformas semelhantes. Então em 1999 Mark vendia sua empresa Broadcast.com por bilhões de dólares em uma época em que provavelmente bilhões de dólares valiam ainda mais que bilhões de dólares.

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Duas décadas depois ele se tornou o bilionário-modelo da nossa geração – celebridade televisiva imerso no mundo da tecnologia e, claro, um dos proprietários de franquias esportivas mais influentes das quatro grandes ligas americanas.

“Foram quase US$300 milhões investidos. Pense: na década de 70, uma franquia custaria quanto? US$ 10 milhões”, brinca outro torcedor. “Talvez meu pai o tenha chamado de imbecil, afinal, o Mavericks só perdia. Mas, bem, obviamente ele é um gênio”.

Vale lembrar que Cuban alterou a forma como um dono se relaciona não apenas com a franquia, mas também com a liga: em 2000, com apenas 41 anos de idade (a mesma idade com que Dirk provavelmente se despede das quadras), Mark trouxe uma nova mentalidade para a NBA; para ele era preciso se modernizar e perceber que a NBA não vendia apenas basquete, mas também entretenimento.

Vá a um jogo do Mavs hoje e você verá a marca de Cuban em todos os locais: ingressos a US$5, assentos próximos a quadra lotados mesmo em uma partida despretensiosa contra o Sacramento Kings – e é possível ouvir o som da bola batendo no aro sempre, não importa se você está na primeira ou na última fileira.

Mas Mark não precisou fazer com que apenas o entretenimento evoluísse, afinal ele comprara uma franquia que havia se tornado “excelente” em perder nos anos 90 e na qual, bem, ninguém era capaz de permanecer – entre o final dos anos 80 e o final dos anos 90, por exemplo, seis treinadores passaram por Dallas e quase nenhum atleta conseguiu criar identificação com a cidade.

Pouco mais de dez anos após a aquisição viria o primeiro título, e é preciso reconhecer que, além de Dirk, Kidd e companhia, uma equipe pioneira em análise liderada por Roland Beech foi fundamental para Dallas conquistar o troféu – Peja Stojakovic não esteve em quadra por menos tempo que a lenda Brian Cardinal por acaso. Foram movimentos que mostraram não apenas coragem, mas que a franquia acreditava em dados e análise muito antes desses elementos se tornarem moda na NBA.


O futuro

Quando Luka Doncic ainda jogava pelo Real Madrid a NBA recebia toneladas de highlights do jovem esloveno – mas, claro, também haviam toneladas de ceticismo sobre sua capacidade de transpor aquilo à maior liga de basquete do mundo.

Agora, paradoxalmente, ele impressiona mais do que quando ainda estava envolto sob o fascínio do desconhecido. Mesmo em uma partida onde não havia nada em jogo, as ações na arquibancada se resumem a aplausos para qualquer movimento de Dirk (gratidão, afinal) e frases “como diabos Luka fez isso?”.

“Ele parece jogar um jogo completamente diferente”, conversa um grupo de torcedores uma fileira acima. “A droga da bola parece estar colada nas mãos dele”.

Há um burburinho dentro do American Airlines Center que não existia há anos: Doncic é provavelmente o que de melhor aconteceu em Dallas desde que a equipe campeã de 2010-11 se desmembrou – vale lembrar que, desde então, o Mavericks nunca venceu uma série de Playoffs, e deve terminar 2019 com uma média de 30 vitórias nas últimas três temporadas.

“Ele é nosso novo Dirk”, brinca meu colega ao lado, e a própria franquia não esconde empolgação, já que espalha cartazes da nova estrela por toda a cidade.

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E mesmo que Cuban sempre tenha afirmado que entraria em rebuild quando Dirk se aposentasse, é fato que o Mavericks passou as últimas temporadas fazendo o possível para evitar uma longa reconstrução.

“Doncic é nossa maior aposta. Vai dar tudo certo, mesmo que estejamos apostando em um homem velho preso em um corpo de um rapaz de 20 anos”, diz o mesmo torcedor. “Como não confiar em alguém que é profissional desde os 10 anos de idade? Aos 10 anos eu estava brincando na rua”, completa, antes de se despedir.

A boa notícia para o Mavericks é que, garante o torcedor, Dirk entregou as chaves e um mapa para a nova estrela de Dallas.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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