🔒Duas décadas de enganos

Em 1985, o New York Knicks conseguiu com a primeira escolha do draft o pivô Patrick Ewing. Com ele no elenco o time levou ainda mais dois anos para conseguir chegar aos Playoffs, mas a partir de então não saiu mais da pós-temporada. Sob comando do pivô, o time foi aos Playoffs 13 vezes consecutivas, incluindo 4 Finais da Conferência Leste e duas Finais da NBA, em 1994 e 1999. Em 2000, após o Knicks ser derrotado nas Finais de Conferência, Patrick Ewing foi trocado para o Seattle Supersonics. Ewing já se aproximava do final de sua carreira e apenas dois anos depois se aposentaria, incomodado por constantes lesões nos joelhos. Sem ele o Knicks precisava de um plano de reconstrução para voltar ao topo. Dezenove anos depois, nem sinal de reconstrução bem sucedida. O Knicks voltou à pós-temporada apenas 5 vezes desde então: uma na temporada seguinte à saída de Ewing, uma outra que acabou numa varrida na primeira rodada com Stephen Marbury na armação e três sob comando de Carmelo Anthony. Se faltaram campanhas de sucesso, sobraram trocas absurdas, contratações indefensáveis e escândalos de todos os tipos. Quem vê Kristaps Porzingis ser trocado para o Mavs e quer entender de verdade o que está acontecendo precisa encaixar essa decisão numa história de quase 20 anos de fracassos e confusão.

Na segunda temporada do time sem Patrick Ewing, 2001-02, o então técnico do Knicks, Jeff Van Gundy, se desligou da franquia após 19 jogos. Sua alegação, “problemas de foco” após ter levado o time a uma Final da NBA alguns anos antes, parece ter tentado encobrir as crescentes desavenças entre ele e James Dolan, o recente dono do Knicks, a respeito do futuro do time. Após um ano sabático, Van Gundy voltaria a um cargo de técnico no Houston Rockets, enquanto o Knicks teria outros DEZ TÉCNICOS a partir de então. Sem Van Gundy o time deixou de ir aos Playoffs pela primeira vez em 14 anos.

Para tentar se recuperar desse baque, em 2002 o time resolveu abrir mão de sua escolha de draft (nosso Nenê, que ajudou a levar o Nuggets aos Playoffs nos primeiros anos de carreira e está aí firme e forte jogando até hoje) e de Marcus Camby (que nos anos seguintes seria eleito Melhor Defensor do Ano), parte fundamental do time nas temporadas anteriores, numa troca por Antonio McDyess. A aposta era de que McDyess, apesar de estar lutando contra uma séria lesão nos joelhos, devolveria a New York uma “estrela de verdade” para tapar o buraco deixado por Ewing. Na prática, McDyess jogou MENOS DE DOIS MINUTOS de um jogo de pré-temporada e estourou novamente seu joelho, perdendo todo o resto da temporada.

Quando voltou na temporada seguinte, jogou apenas 18 partidas e já foi novamente trocado, dessa vez por Stephen Marbury, então armador do Phoenix Suns. A troca marcou a primeira atuação de Isiah Thomas como General Manager do Knicks, cargo que ele assumiu em 2003 e que se tornou uma das piores passagens de um executivo por uma equipe da NBA em toda a história. A troca por Marbury não apenas mandou McDyess embora como também limou o time de qualquer profundidade, enviando vários jogadores de apoio, e também de uma escolha de primeira rodada – que no futuro se tornou Gordon Hayward. Querendo mostrar serviço e construir uma equipe forte “imediatamente”, Isiah fez ainda outras trocas, demitiu o então técnico Don Chaney, e depois mandou Dikembe Mutombo embora para poder apostar em “pivôs melhores”. Eddy Curry, aposta que estava tendo dificuldades para engrenar no Chicago Bulls e que havia sido diagnosticado com um problema cardíaco que poderia impedi-lo de jogar basquete, foi o escolhido. O pivô criou uma crise com o Bulls por se negar a fazer um teste genético que mostraria os reais riscos dele ter uma questão cardíaca séria no futuro, então Isiah achou que seria uma boa ideia oferecer uma troca por ele envolvendo vários jogadores do Knicks, duas escolhas de segunda rodada no draft, uma escolha de primeira rodada que se tornaria LaMarcus Aldridge e a possibilidade de inverter a ordem da escolha entre Bulls e Knicks em 2007, o que permitiu que o Bulls ficasse com Joaquim Noah.

Além de Curry, Isiah Thomas ofereceu um contrato de 30 milhões de dólares (uma fortuna ainda maior na época) para Jerome James, pivô que vinha de meia dúzia de bons jogos pelo Sonics. O jogador chegou ao Knicks completamente fora de forma, se tornou reserva de Eddy Curry e jogou 9 minutos por partida, com 3 pontos e 2 rebotes de média. Além de contratar Jerome, Isiah também tentou trazer para o time uma “estrela”, Steve Francis. O armador havia sido uma sensação no Houston Rockets, mas acabara de ser trocado para o Orlando Magic e estava em evidente declínio físico e técnico. Mal possou dos 10 pontos por jogo em New York, embora ganhasse um salário milionário e o time tenha aberto mão de Trevor Ariza, draftado em 2004, por ele. O time também recebeu Jalen Rose, uma ex-estrela que o Raptors desesperadamente tentava se livrar por ter um contrato gigante e um jogo apagado pela idade. Não à toa o Knicks foi o último colocado da Conferência Leste na temporada 2005-06 mesmo ultrapassando o teto salarial em 75 milhões de dólares, fora as multas. E não demorou para Francis ser trocado por Zach Randolph, com um salário ainda maior e mais longo, e que também chegou ao time completamente fora de forma.

Nem Marbury (que tinha brigas públicas frequentes com seu então técnico Larry Brown) nem Eddy Curry (que teve 13 pontos e 6 rebotes de média em sua primeira temporada pelo Knicks) estavam dando certo em New York nesse ponto e os gastos altíssimos não se justificavam, então Isiah Thomas resolveu demitir Larry Brown e SE CONTRATAR como técnico do time para ver se colocava ordem na casa. O time até melhorou um pouco, mas Isiah e Marbury começaram a ter brigas frequentes e, dizem, tentaram se socar numa viagem de avião quando o técnico disse que o armador passaria a ser reserva do time. Para piorar, nessa mesma época Isiah foi processado num escândalo de abuso sexual por uma funcionária do Knicks, foi considerado culpado e teve que pagar 11 milhões de dólares. No meio dessa bagunça o time continuou incapaz de chegar aos Playoffs e a torcida pedia a cabeça de Isiah (e de Marbury) diariamente no ginásio.

Em 2008 a situação ficou insustentável e Isiah foi finalmente demitido. O saldo final de sua passagem por lá foi uma folha salarial abarrotada de contratos péssimos, Marbury brigando com técnicos, Eddy Curry, Zach Randolph e Jerome James totalmente fora de forma e incapazes de jogar basquete em alto nível e escolhas de draft enviadas para outros times capazes de formar um elenco com Nenê, Gordon Hayward, Joaquim Noah e LaMarcus Aldridge (e mais Trevir Ariza, que foi mandado ainda pirralho).

Para tentar arrumar a situação, Donnie Walsh assumiu o cargo de General Manager da equipe com a promessa de que iniciaria uma “nova era de reconstrução”. Sua primeira ação foi contratar o técnico Mike D’Antoni, que teve no Phoenix Suns muitos anos de sucesso. O problema é que Eddy Curry e Zach Randolph eram incapazes de jogar no esquema tático acelerado de D’Antoni e Marbury não suportava o técnico por nada no mundo. Ao ser colocado no banco, Marbury chegou a fugir da equipe sem dar notícias, fazer ameaças a membros da comissão técnica e eventualmente foi PROIBIDO de se aproximar do ginásio do Knicks enquanto o time tentava se livrar do seu contrato. Ele estava tão pirado na época que chegou a fazer transmissões pela internet COMENDO VASELINA, algo que supostamente sua avó havia lhe ensinado para cuidar da saúde. Quando finalmente resolveram pagar o resto do seu salário só pra ele ir embora e deixar todo mundo em paz, Marbury ainda jogou algumas partidas pelo Celtics antes de se mudar em definitivo para a China, onde jogou basquete até se aposentar no ano passado como uma estrela por lá.

O plano de Walsh como novo General Manager era de pensar no futuro, não tentar vencer no desespero. Trocou Jerome James e Zach Randolph (quando Randolph finalmente estava jogando bem!) por pacotes de bolacha só para abrir espaço salarial para a free agency de 2010, quando poderiam tentar contratar LeBron James, e trocou Jamal Crawford, já um jogador estabelecido, pelo pirralho Al Harrington. Em 2009 a ideia era inclusive draftar Stephen Curry com a oitava escolha, mesmo que ele fosse considerado ainda “muito cru”, mas como Curry foi pego uma escolha antes, acabaram tendo que se contentar com Jordan Hill (ao invés de DeMar DeRozan, que também estava disponível). A pressão por contratar LeBron começou a aumentar por parte do dono James Dolan (que ameaçou trazer Isiah Thomas DE VOLTA como consultor, porque pelo menos ele era “mais agressivo”), então o time abriu mão de uma escolha de primeira rodada, mais Jordan Hill e Jared Jeffries (que D’Antoni estava transformando num pivô ultra-versátil, muito à frente do seu tempo) para receber o contrato expirante de um combalido e melancólico Tracy McGrady, já em franca decadência graças a problemas nos joelhos, tudo pra ter certeza de que teriam espaço em 2010. Aliás, parece fetiche: o Knicks virou o CEMITÉRIO DE JOELHOS, o lugar em que todos os joelhos do mundo iam para poder morrer em paz.

Quando 2010 chegou, o Knicks contratou sua primeira grande estrela em uma década: Amar’e Stoudemire, vindo de campanhas impressionantes com o Phoenix Suns. Havia preocupação com seus joelhos, dúvidas sobre como seria seu jogo ultra-agressivo quando seu físico desse uma deteriorada e receios sobre seu funcionamento em outros esquemas táticos, mas a ideia de ter um ídolo era grande demais para recusar. Só faltava, claro, trazer também LeBron James para ficar ao seu lado. Dizem que a tentativa de convencer LeBron teve de tudo: reunião com o técnico Mike D’Antoni mostrando como seu esquema tático levaria o jogador a um outro nível, outdoor com o LeBron na frente do Madson Square Garden, o ex-jogador Allan Houston dizendo que o time tratou ele bem quando descobriram que seus joelhos não lhe permitiriam mais jogar basquete, depoimentos de ex-jogadores sobre como jogar no ginásio do Knicks é o que existe de mais espetacular no esporte, e a promessa de, via contratos publicitários em New York, tornar LeBron o “primeiro atleta bilionário do mundo”. Tudo lindo e maravilhoso, com a exceção de que LeBron preferiu abrir mão disso tudo e ir jogar com Dwyane Wade, um sonho de longa data. Acabou escapando de uma furada: até o depoimento do Allan Houston era mais prova de INCOMPETÊNCIA do Knicks do que de boas maneiras. O jogador tinha um contrato de mais de 100 milhões de dólares quando descobriram que seus joelhos haviam virado farofa, de modo que o jogador era impossível de trocar e o espaço salarial que ele ocupava era gigante. A NBA criou então uma regra que permitia às equipes se livrar de um jogador do seu elenco e desocupar o espaço na folha de pagamento, e o Knicks usou essa regra, claro, mas com OUTRO JOGADOR, uma outra contratação merda, o pivô Jerome Williams. Tudo com a expectativa de que Allan Houston eventualmente voltasse ao time, o que – claro – nunca ocorreu.

Sem LeBron, Mike D’Antoni resolveu construir com o que tinha em mãos, evoluindo jogadores como Danilo Galinari e até Jared Jeffries, que voltou ao time depois de ser dispensado pelo Rockets. Mas Dolan queria reforços e o time trocou um surpreendente David Lee (que seria muito importante para a volta por cima do Warriors nos anos seguintes) por Ronny Turiaf, o pivô que só era famoso de verdade por suas dancinhas no banco de reservas, e várias outras apostas que não deram certo. Quando Carmelo Anthony disse que assinaria com o Knicks no ano seguinte, Dolan simplesmente não conseguiu esperar: resolveu desmontar o time que D’Antoni havia transformado em um grupo coeso e divertido de se assistir NA UNHA em nome de uma aquisição imediata de Carmelo. Dentre as trocentas peças que o Knicks teve que abrir mão para obter Carmelo um ano antes, destacam-se Danilo Gallinari, Wilson Chandler, Raymond Felton, Timofey Mozgov e escolhas de draft que viraram no futuro Dario Saric e Jamal Murray. Ou seja, o time perdeu quatro titulares e mais duas escolhas importantes só porque FICOU COM PRESSA.

Para compor o elenco, que ficou completamente pelado pela troca, o Knicks recebeu do Nuggets o armador Chauncey Billups e contratou o pivô Tyson Chandler. Isso levou a uma sequência de três idas seguidas aos Playoffs, mas não sem sua dose de loucuras e deslizes: Amar’e estourou os joelhos (será que estamos vendo UM PADRÃO AQUI?), Tyson Chandler também teve sérias questões nas costas, e com a chance de usar uma regra de anistia para se livrar de um dos dois para abrir espaço salarial e poder colocar outra estrela ao lado de Carmelo, o Knicks optou por anistiar Billups, que estava tendo uma temporada bem digna apesar da idade e não ganhava um salário tão alto assim. Carmelo também não se salva: brigou com D’Antoni, não gostou do papel tático que recebeu no time e, dizem, ficou incomodado demais quando Jeremy Lin despontou como um ídolo do time de uma hora para a outra, o que por sua vez levou o Knicks a não segurar Lin, que acabou indo parar no meu Houston Rockets. Com a diretoria trazendo o tempo todo veteranos em fim de carreira, como Mike Bibby e Baron Davis e nenhum tipo de planejamento para o futuro, Mike D’Antoni acabou torrando o saco e deixou o time no meio da temporada em 2012. Mike Woodson assumiu e poderia ter ido mais longe nos Playoffs se Amar’e não tivesse SOCADO UM EXTINTOR depois de uma derrota na primeira rodada e desfalcado a equipe durante todo o resto da série. Na temporada seguinte, 2012-13, tivemos o melhor Knicks desde Patrick Ewing, com Carmelo Anthony jogando um absurdo e o time sendo eliminado nas Semi-Finais da Conferência Leste para o Pacers, um time contra o qual eles tinham enorme dificuldade de encaixe. Nas Finais do Leste teriam pego o Heat de LeBron, que curiosamente havia perdido três das quatro partidas naquela temporada contra o Knicks de Carmelo. O que o time precisava, então, para vencer aquele Pacers na temporada seguinte e poder sonhar com uma zebra em cima do Heat?

A resposta, claro, foi TOTALMENTE ESTÚPIDA: mandaram Marcus Camby, uma escolha de primeira rodada e duas escolhas de segunda rodada para o Raptors em troca de Andrea Bargnani, um pivô arremessador de três pontos incapaz de defender, pegar rebotes e correr pela quadra, notória piada já na época. Bargnani tinha duas temporadas nas costas, sofria com lesões e acertava apenas 30% dos seus arremessos de longe, uma vergonha. A escolha que o Knicks mandou virou Jakob Poeltl, que o Raptors enviou junto com DeRozan para o Spurs para conseguir Kawhi Leonard – curiosamente, tanto Poeltl quanto DeRozan poderiam ter sido do Knicks. Em sua passagem por New York, Andrea Bargnani ficou famoso por essa jogada abaixo, o melhor resumo possível de sua carreira:

Com ele no elenco e Amar’e e Tyson Chandler com questões físicas sérias, o time sequer chegou aos Playoffs, resultando na demissão de Mike Woodson e o começo de mais uma nova era no Knicks. Phil Jackson assumiu o cargo de Presidente de Operações na equipe e resolveu impor o “sistema dos triângulos”, o esquema tático que ele tanto popularizou quando foi múltiplas vezes campeão como técnico tanto do Chicago Bulls quanto do Los Angeles Lakers. Precisando de alguém que conhecesse o sistema para comandar o time, Phil Jackson trouxe Derek Fisher, ex-jogador recém-aposentado, sem nenhuma experiência como técnico mas uma vida inteira ao lado de Phil. A promessa era de que Fisher teria tempo para aprender, se estabelecer na franquia, e que o time iria entrar num longo processo de reconstrução. Ainda assim, Phil Jackson tentou convencer Carmelo Anthony de que ele seria “seu Kobe Bryant“, e que se ele tivesse um pouco de paciência e reassinasse com a franquia, seria premiado com um campeonato até o fim de seu contrato. Carmelo caiu como um patinho – uma decisão que condenou em definitivo sua carreira.

Depois de uma série de escândalos amorosos envolvendo Derick Fisher nos tabloides, recusa dos jogadores a usar o “sistema dos triângulos” e total falta de experiência do ex-jogador para lidar com seus atletas, Phil Jackson demitiu o treinador em 2016 sem prévio aviso. A partir de então Jackson ficou ainda mais controlador e obcecado em fazer o time dar certo PARA ONTEM, com uma série de contratações e trocas bizarras. Trocou Tyson Chandler, que parecia não conseguir mais jogar basquete, apenas para vê-lo retomar sua carreira no Mavs como se nunca tivesse se lesionado; trocou JR Smith e Iman Shumpert por coisa nenhuma apenas para vê-los serem campeões no Cavs; contratou Derrick Rose apesar da saúde comprometida do armador, viu o jogador ter tantos conflitos no time que chegou a DESAPARECER no meio da temporada para ser encontrado sofrendo de depressão escondido na casa de sua avó, e agora lá está Rose tendo uma temporada incrível de sucesso no Wolves; assinou Joaquim Noah (aquele que o Knicks poderia ter escolhido no draft se não tivesse trocado por Eddy Curry) por mais de 70 milhões quando já era notório que seu físico era incapaz de jogar basquete, o que levou inevitavelmente a uma cirurgia que o deixou fora por todo seu contrato; escolheu Kurt Rambis, ex-jogador do Lakers, para ser técnico e ensinar os “triângulos” para a molecada, que não queria jogar sob esse modelo. É claro que essa reconstrução, que não passava por conseguir jogadores novos e nem usar um esquema tático que usasse aquilo que os jogadores tinham de melhor, foi um fracasso. Carmelo Anthony começou a ser atacado publicamente por Phil Jackson por “boicotar o esquema tático” e ser “individualista”, mesmo com diversos jogadores clamando por uma mudança tática nos vestiários.

O plano de dar a Carmelo um título em New York não teve pé nem cabeça: na primeira dificuldade que teve, Phil Jackson queimou seus técnicos e seus próprios jogadores, apontando dedos para todos os lados. Em 2014-15, o Knicks teve a pior campanha da sua história, com apenas 17 vitórias, incluindo uma sequência de 13 derrotas consecutivas inédita na franquia. Como prêmio de consolação, draftaram Kristaps Porzingis e, para comemorar, resolveram pagar o contrato completo de Amar’e Stoudemire só para ele ir embora e dar um ar de “novo começo”. Em 2017 foi a vez de trocarem Carmelo Anthony, o fim de uma briga interna, o fim de uma longa mentira, e também o fim simbólico da carreira de Carmelo. Na troca, receberam Enes Kanter – o jogador que agora, dois anos depois, o Knicks terá que pagar mais de 15 milhões só para ele ir embora e liberar espaço salarial. Criticado por ter tentado pagar para Carmelo ir embora ao invés de trocá-lo e por ter um relacionamento “difícil” com Porzingis, que chegou a fugir de uma reunião de encerramento de temporada com o Knicks por achar tudo “uma bagunça”, Phil Jackson também foi desligado do time em 2017. Foi o fim do segundo CICLO DE HORROR do Knicks em 19 anos, com os três anos de Playoffs sob tutela de Mike D’Antoni como o único respiro desse período – nem foi um respiro muito grande, mais para um suspirinho mesmo.

Agora, depois de sofrer com as lesões de Porzingis e a incapacidade de Phil Jackson de comunicar à sua jovem estrela quais os planos futuros da franquia ao redor dele (dizem as más línguas que no fundo Phil Jackson nunca achou que Porzingis era jogador o bastante para ancorar a franquia), eis que o Knicks troca seu maior acerto no draft desde Patrick Ewing para o Dallas Mavericks. Em troca, apenas jogadores que servirão para abrir espaço salarial para a temporada que vem, quando grandes estrelas estarão disponíveis. Assim como fizeram com LeBron James em 2010, será a vez de tentar convencer Kevin Durant a jogar por lá em 2020, além de contratar outra estrela para lhe fazer companhia com um segundo contrato máximo. Porzingis foi trocado com a alcunha de “jogador problema” que foi “reclamar e intimidar a diretoria”, mas o jovem letão deixou claro em suas redes sociais que os torcedores do time devem ficar “atentos” e “acordados” para conhecer a verdade. Não nego que talvez o único responsável pela troca tenha sido mesmo Porzinigs, com uma insatisfação adolescente e uma pressa sem cabimento por lutar por títulos, mas tendo em vista esse longuíssimo histórico de cagadas nas últimas duas décadas, é bem provável que o Knicks apenas não tenha conseguido lidar com seu jogador, tenha enfrentado problemas de comunicação e, claro, de PLANEJAMENTO e ORGANIZAÇÃO. Desde Isiah Thomas, as finanças do time nunca voltaram à normalidade; quando Walsh tentou, houve pressão para “conseguir mais reforços”. Quando Mike D’Antoni finalmente montou um time jovem, interessante, moderno e BARATO, foi todo mundo trocado por Carmelo Anthony e o resto do espaço salarial foi entregue nas mãos dos joelhos agonizantes de Amar’e Stoudemire.

O padrão aqui é óbvio: James Dolan, dono do time, cobra por reforços, tem pressa, interfere nas decisões da diretoria e dos técnicos, tem uma preferência bizarra por jogadores velhos em decadência física (os mais otimistas diriam que ele gosta de “jogadores veteranos” ou “consagrados”) e é tão insanamente afoito por qualquer grande nome que ignora completamente os alertas médicos ou o histórico de lesões dos atletas. Os 20 anos relatados acima incluem um número obsceno de contratos ruins dados por pura pressa, gente lesionada nos primeiros jogos com a equipe e decisões ruins que forçam o time a ter que se livrar de contratos pesados – o que por sua vez significa pagar AINDA MAIS DINHEIRO, perder espaço salarial ou abrir mão de escolhas de draft e jogadores jovens.

Se desde 2000 o Knicks não tivesse FEITO NADA, ou seja, nenhuma contratação, nenhum veterano bichado chegando como apoio, nenhuma estrela em decadência para estampar os jornais, nenhuma troca maluca por jogadores estabelecidos, o time teria mantido todas as suas escolhas de draft – e teria conseguido escolhas ainda melhores por ter perdido mais. Aldridge, Noah, Ariza, Jamal Murray, Saric teriam sido desenvolvidos por D’Antoni e eventualmente recebido o reforço de Carmelo Anthony, que queria ir para lá só porque tinha tesão pelo Knicks, o que volta e meia acontece. O que temos aqui é um desses casos de que não fazer COISA NENHUMA é bem melhor do que se mexer o tempo todo como se não houvesse amanhã.

A troca de Porzingis é, para muitos torcedores, o começo de mais uma nova era, com sonhos de Kevin Durant (e talvez Kawhi Leonard, ou Kyrie Irving) vestindo o uniforme do Knicks e jogando no ginásio mais famoso do planeta. Mas quando encaixamos essa era numa história de longa duração, inaugurada com a troca de Patrick Ewing, só nos resta temer pelo futuro da franquia. E se Durant não vier? E se só lhes restar contratar uma estrela em decadência, com sérias questões médicas? Será o Knicks um time tão CARENTE que aceitará qualquer coisa para não deixar a free agency de mãos abanando, especialmente agora que precisam justificar ter trocado Porzingis? Se tanto se repete a necessidade de conhecer o passado para não repetir seus erros, no caso do Knicks isso é ainda mais evidente: conhecer o passado nos permite saber que, sem uma mudança radical de planejamento (e, possivelmente, de DONO), veremos o Knicks cometer eternamente os mesmos enganos. Mesmo que o time consiga contratar as estrelas que sonha, será capaz de mantê-las? Segurará um técnico com elas por tempo o bastante para construir um trabalho sólido e competitivo?

Nesse texto, optei por destacar algumas das trocas, contratações e causos extra-quadra que considero mais importantes para pensarmos o PADRÃO que persegue o Knicks nesse tempo. No entanto, existem dúzias de outras situações tão ruins ou piores, jogadores cujos nomes não significam mais nada, ou escolhas de draft que por sorte não viraram ninguém especial nas mãos dos adversários. Sobram também histórias de bastidores, com birras de Dolan com ex-jogadores do Knicks se tornando casos de polícia, processos rolando na justiça e relatos de jornalistas sobre acontecimentos inacreditáveis nos vestiários. O recorte que fiz serve inclusive para mostrar como o caos de uma franquia é contagioso, se espalha de uma área para a outra, interferindo na vida pessoal e profissional de cada funcionário e atleta, e de alguma maneira influenciando nas decisões de contratação, troca ou draft – no desespero de sair do caos, parece que todas as nossas decisões são mais desesperadas, mais afoitas, mais inconsequentes e, portanto, ainda mais caóticas.

O Knicks terá, ao fim dessa temporada, uma chance de novo começo. Terá escolhas de draft, espaço na folha salarial e os melhores marketeiros do mundo para tentar convencer jogadores a embarcar nesse projeto. Só nos resta esperar para descobrir se esse novo começo acontecerá não pela chegada dos novos jogadores, mas pela chegada de uma nova POSTURA, de uma nova maneira de pensar o time, seu futuro e seus deslizes. Sem isso, nem Kevin Durant poderá salvar o Knicks de si mesmo.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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