Os azarões do Oeste

Com a NBA pronta para retornar suas atividades no dia 30 de julho, já é hora de analisar o que ainda teremos de temporada regular, ou seja, os 8 jogos que restam para cada equipe nessa versão encurtada pela pandemia. Como são apenas 8 jogos e o sétimo colocado na Conferência Oeste, o Dallas Mavericks, tem 8 vitórias de vantagem sobre o oitavo colocado, podemos dizer que as 7 primeiras vagas já estão decididas – resta, claro, decidir em que ordem cada time nessas posições se classificará. Sem mando de quadra, já que a NBA retorna em quadra neutra em um famoso parque de diversões com bichos que falam, a disputa entre essas equipes não deve ser tão importante assim. Mas a luta pela oitava vai ser UMA BAGUNÇA IMPERDÍVEL: são 6 times brigando por essa última chance de classificação, lembrando que caso a distância entre o oitavo e o nono colocados não seja maior do que 4 partidas, teremos o TORNEIO COLHER DE CHÁ, em que essas duas equipes se enfrentarão e o nono colocado, vencendo duas partidas seguidas, abocanha a vaga. Na semana passada já analisamos as chances dos azarões do Leste, então agora é a hora de conversarmos sobre os 6 azarões do Oeste, os times que brigam pela oitava colocação e que terão a ingrata tarefa de enfrentar Lakers (ou Clippers, se acontecer alguma coisa bizarra) na primeira rodada dos Playoffs. Vamos lá?


Grizzlies (32-33)

Enfrentam: Blazers, Spurs, Pelicans, Jazz, Thunder, Raptors, Celtics, Bucks

Minha matemática é medonha, mas quem sabe contar afirma que o Grizzlies garante ao menos sua presença no TORNEIO COLHER DE CHÁ com míseras 2 vitórias em 8 jogos; pra escapar do TORNEIO COLHER DE CHÁ e se classificar direto, precisa vencer 6 jogos. Ou seja, o time é o favorito para chegar à pós-temporada, e acabou se beneficiando da pausa repentina: desde a troca que trouxe Justise Winslow, o técnico Taylor Jenkins ainda não teve a chance de testar seu suposto quinteto titular por conta de uma série de lesões, que agora ficaram para trás. Jaren Jackson Jr. e Brandon Clarke estão saudáveis, a comissão técnica teve bastante tempo para explicar o esquema tático para Winslow, e a troca – que foi uma aposta um tanto arriscada olhando para o futuro – tem mais chances de trazer resultados imediatos depois desse respiro da parada do que teria se a temporada tivesse simplesmente continuado normalmente. Teremos uma chance real de ver como o Grizzlies será pelos próximos anos, e se for como nos melhores momentos da temporada até aqui, podemos esperar um time extremamente divertido, agressivo, criativo e um dos mais velozes da NBA. Será um bom teste para esse elenco que, contrariando todo e qualquer BOM SENSO, foi parar muito mais longe do que deveria, venceu uns jogos que não faziam nenhum sentido e aprendeu a ACREDITAR QUE DÁ muito antes do que o processo de reconstrução imaginava.

Para tornar esse teste mais interessante, o Grizzlies enfrenta logo de cara três rivais diretos que estarão sedentos pela oitava vaga: Blazers, Spurs e Pelicans são as três primeiras partidas da equipe em Orlando. Vencer dois desses três jogos teria efeito duplo, então, ao mesmo tempo garantindo as vitórias necessárias e retirando as chances das demais equipes – especialmente de Blazers e Pelicans, os outros dois favoritos para arrumar uma vaga nos Playoffs. Por outro lado, perder dois desses três jogos pode ser uma baita ducha de água fria e forçar o Grizzlies a reconsiderar suas expectativas. Ja Morant e Jaren Jackson Jr são espetaculares e parecem funcionar bem juntos, mas quão cedo podemos esperar resultados concretos – e portanto, quão cedo a diretoria deveria considerar tapar os buracos da equipe, com trocas ou veteranos, por exemplo – vai depender desses primeiros jogos e da chegada ou não à pós-temporada. Dar minutos de Playoffs para um armador em seu primeiro ano de NBA pode ser transformador e não é qualquer time que consegue se dar esse luxo. O Grizzlies não precisa vencer, já chegou mais longe do que deveria, mas é difícil imaginar um time que seria mais beneficiado de poder ter uma experiência de Playoffs tão cedo na carreira de seus jogadores.


Blazers (29-37)

Enfrentam: Grizzlies, Celtics, Rockets, Nuggets, Clippers, Sixers, Mavs, Nets

O Blazers é quase o caso oposto ao do Grizzlies: é um time que por tudo que fez, pela temporada passada, pelos seus gastos, pelo salário dos seus jogadores, deveria sem a menor sombra de dúvidas estar nos Playoffs da Conferência Oeste. Mas é um time que nas últimas temporadas teve sérias limitações em quadra e não teve qualquer chance de segurar o baque que foi perder seu pivô, Jusuf Nurkic, por 15 meses, e mais seu pivô reserva (ou ala de força titular, talvez), Zach Collins, por mais 8 meses. Some a essas ausências uma das piores defesas de perímetro da NBA, uma das que mais cede bolas de três pontos, e o resultado é um time que perde muito mais do que uma passada de olho pelo elenco (e pelo seu histórico) permitiria indicar.

 

Em Orlando, a coisa se complica porque o time não contará com Trevor Ariza, fragilizando ainda mais a defesa de perímetro, e o calendário não será nenhum passeio no parque. Tirando o Grizzlies, que é um confronto direto logo na abertura da temporada, e o Nets, um último jogo que o Blazers tem A OBRIGAÇÃO MORAL de vencer, todos os outros jogos são potenciais pedreiras. A esperança? Nurkic e Zach Collins podem estar completamente sem ritmo de jogo, mas estarão de volta; além disso, Damian Lillard e CJ McCollum são jogadores que podem simplesmente vencer jogos aleatórios, arrancar vitórias improváveis, e eles só precisam fazer isso um punhado de vezes – e contra o Grizzlies, de preferência – para de repente estarem no TORNEIO COLHER DE CHÁ sem a gente nem perceber.

Se essa volta da NBA é uma assumida TERRA DE NINGUÉM, em que todos os times estão desconfortáveis, fora de ritmo e sem mando de quadra, ninguém melhor para assumir a terra do que jogadores como Lillard, que acertam sequências randômicas de bolas do meio da quadra e que estão acostumados a vencer alguns jogos no puro talento bruto. É por isso que o Blazers, apesar de estar longe de ser favorito, é talvez o time mais assustador de se enfrentar nos Playoffs dentre essa leva de azarões. Grizzlies e Pelicans não tem muitas chances contra o Lakers numa primeira rodada, por exemplo, mas o Blazers tem sempre esse potencial de surpreender e não fazer muito sentido. Se Nurkic conseguir um retorno às quadras em alto nível, eu não devo tirar meus olhos do Blazers nem por um segundo. Se rolar um milagre, quero garantir que eu esteja vendo.


Pelicans (28-36)

Enfrentam: Jazz, Clippers, Grizzlies, Kings, Wizards, Spurs, Kings, Magic

O Pelicans é, disparado, o time mais PREJUDICADO pela pausa da NBA por conta da pandemia. Vinha em grande fase desde que Zion Williamson finalmente retornou da lesão que o tirou da maior parte da temporada, ganhou 11 dos últimos 18 jogos antes da parada, e além disso tinha o calendário mais MAMATA de toda a NBA, recheado de equipes do Leste e com times abaixo dos 50% de aproveitamento. Esse calendário fácil ainda se reflete nos 8 jogos que sobraram – com jogos contra Grizzlies, Wizards, Magic e duas vezes contra o Kings, é fácil de argumentar que eles tem a maior quantidade de jogos fáceis entre todos os times nesse retorno, mas essa facilidade, condensada em apenas 8 partidas, é muito menor do que a versão normal da temporada que não existe mais. Fora isso, a pausa deu a chance de Grizzlies e Blazers, os times mais fortes na briga pela oitava vaga, reabilitarem jogadores lesionados e voltarem mais fortes do que estariam sem o intervalo – até o Kings, que é mais café-com-leite, volta mais forte do que estava. Matematicamente, a tendência era que o Pelicans assumisse a oitava posição do Oeste naturalmente, aos poucos, ao longo de quase 20 partidas; agora, na temporada reduzida, o Pelicans vai ter que conquistar seu espaço na força, sem muito espaço para erros.

A esperança do Pelicans – e o motivo de desespero dos times que vão enfrentar o Pelicans nesse retorno – é que a equipe que veremos em Orlando não tem muito a ver com o time que somou apenas 26 vitórias ao longo da temporada regular até aqui. O quinteto titular ideal, com Lonzo Ball, Jrue Holiday, Brandon Ingram, Zion Williamson e Derrick Favors é, em pontos feitos e tomados, um dos melhores da NBA, mas teve pouquíssimas chances de jogar junto por conta da lesão de Zion. Aliás, sem ele o Pelicans teve muita, muita dificuldade em descobrir quais eram seus quintetos ideais, fez muitas experimentações e acabou, com isso, pagando o preço da falta de estabilidade e de uma ausência grande de padrão de jogo. Com Zion o time agora tem uma identidade mais clara e Lonzo Ball tem uma função mais específica (e melhor aproveitada). Ainda é um mistério como tirar, nesse quinteto, o melhor de Ingram, e ainda existem ajustes a serem feitos com relação à defesa de Favors quando apoiado por Zion, mas são problemas muito menores do que aqueles que o time tinha no começo da temporada. Possivelmente o Pelicans é o melhor e mais pronto time dentre os azarões, mas as limitações ainda são evidentes e faltou para a equipe tempo para descobrir como fazer ajustes e expandir o repertório – ter menos jogos para arrumar a casa talvez doa mais para o Pelicans do que não poder se aproveitar tanto do calendário fácil. Ainda assim, o Pelicans é o time mais empolgante desse retorno, eles se sentem prejudicados e querem conquistar a oitava vaga na unha, e podem conseguir se o quinteto titular ficar em quadra o máximo possível. Vão ser jogos imperdíveis, especialmente para quem quer contar para os netos que viu Zion desde o comecinho – aproveite agora pra poder ser hipster depois.


Kings (28-36)

Enfrentam: Spurs, Magic, Mavs, Pelicans, Nets, Rockets, Pelicans, Lakers

O Kings é mais um time que acabou se aproveitando da pausa para receber de volta jogadores que estavam lesionados. Marvin Bagley, que perdeu mais de 20 jogos na temporada, diz estar em excelente forma física, e Corey Brewer também voltará às quadras. Além disso, De’Aaron Fox, que finalmente parecia saudável nas últimas partidas da temporada depois de batalhar contra lesões desde o ano passado, conseguiu usar esse tempo para consolidar sua saúde. E De’Aaron Fox saudável faz toda, TODA diferença para esse time: ele foi um dos principais responsáveis pela boa fase que o Kings estava vivendo, com 10 vitórias nas últimas 15 partidas antes da pausa.

Apesar da interrupção na sequência feliz do time, a pausa por conta da pandemia foi bastante benéfica para as chances – ainda que pequenas – do time. O calendário do Kings era complicado e matematicamente eles teriam que conquistar uma sequência de vitórias que pouquíssimos times foram capazes ao longo da temporada para conseguir roubar uma oitava vaga. Agora, com a retomada, o Kings tem um calendário bem mais fácil – e com o adendo de enfrentar o Pelicans duas vezes, ou seja, aumentando suas chances de ficar com a nona vaga para disputar o TORNEIO COLHER DE CHÁ. Essa é a boa notícia: o Kings meio que depende apenas de si mesmo, enfrentando times mais fracos (Spurs, Magic, Nets), o Pelicans duas vezes, e o Lakers – o pior time da Conferência pra se enfrentar – apenas na última rodada, quando provavelmente a equipe de Los Angeles não vai estar disputando coisa nenhuma e possivelmente esteja descansando seus jogadores, que ficarão no hotel jogando ping-pong (mas não em duplas, porque não pode).

E essa é também a má notícia: quando foi que o Kings dependeu apenas de si mesmo e conseguiu NÃO ESTRAGAR TUDO? O Kings é um dos times da NBA mais especializados em estragar a própria vida; mesmo em seus melhores momentos da temporada, o time ainda não conseguiu a mesma fluidez ofensiva que tinha na temporada passada sob comando de Dave Joerger, que eles mesmos demitiram, ainda tateia por uma identidade e os jogadores ainda não sabem quais são suas funções e as expectativas da comissão técnica – poucos times tentaram tantas combinações diferentes de quintetos, sem encontrar nada que inspire confiança ou mostre consistência estatisticamente. Pode ser que aconteça agora, que o Kings ache sua rotação, invente uma identidade, receba seus jogadores saudáveis, atropele todo mundo e vá parar nos Playoffs? Até pode. Mas aí a gente lembra que é o Kings. Então não pode.


Spurs (27-36)

Enfrentam: Kings, Grizzlies, Sixers, Nuggets, Jazz, Pelicans, Rockets, Jazz

Sou velho; não estou acostumado a dizer que o Spurs é azarão pra nada, na minha cabeça eles são sempre favoritos e se eu piscar duas vezes de repente o time ganhou um título e eu é que não percebi quão evidente era. Mas os tempos estão mudando: esse projeto camuflado de reconstrução não deve ir para os Playoffs pela primeira vez desde 1997, especialmente porque um time já muito limitado, sem jogadores experientes o bastante, não contará em Orlando com LaMarcus Aldridge, que optou por operar seu ombro durante a pausa da temporada. E mesmo se o time arrumar pontos de algum lugar e mantiver a produção no perímetro sem ele – bizarramente, Aldridge é o jogador com melhor aproveitamento nas bolas de três pontos no Spurs dentre os que tentam pelo menos dois desses arremessos por jogo – ainda temos o problema defensivo, que o time simplesmente parece não ter material humano suficiente para resolver. Na tentativa de proteger o aro sem ter jogadores bons o bastante para isso, o Spurs tem uma das piores defesas de toda a NBA, é um dos times que mais toma bolas de três pontos na cabeça e um dos times que cede o melhor aproveitamento nesses arremessos de fora – receita fantástica para o fracasso numa liga em que todo mundo é especialista em arremessos do perímetro. Quando a gente soma isso ao fato de que o Spurs é o segundo time que menos tenta bolas de três, chegamos a uma conta que não fecha: não dá pra tomar bola de três pontos de um lado da quadra e responder do outro com uma bolinha de dois.

O técnico Gregg Popovich vai estar na bolha, acredita no potencial do seu time, mas sabe muito bem que esse pequeno retorno é mais sobre continuar desenvolvendo o núcleo jovem do time (Dejounte Murray, Derrick White, Jakob Poeltl e Lonnie Walker IV) do que sobre conseguir resultados imediatos. É o Spurs, talvez eu pisque e eles sejam campeões, mas eles precisariam de um resultado impecável nesse retorno que simplesmente NÃO FAZ SENTIDO – é sempre legal ver o Spurs existir na vida (eu assistiria esse time fazer compras, com o Popovich gritando na porta), mas no Oeste, nesse momento, eles vão estar presentes apenas pra fazer figuração.


Suns (26-39)

Enfrentam: Wizards, Mavs, Clippers, Pacers, Heat, Thunder, Sixers, Mavs

Oh, Suns. Que desperdício. Desperdício de talento, que o Devon Booker não merece isso. Desperdício de testes para o coronavírus, porque esse time vai ter que entrar na bolha mesmo sem ter NENHUMA CHANCE. Desperdício de gasolina, porque um avião vai ter que levar esse time para Orlando. Desperdício do nosso tempo, que vamos acabar vendo algum jogo do Suns e vamos preferir ter enfiado garfos nos olhos. Oh, Suns, por favor, faça como Kelly Oubre Jr. e fique em casa. Diga que é pela segurança sanitária. Diga que é um protesto social. Diga que deu diarreia. Diga que seguiu o pedido da Pabllo Vittar para Aracaju. Diga o que precisar, mas fique em casa. Fique em casa.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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