Guia de Viagem – Parte 2: New Orleans

Em março deste ano o Bola Presa fez sua primeira viagem para assistir a jogos da NBA nos Estados Unidos, com nossas impressões registradas em tempo real no Instagram e em podcasts especiais gravados ao longo da viagem de 15 dias. Agora estamos detalhando melhor a experiência, na esperança de ajudar nossos leitores e ouvintes com algumas histórias e dicas que possam facilitar a realização de viagens semelhantes.

Antes de prosseguir, não deixe de ler nosso “Guia de Viagem – Parte 1“, em que relatamos a preparação necessária e o planejamento da viagem. Aproveite também para ouvir nossos podcasts de viagem, gravados diretamente dos Estados Unidos em nosso gravador portátil:

Podcast de Viagem #1 – New Orleans

Podcast de Viagem #2 – Houston

Podcast de Viagem #3 – San Antonio

Podcast de Viagem #4 – New Orleans

Nessa segunda parte de nosso Guia, nos focaremos em nossa passagem pela cidade de New Orleans, lar do Pelicans de Anthony Davis!


Transporte

Como relatamos na primeira parte deste guia, os preços das passagens nos levaram a iniciar (e terminar) nossa viagem em New Orleans. No entanto, nossa estadia não foi exatamente lá, mas em Slidell, uma pequena cidade vizinha – tudo porque, graças ao “Summer Break” e outros fatores inesperados, não encontramos quartos disponíveis. Nosso plano foi então alugar um motel de beira de estrada em Slidell antes da viagem e pegar um ônibus diariamente para o curto trajeto até New Orleans.

Assim que chegamos ao motel, encontramos turistas europeus que tiveram exatamente a mesma ideia que a gente – e que, como nós, descobriram rapidamente que NÃO HAVIA ÔNIBUS para New Orleans, nem para lugar algum. Em nosso primeiro contato com a cidade descobrimos que ela não possuía transporte público de nenhuma espécie e que o único modo de se locomover era de automóvel – para ser mais exato, a cidade sequer possuía CALÇADAS ou FAIXAS DE PEDESTRE. Não há pedestres por lá, absolutamente TUDO é feito de carro. Para chegar num mercado e pegar alguma comida, tivemos que literalmente pular de estacionamento em estacionamento, sem bater os olhos num único ser humano que não estivesse motorizado no trajeto.

Nesse caso, nossas idas diárias a New Orleans passaram a depender exclusivamente do Uber, um gasto imprevisto mas necessário (e que aparecerá, você verá, também em nossa passagem pelas próximas cidades). Como a hospedagem em motéis é muito boa e muito barata (em Airbnb, mais ainda), o gasto com transporte acaba entrando como uma espécie de “taxa” com a qual você já deve contar desde o início da viagem. É parte do preço de visitar cidades que são menos turísticas, com menos estrutura, e um componente importante dos Estados Unidos e seu fetiche por automóveis. Há a possibilidade, claro, de alugar um carro por lá; fizemos as contas e, graças aos seguros necessários, com uso moderado vimos que compensava chamar um Uber sempre que necessário.

Para efeitos de comparação, uma viagem de Uber por lá tem valor muito próximo com o valor que teria aqui uma viagem de igual distância, só que EM DÓLARES – ou seja, sai cerca de 3 a 4 vezes mais caro do que vemos no Brasil. Ainda assim vale a pena, especialmente se você está dividindo o valor com outra pessoa, mas na hora de escolher os motéis ou os quartos no Airbnb é preciso considerar que a distância dos pontos de interesse terá um custo considerável no seu orçamento por conta da locomoção. Outra coisa: é preciso tomar cuidado com os anúncios do Airbnb que se dizem a “10 minutos do centro da cidade” porque eles ASSUMEM que você estará dirigindo; caímos nessa pegadinha em todas as cidades que visitamos. Ao contrário do que acontece no Brasil, todo o tempo que lhe indicarem é sempre pensado para um automóvel.

Em New Orleans até existe transporte público, embora limitado – alguns ônibus circulares, alguns bondes tradicionais que atravessam as grandes avenidas – mas a cidade é plana e compacta o suficiente para quase tudo ser feito a pé ou de bicicleta (que podem ser facilmente alugadas em diversos pontos da cidade). Da nossa parte, optamos por andar o tempo inteiro, usando o Uber apenas para sair do motel de manhã e voltar para ele de noite nos horários em que o trajeto ficava mais barato. Embora as pernas sofram o baque, foi assim que conhecemos melhor os bairros, a arquitetura, os músicos de rua, os parques, o ginásio do Pelicans e, claro, o incrível rio Mississippi.

Há gente pelas ruas o tempo inteiro, em todos os horários, e andar a pé pelos bairros principais parece ser a opção de todos os turistas e de boa parte da população local. Lugares como a Bourbon Street, praticamente uma balada a céu aberto abarrotada de turistas e bebida, chegam a fechar para os carros à noite para facilitar o deslocamento das pessoas (por lá, o que vale a pena mesmo é o Preservation Hall, que toca jazz tradicional da cidade). A Frenchman Street, onde estão os melhores clubes de jazz, fica tão entulhada de carros que a melhor coisa é ir a pé mesmo. Outros lugares só viáveis a pé incluem o French Market, um mercado de pulgas próximo ao Mississippi, e a Magazine Street, o centro “hipster” de New Orleans. Mas acredite: grande parte da graça está em andar de um desses pontos para o outro, porque a arquitetura da cidade é incrível!


Ginásio e lojas do Pelicans

O ginásio do Pelicans, chamado de “Smoothie King Arena”, fica na frente do “Superdome”, o magnânimo estádio do New Orleans Saints, o time de futebol americano local. (E sim, dá pra chegar nos dois a pé, tranquilamente, saindo do centro da cidade ou do Parque Louis Armstrong, um ponto turístico central, como fizemos tantas vezes.) Essa proximidade do ginásio e do estádio apenas torna explícita a relação de “irmão menor” que o time da NBA tem com a equipe da NFL, é um raro caso em que um enorme ginásio de basquete pode parecer “apequenado” diante de algo colossalmente maior. Há, inclusive, uma passarela que liga o estádio ao ginásio com uma estátua para celebrar o título do Saints em 2010, ocorrido pouco tempo depois do desastre do furacão Katrina, lembrando da admiração e da gratidão que os habitantes possuem pela equipe por seu papel na reconstrução física e psicológica da cidade.

Isso explica um pouco o motivo de, apesar do ginásio do Pelicans ser incrível e do time estar em ascensão, as arquibancadas estarem frequentemente vazias. Dos ginásios que visitamos, o do Pelicans é certamente o mais bonito, organizado e equipado: funcionários simpáticos e uniformizados por todos os cantos, escadas rolantes às dúzias, memórias da história da franquia e do basquete na cidade em exposição, um telão incrível e muitas lojas espalhadas pelos múltiplos andares. A loja principal, aliás, foi a melhor da viagem: a variedade de produtos é incrível, de bonequinhos do Anthony Davis a toda uma linha de uniformes históricos e roupas não-esportivas. Não restam dúvidas de que tudo é CARO, mas pode ter certeza de que os outros times – especialmente aqueles que dependem de turismo, como é o caso de equipes como o Miami Heat, o New York Knicks ou o Orlando Magic – cobram muito, muito mais pela sua mercadoria. Mesmo produtos padronizados da NBA, como pacotes de cards, custavam muito menos na loja do Pelicans no que nas demais lojas que visitamos.

A loja principal abre algumas horas antes dos jogos, fecha pouco antes de liberarem os portões, e só volta a abrir depois que o jogo já começou – tudo porque a loja dá acesso indireto ao ginásio e, “por segurança”, preferem fechá-la para permitir apenas entradas controladas para o jogo. Por isso aconselhamos chegar um bom tempo antes do jogo começar, fuçar tudo que estiver disponível na lojinha, escolher com calma aproveitando que ela estará vazia, e não correr o risco de perder um pedaço do jogo enfrentando as filas que surgem nos intervalos.


New Orleans Pelicans e Washington Wizards

Nossa primeira partida já nos deu uma primeira lição importante, que seria muitas vezes reforçada ao longo da viagem: é impossível prever as lesões que acontecerão quando se compra um ingresso com antecedência, então o melhor é diminuir as expectativas. Assistimos a um jogo sem os lesionados John Wall e DeMarcus Cousins, como já esperávamos, mas também vimos um Pelicans excepcionalmente sem sua estrela Anthony Davis, que perdeu apenas uma partida no tempo que ficamos nos Estados Unidos, justamente aquela em que estávamos na arquibancada.

Percebi rapidamente que para acompanhar o basquete da maneira com que estamos acostumados, analisando a parte tática, por exemplo, basta a televisão; estar no ginásio, como para a gente é um evento raro, acaba tendo outros fins: é sobre a EXPERIÊNCIA mais do que sobre os jogadores que estão em quadra. Primeiramente ficamos chocados com como é possível notar muito melhor a força e o tamanho dos atletas, dando a eles um caráter “sobrehumano”; depois, passamos a perceber as vantagens e desvantagens de se assistir a um jogo por outros ângulos que não os pré-estabelecidos pela televisão. Como pegamos lugares atrás da cesta, há certa dificuldade em perceber a trajetória de alguns arremessos, que é compensada pela possibilidade de ver como os times se espaçam na quadra nos contra-ataques, utilizando o lado oposto da bola e a zona-morta. Além disso, há todo o ambiente do ginásio, as apresentações durante os tempos técnicos, a distribuição de brindes e a reação da torcida local.

Toda a interação do Pelicans com a sua torcida é de gosto questionável, com gritos de guerra sem graça e nenhuma brincadeira de “efeito”, e a própria torcida também é morna, com senhorinhas papeando sobre o fim de semana e adolescentes mexendo no celular. Mas isso ajudou a perceber quão BANAL é para eles essa experiência: é algo que as velhinhas fazem toda semana para encontrar as amigas e contar as novidades, que os pais fazem quando querem tirar as crianças de casa, que meia dúzia de engravatados fazem quando querem esfriar a cabeça depois de um dia de trabalho. Ainda não há uma relação muito emocional com o time, trata-se apenas de um entretenimento disponível.

Muitos torcedores, especialmente no setor em que ficamos, são portadores de “season tickets”, ingressos que valem durante toda a temporada, então aparecem quando querem e vendem esses ingressos para turistas nos dias em que não desejam ir ao ginásio por preços em conta, como provavelmente foi o caso dos ingressos que compramos pela internet. A ausência de Anthony Davis, portanto, não causou muita comoção na torcida, acostumada a vê-lo toda semana. Para nós foi um misto de decepção, por um lado, e de encanto com todas as outras coisas, por outro. Como foi nosso primeiro jogo da NBA, tudo acabou sendo alvo de interesse e encanto, da gente balançando os balões infláveis para atrapalhar nos lances livres adversários à chance de descer e conhecer a quadra após o final do jogo.

Acho importante manter em mente, então, que o que torna a experiência fantástica para a gente do Brasil é que ela é algo raro, e que isso independe um pouco dos times que estão presentes. É claro que é mais legal ver bons jogos e acompanhar seus jogadores favoritos, e é óbvio que a raridade de situação torna ainda mais brutal a ausência de uma estrela machucada, mas há algo de enorme valor a ser experimentado mesmo num jogo ruim, com times do fundo da tabela. Olhar para o lado e ver como os torcedores locais lidam diferente com a NBA quando comparados a você, que atravessou o continente para estar ali, já é uma experiência de estranhamento que colocará sua relação com o esporte em outra perspectiva. Ou seja: busque grandes jogos e os seus jogadores preferidos, mas não se aflija muito se eles acabarem não entrando em quadra ou se o que couber no seu orçamento for um jogo pior, entre times menores. É legal estar lá de qualquer jeito.


New Orleans Pelicans e Indiana Pacers

Viaje comigo no tempo momentaneamente até o FINAL de nossa viagem, duas semanas depois: após visitar New Orleans, Houston e San Antonio (e Austin, por apenas um dia), tivemos que retornar a New Orleans para pegar nosso avião de volta ao Brasil. No entanto, chegamos antes do que havíamos previsto, com muitas horas sobrando até o nosso embarque, e então resolvemos tentar assistir a mais um jogo do Pelicans, dessa vez contra o Indiana Pacers. Estacionamos o carro alugado com o qual atravessamos o Texas num enorme conjunto de estacionamentos cobertos ao lado do ginásio que, para nossa surpresa, estavam totalmente abertos ao público, gratuitos. Fomos até a bilheteria com o jogo já começado, no meio do primeiro quarto, e esperávamos pegar os ingressos mais baratos que encontrássemos, sem restrição de lugar. Foi aí que nos ENTREGARAM dois ingressos gratuitamente, nas arquibancadas superiores, numa tentativa de encher um ginásio que estava quase completamente vazio. Vimos três quartos de um excelente jogo, dessa vez com Anthony Davis em quadra, por um total de ZERO REAIS. É a diferença de escolher uma cidade menos badalada ao invés dos tradicionais Miami e Orlando, em que a NBA faz parte do “pacote turístico”: dá pra economizar demais nos ingressos, especialmente se você topar o risco de chegar em cima da hora.

E aqui vem uma dica importante sobre ESCOLHA DE LUGARES NOS GINÁSIOS: ao longo da viagem vimos partidas em muitos pontos diferentes, incluindo espaços destinados exclusivamente à imprensa. Alguns são melhores, outros são piores, mas dentre os que experimentamos não há uma diferença tão gritante assim de qualidade entre eles. Imagino que sentar à beira da quadra seja algo mais único – ainda não tivemos essa sorte, estamos aguardando ganhar na loteria – mas os demais lugares apresentam todos vantagens e desvantagens que, muitas vezes, não condizem com o abismo de preço entre eles.

No caso do ginásio do Pelicans, vimos os dois extremos: foram os ingressos mais próximos da quadra (atrás da cesta, contra o Wizards) e também os mais distantes (na arquibancada superior, também atrás de uma cesta, contra o Pacers). Os ingressos mais distantes ainda eram perto o suficiente, era possível ver o jogo com detalhes e davam uma visão excelente do espaçamento e da movimentação dos times; em casos mais específicos, é possível abrir mão da quadra e dar uma checada nos constantes replays no telão.

Os assentos mais próximos ofereciam uma sensação diferente, mas não necessariamente melhor; embora algumas pessoas discordem, achei os lugares bem no alto incríveis e faria tranquilamente essa economia se ela significasse assistir a mais jogos ou até mesmo viabilizar a viagem. Acho interessante experimentar outros assentos, se você tiver a oportunidade, mas não deixe que isso sufoque seu orçamento: estar lá no alto é muito mais perto do que as fotos fazem parecer e pode significar aumentar o número de jogos que você pode assistir – especialmente se você aceitar cidades, equipes ou confrontos menos badalados.


Ao todo, tirando a noite em que chegamos no aeroporto e a manhã em que nos dirigimos à rodoviária para partir para o Texas, passamos 3 dias inteiros em New Orleans. Ainda havia muito mais para ver – e muito mais música para ouvir – mas era hora de conhecer Houston, lar do meu Houston Rockets. Na terceira parte de nosso guia teremos histórias sobre nosso primeiro Airbnb nos Estados Unidos, nossa primeira cobertura de um jogo como imprensa, rivalidades locais e até a NASA. Até lá!

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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