Um lugar na História para Russell Westbrook

Com o retorno da temporada regular, o Bola Presa também retorna ao seu cronograma de posts original, estabelecido desde o início das assinaturas na temporada passada. Sempre que possível, o blog seguirá o esquema abaixo, reorganizado para nossa rotina atual:

Segundas-feiras: um post do Danilo, aberto a todos os leitores.

Terças-feiras: nosso “Filtro Bola Presa” semanal exclusivo para os assinantes, com todas as informações relevantes que não viraram post no blog, resumindo tudo que você precisa saber sobre a NBA na semana anterior, com os comentários e análises da equipe Bola Presa.

Quartas-feiras: um post eventual sortido, aberto a todos os leitores –  seja o “Both Teams Played Hard”, em que respondemos a algumas questões dos leitores em texto, seja outras seções futuras.

Quintas-feiras: um post do Denis, aberto a todos os leitores.

Sextas-feiras: o nosso podcast semanal, aberto a todos.

Fins de semana: um post especial, fechado para assinantes, e uma vez por mês (em geral no comecinho do mês) o podcast especial temático (só para os assinantes a partir de 14 reais).

Com o cronograma estabelecido, agora vamos para o basquete! 😉


Não restavam muitas dúvidas de que Russell Westbrook teria uma temporada 2016-17 estatisticamente espetacular em Oklahoma. Além do fator óbvio que foi a ida de Durant para Golden State, deixando Westbrook como o comandante absoluto do navio, o histórico do armador mostra que deixar uma equipe inteiramente sob sua responsabilidade é sinal de que triple-doubles se aproximam. Na temporada 2014-15, com Kevin Durant lesionado e Westbrook tentando na unha levar o Thunder aos Playoffs, foram 11 triple-doubles para o armador, incluindo 4 CONSECUTIVOS na reta final mesmo jogando com ossos da face fraturados e uma cirurgia de emergência. Na temporada passada, que Durant começou com uma insistente lesão na coxa, Westbrook conseguiu dois triple-doubles seguidos ainda nos primeiros 15 dias de basquete rolando, e acumulou a absurda marca de DEZOITO triple-doubles durante a temporada regular.

Esses números são ainda mais impressionantes quando os colocamos em perspectiva: na temporada em que fez 11 triple-doubles, o segundo colocado, James Harden, alcançou apenas 4; na temporada dos 18 triple-doubles, Draymond Green teve a temporada da vida e alcançou 13, com Rajon Rondo conseguindo 6 e Giannis Antetokounmpo, a máquina-de-fazer-tudo-em-quadra, conseguindo 5. Esses 18 triple-doubles, aliás, são uma marca histórica: nos últimos 50 anos (o que é uma excelente maneira de excluir da conta Oscar Robertson, o único jogador a ter um triple-double de média POR JOGO numa temporada), Wilt Chamberlain conseguiu uma temporada com 31 e outra com 22 triple-doubles nos anos 60, e abaixo dele aparecem Magic Johnson em 1981-82 e Westbrook na temporada passada, ambos com 18 triple-doubles. Para além de qualquer conversa sobre eficiência ou estratégia, é inegável que os números que Russell Westbrook consegue em quadra quando está no comando o colocam entre os grandes do basquete.

Com isso em mente, não é surpresa que ele esteja preenchendo as tabelas com números incríveis no começo da temporada, mas o volume das estatísticas e o fato de que Westbrook começou com intensidade total não na reta final da temporada, mas no PRIMEIRO DIA DE BASQUETE, é inegavelmente surpreendente. Nas primeiras três partidas Westbrook já conseguiu dois triple-doubles, além de um jogo com 51 pontos e outro com 16 assistências. As médias nesses três jogos são de chorar na calçada: 38.7 pontos, 12.3 rebotes e 11.7 assistências. Westbrook agora é o primeiro jogador da História do planeta a somar mais de 100 pontos, 30 rebotes e 30 assistências ao longo de 3 partidas seguidas. Tem mais: com esses dois triple-doubles novos, Westbrook chegou aos 39 na carreira, deixando os 28 de Jordan bem para trás e se aproximando dos 43 de LeBron James rumo à sexta posição, atrás apenas dos 59 de Larry Bird, os 78 de Wilt Chamberlain, os 107 de Jason Kidd, os 138 de Magic Johnson e os insuperáveis (por questões históricas) 181 de Oscar Robertson. Estamos falando apenas dos 7 jogadores mais COMPLETOS da história do basquete e Westbrook, que nunca pareceu fazer parte desse clube seleto, caminha a passos largos para deixar alguns desses jogadores para trás na lista de triple-doubles. Nas circunstâncias atuais, não seria absurdo nenhum que superasse Bird num futuro próximo e talvez Chamberlain em algum momento da carreira. E isso, claro, figurando sempre entre os 10 maiores cestinhas da NBA.

Esses números todos, entretanto, contrastam com a percepção que Russell Westbrook ainda recebe na NBA. Seus turnovers e seu estilo agressivo de atacar a cesta e forçar arremessos são o oposto de qualquer político de eficiência que vemos em prática no basquete atual. Numa NBA que marginalizou Kobe Bryant pelo excesso de arremessos, os 44 que Westbrook tentou contra o Suns em sua segunda partida dessa temporada, novo recorde pessoal para o armador, parecem vindos de um passado distante. Apesar das 3 vitórias em 3 jogos para o Thunder, e da franquia realmente trabalhar com a hipótese de alcançar os Playoffs nessa temporada, ainda que sem mando de quadra, é difícil imaginar no basquete atual uma equipe com chances de título e um jogador obrigado a arremessar tantas bolas, jogar tão consistentemente em intensidade máxima, e gerando tantos desperdícios de bola frutos desse excesso de intensidade e velocidade. Do ponto de vista da narrativa, Westbrook é um herói solitário que tenta carregar um time mediano nas costas, compensar a partida de Durant e manter-se fiel a seu estilo, aos seus torcedores e à sua cidade – é a jornada do homem que, fiel a si mesmo e aos outros, alcança seus objetivos contra as maiores adversidades. É uma história deliciosa de se acompanhar e que torna Westbrook um dos personagens centrais dessa temporada, seja como herói ou como vilão. Ele representa todos aqueles que foram dispensados por seus namorados e continuaram fazendo o que sempre fizeram; todo adolescente que acredita no próprio potencial, nos próprios métodos e no seu instinto contra os alertas, restrições e avisos da sociedade; todo personagem de desenho japonês que, aparentemente fracote, encontra forças dentro de si (ou no cosmos, ou nas forças ninjas, ou no que quer que seja) para cumprir seu destino e salvar o mundo. Mas é claro que ele também representa todos os namorados histéricos que continuam fazendo cagadas sem auto-crítica; todos os adolescentes teimosos que se acham a última bolacha do pacote sem entender as regras do mundo; todo herói japonês que destruiu Tóquio com seu robô gigante só pra vencer um alienígena boboca. Por qualquer ângulo que se olhe, Westbrook é herói e vilão e após esse início de temporada, tudo que ele fizer será automaticamente engolido por essa narrativa e contribuirá para construir esse legado. Não apenas nos números mas também na “novelinha”, Westbrook parece ter entrado definitivamente na História da NBA de um modo tal que explicar no futuro quem foi esse jogador que somou tantos triple-doubles não será tão estranho. Ele já não corre mais o risco de ser Fat Lever.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Surpresa: Fat Lever não era gordo”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Fat.jpg[/image]

Fat Lever, apelido de Lafayette Lever, foi um jogador da NBA nos anos 80 que está atualmente empatado com LeBron James com 43 triple-doubles totais na carreira. Mais do que isso, Lever é o único jogador da HISTÓRIA a ter médias finais na carreira de mais de 13 pontos, 6 rebotes, 6 assistências e 2 roubos de bola. Ainda assim, sua trajetória na NBA foi bastante discreta, sem grandes eventos. Nenhuma história polarizante colocou Lever em definitivo no imaginário das pessoas – ele se tornou, para sempre, o cara “trivia”, aquele que cai em pergunta difícil do “Show do Milhão”. Westbrook não: se tornou um personagem polarizante, amado e odiado, símbolo para muitos, e um jogador impossível de não acompanhar atentamente ao longo de toda a temporada. Se ele de fato levar o time aos Playoffs e calhar de enfrentar seu ex-companheiro Kevin Durant na primeira rodada, a narrativa vai DERRETER CÉREBROS e todo o tecido do espaço-tempo estará em perigo. Vai ter até programa de fofoca da TV brasileira falando sobre o causo.

No fundo, o Thunder sabe disso. Ao invés de uma reconstrução óbvia – aquela que deveria ter acontecido imediatamente assim que sua grande estrela Kevin Durant, prata da casa, saiu – o Thunder se aproveitou do fato de que a narrativa interna de Westbrook de “injustiçado”, “traído” e “fiel” o fez ficar na equipe e optou por não trocá-lo. Não porque isso lhes dê chances de título, porque não dá, e nem porque seja a escolha óbvia, porque reconstruir seria mais plausível, mas sim porque a HISTORINHA de Westbrook tentando sozinho coloca o Thunder no mapa, dá ao time não apenas relevância midiática mas também mostra aos outros jogadores da NBA que estar por lá, ao lado de Westbrook, pode valer a pena. Hoje o Thunder pulou integralmente nesse caminho ao enterrar qualquer chance de reconstrução próxima: extendeu os contratos de Victor Oladipo e Steven Adams, ambos na casa dos 100 milhões de dólares cada. Tudo que resta ao Thunder, agora, é manter essa equipe minimamente competitiva, brigar por uma vaga no Oeste, valorizar suas peças, e então tentar, através de trocas, cercar Westbrook de outros talentos. Não tem cheiro de um projeto muito esperto, mas definitivamente mantém o Thunder como um time interessante, memorável, um daqueles que nos lembraremos com carinho. Às vezes, não é preciso vencer para entrar para a História.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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