🔒O que significa ser um “All-Star”?

Já estamos cansados de saber que definir um All-Star é tarefa das mais difíceis, tendo em vista a ausência de critérios adequados para isso. Os titulares são escolhidos pelos fãs, com critérios que vão da noção vaga de “melhor” à subjetividade do “preferido”, passando pelo nacionalismo da China ou da Geórgia. Os reservas são escolhidos pelos técnicos de suas conferências, com critérios que misturam aleatoriamente o desempenho da equipe na temporada, a quantidade de jogadores de cada posição, o legado na carreira, o afeto pessoal e muitos outros intangíveis. A escolha dos times “All-NBA”, que acontece ao fim da temporada, é confuso mas ligeiramente mais adequado para quem está preocupado com uma lista meritocrática dos melhores. O All-Star não tem essa função, não tem essa pretensão e não passa de uma grande festança de confraternização.

Tendo dito isso, o que significa ser escolhido para um All-Star, não em critérios conceituais, mas na prática? Que diferença isso faz para o jogador, para a Liga e para os fãs? É isso que proponho tentar definir, já que é o que existe de valor real para todos os envolvidos nesse fim de semana comemorativo.

O primeiro impacto de ser escolhido para um All-Star Game é a diferença que isso faz na percepção do público leigo ou quase-leigo. Aquele torcedor que só acompanha as Finais, que só assiste os jogos realmente importantes, que só assiste um ou outro jogo do seu time do coração, ou até mesmo o fã menos casual que assiste basquete toda semana mas só pode acompanhar os jogos que passam na televisão (que são escassos tanto aqui como lá nos Estados Unidos) não têm como saber quais são todos os jogadores relevantes da temporada. Um fã que assiste eventualmente até com certo afinco corre o risco de não saber quem é Isaiah Thomas, Kyle Lowry ou DeMar DeRozan; pode ter ouvido falar mas nunca ter assistido de fato uma partida de John Wall ou Al Horford; pode ter visto apenas uma mísera atuação do Andre Drummond e ter uma impressão errada de seu jogo.

[image style=”fullwidth” name=”on” link=”” target=”off” caption=”O fã casual nunca iria saber quem é LaVine durante sua vida se ele não enterrasse como um alienígena”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Lavine.jpg[/image]

Somos tão envolvidos com o esporte, vendo (ou querendo ver) tantos jogos por semana, acompanhando estatísticas e números e textos e discussões que esquecemos que um fã que dedique à NBA apenas um tempo limitado semanal é obrigado a conhecer muitos times e jogadores apenas por “ouvir dizer”, ficando preso às opiniões de terceiros, impressões à primeira vista e muitas vezes sem saber quem é o jogador bom mas que não tem seu nome estampado nas chamadas dos grandes portais. Nessas horas, mesmo que por pouco tempo, é possível ver estrelas mais “obscuras” em ação. Sabiam que Paul Millsap tem mais participação nas jogadas da sua equipe (somando pontos, rebotes, assistências, roubos e tocos por posse de bola da equipe) do que qualquer outro jogador da história? Pois bem: é a chance do coitado ter seus poucos minutos de fama e, com sorte, impressionar os fãs que não sabem do que ele é capaz. Para o fã leigo ao moderado, o All-Star Game possibilita que o jogador entre em definitivo no “radar”, que mostre seu talento, e que faça parte das conversas futuras.

Isso tem um impacto enorme no reconhecimento de MERCADO dos jogadores. Quanto mais conhecidos pelos fãs casuais, mas a cara deles passa a valer dinheiro quando associada a produtos. Contratos com grandes marcas esportivas, tênis, camisetas ou qualquer outra bugiganga dependem da entrada desses jogadores no imaginário popular, algo que o All-Star Game é muito eficiente em fazer. Depois de uns anos escondido do grande público, ser MVP do All-Star Game finalmente colocou Kyrie Irving na boca do torcedor comum, com as expectativas adequadas à sua conquista.

Para os jogadores titulares isso é ainda mais importante, porque a votação popular serve como TESTE de mercado. O jogador descobre quão popular ele é fora de sua restrita zona geográfica local. Vários jogadores assinam contratos publicitários com as cidades ou estados de seus times, coisas pequenas que vão de lavanderias a empresas de jardinagem, mas ser escolhido titular por centenas de milhares de pessoas do mundo todo abre as portas para contratos de escola nacional ou global, o que é importante para que algumas estrelas possam se manter a longo prazo para além do basquete, quando suas carreiras estiverem encerradas.

Há também o impacto que a participação nos eventos do All-Star têm para suas carreiras como jogadores de basquete mesmo. Não que os times da NBA mudem sua percepção de algum jogador por conta de seu desempenho no jogo de domingo, mas os participantes do desafio de habilidades e do campeonato de três pontos estão verdadeiramente desfilando suas capacidades como ESPECIALISTAS, e os times da NBA estão tomando nota. Jogadores menores podem conseguir mais espaço por conta de seus resultados; jogadores maiores podem não apenas ostentar a vitória perante seus companheiros de esporte como também reivindicar melhores contratos, mais espaço, mais situações de arremesso, etc. É por isso que jogadores verdadeiramente TENTAM ganhar o campeonato de 3 pontos, porque estão mostrando uma capacidade real que os times almejam e podem comparar-se com outros especialistas de arremesso. E é também por isso que o campeonato de enterradas tende a ser mais esvaziado, porque a habilidade de enterrar não é algo realmente procurado por nenhuma equipe em sã consciência, e um jogador que só saiba enterrar não teria espaço em nenhuma equipe do planeta, ao contrário de um arremessador puro. Não tendo muito a ganhar com a participação no campeonato de enterradas, o evento tende a ter jogadores mais jovens, desconhecidos ou de fundo de banco, que buscam apenas algum tipo de visibilidade para fora das quadras e, com sorte, algum contrato publicitário interessante.

[image style=”fullwidth” name=”on” link=”” target=”off” caption=”O campeonato de 3 pontos rendeu muitos empregos para o Jason Kapono, que nem sabe jogar basquete”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Kapono.jpg[/image]

A NBA sabe disso é portanto tenta ajudar o campeonato de enterradas com uma premiação consideravelmente mais gorda. Enquanto o campeão da disputa de 3 pontos leva 50 mil dólares para casa, o campeão de enterradas leva o dobro, 100 mil doletas. Mais um motivo para a competição de enterradas atrair tantos jogadores jovens: se 100 mil não passam de um trocado para um jogador como Kevin Durant, que assinou um contrato de 300 milhões com a Nike, são uma quantidade enorme de dinheiro para um jogador nos seus primeiros anos de contrato. Participar do Jogo das Estrelas do domingo também gera uma graninha, 50 mil para cada vencedor e 25 mil para cada perdedor, embora isso realmente só seja financeiramente interessante para jogadores que vão para o All-Star muito cedo, ainda nos seus contratos de novato.

Para esses jogadores, inclusive, o All-Star tem um incentivo adicional. Jogadores nos contratos de novato que tenham sido escolhidos como titulares do All-Star Game por dois anos, ou sejam eleitos MVP de uma temporada, ou sejam escolhidos para algum time “All-NBA” duas vezes, podem assinar uma extensão máxima de contrato que ocupe 30% do teto salarial da equipe, ao invés dos 25% habituais. Essa regra, chamada de “Derrick Rose rule” para os íntimos (ao invés do burocraticamente monótono nome de “Critério máximo de 30% no 5º ano, como consta no livretinho de regras), foi criada a tempo de beneficiar Derrick Rose, que acabara de ser MVP pelo Bulls. Desde então Paul George já se beneficiou da regra também, tendo sido escolhido duas vezes para terceiro time “All-NBA”.

Mas os primeiros que poderiam se beneficiar dessa regra sendo escolhidos como titulares para o All-Star Game duas vezes eram Kyrie Irving e Anthony Davis – dois que tinham tudo para conseguir a marca e engordar seus bolsos, mas que acabaram perdendo o benefício. Irving sequer foi para o evento nessa temporada depois de ter sido MVP no ano anterior, enquanto Anthony Davis foi chamado apenas como reserva. Agora, Irving só recebe o bônus se for MVP dessa temporada – hahahahaha – e Anthony Davis recebe caso seja escolhido para algum time “All-NBA”, algo que pode acontecer e que fará com que ele voe no restante da temporada: a diferença de contrato caso percam o bônus pode chegar a 23 milhões de dólares!

[image style=”fullwidth” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Sem o All-Star Game, nunca saberíamos quem é esse tal de LeBron aí”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/LeBron1.jpg[/image]

Um outro estranho benefício de ser chamado para o All-Star, especialmente para estrelas consagradas, é que os participantes do jogo de domingo estatisticamente possuem uma diminuição nos seus minutos de jogo nas partidas restantes após o evento até o final da temporada. É claro que o fato de que essas estrelas tendem a estar em times melhores que podem se dar ao luxo de descansar suas estrelas ajuda na conta, mas analisando os números parece haver um certo “status” de estrela consolidado pelo All-Star Game que coloca esses jogadores numa posição de serem poupados com mais frequência – o que, para quem reclama de ter que jogar uma partida a mais por conta do cansaço, parece compensar no fim da conta.

Em suma, o All-Star Game não vale para nada, mas ainda assim pode valer milhões em contratos para novatos, garantir emprego de jogadores secundários, gerar contratos publicitários, colocar jogadores menores no mapa para os torcedores médios e ainda gera um trocado para os envolvidos. Enquanto isso, a NBA ganha com uma movimentação OBSCENA de dinheiro, a venda de sua imagem global, e a entrada em lares que de outra maneira não conheceriam basquete. Até mesmo quem odeia as festividades deve admitir que ela atrai pessoas para o esporte – e, especialmente no Brasil, quanto mais gente estiver assistindo NBA, melhor para o nosso mercado, para os nossos eventos, e até para os blogs que se dedicam ao esporte. No fim, todo mundo ganha com o evento – a diversão eventual é só um bônus bacana, capaz de ainda nos extrair um sorriso do rosto mesmo quando já estamos calejados de tantos anos de NBA.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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